Historiador Ilan Pappe denuncia morticínio de Israel em Gaza

O historiador israelense Ilan Pappe afirmou, em sua participação na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que Israel comete “o genocídio mais televisionado da história” contra o povo palestino. O autor relatou ter sofrido pressão para que não participasse do evento.
Ilan Pappe, nascido em 1954 na cidade de Haifa, em Israel, é filho de judeus alemães que conseguiram fugir do Holocausto. O autor esteve na Flip para o lançamento dos livros “A maior prisão do mundo” e “Brevíssima história do conflito Israel-Palestina”.
Pappe relatou que ao começar a estudar a história de Israel e do conflito com a Palestina, “tudo o que encontrava nas minhas pesquisas contradizia dramaticamente o que havia ouvido dos meus pais e dos professores na universidade. Fui exposto a uma história bem diferente de Israel e da Palestina”.
Quando concluiu seu doutorado na Inglaterra e voltou para Israel, achava que “seria recebido de braços abertos”, mas amigos, parentes e acadêmicos rechaçaram suas descobertas. “Não me dei conta de que desafiar a narrativa histórica do meu próprio estado seria considerado uma traição. Isso foi um choque para mim”. Hoje, ele é professor da Universidade de Exeter, na Inglaterra, e diretor do centro de estudos palestinos.
Segundo contou, foi expulso da Universidade de Haifa porque decidiu manter-se alinhado ao que acreditava e aos estudos que realizava sobre a história de Israel.
O historiador afirmou que “os palestinos moram numa grande prisão desde 1967. Israel controla tudo em suas vidas. Eles vivem como detentos”.
A Faixa de Gaza foi criada por Israel como um “local onde poderiam forçar centenas de milhares de palestinos a permanecer. Eles criaram um mega campo de refugiados”.
O povo palestino resiste a “viver sob mísseis e em uma prisão a céu aberto”, mas “sua resistência é considerada por muitos governos, acadêmicos e jornalistas como terrorismo”.
Para ele, “devemos insistir em ensinar em nossas universidades que a resistência palestina é anticolonialista. Devemos insistir que nossa mídia não fale dos palestinos como terroristas, mas como anticolonialistas que estão lutando por uma vida sem uma ideologia que quer destruí-los”.
Pappe informou que “Israel lançou mais bombas sobre a Faixa de Gaza desde 2007 do que os aliados lançaram sobre a Alemanha na Segunda Guerra Mundial”.
Segundo avalia o autor, Israel deve sofrer sanções econômicas como forma de pressão, como o que ocorreu com a África do Sul na época do apartheid. “Se o Ocidente fizesse 50% do que está fazendo com a Rússia, criaria um grande problema para Israel”, disse.
O historiador diz que os locais alvo dos ataques de 7 de outubro de 2023, que mataram 1.200 pessoas em Israel, haviam sido construídos sobre as ruínas de vilas palestinas destruídas em 1967. “Isso não justifica a violência que foi praticada ali, mas é preciso tratar do contexto. As pessoas em Gaza vivem sob um regime que não se vê desde a Segunda Guerra Mundial”, afirmou. “Os palestinos estão em vias de extinção.”
Ilan Pappe vai dar uma palestra, na terça-feira (5), às 18h, na Casa de Cultura Japonesa da USP, na Cidade Universitária. A palestra é intitulada “Palestina: da maior prisão do mundo ao campo de extermínio”.
A organização judaica B’nai B’rith enviou para o diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Adrián Pablo Fanjul, uma carta pedindo que a participação de Ilan Pappe seja “reconsiderada” porque ele supostamente dissemina “discurso de ódio”. O diretor comentou que o pedido é “inédito”. O evento está mantido.
Na quarta (6), o historiador participará de um ato em solidariedade ao povo palestino na Faculdade de Direito da USP, no centro de São Paulo, marcado para as 10h.
Fonte: Papiro