Nas resoluções de nosso 15º Congresso, dedicamos um capítulo à necessidade do revigoramento partidário, com destaque especial para a estruturação partidária junto ao povo, constituindo uma rede orgânica e territorializada da nossa organização. Aponta a resolução que “O centro do trabalho de direção deve estar nas organizações de bases partidárias, capilarizadas nos territórios populares e setores estratégicos da luta, no sentido de transformá-las em polos de crescimento, de novos militantes e filiados, de espaços de organização das lutas e formação de lideranças”.

O Projeto de Resolução Política do 16º Congresso reafirma a linha de revigoramento partidário e a centralidade da construção de uma rede de organizações de base ao apontar a necessidade de “Elevar o nível da organização e atuação dos/as filiado/as, tendo como centro a Organização de Base, pilar estratégico do Revigoramento partidário, elemento essencial para estreitar a ligação do Partido com o povo e organizar o trabalho dos militantes e novos filiados. Num país do tamanho do Brasil, é necessário atuar através de milhares de núcleos de base, envolvendo-os nas deliberações dos projetos partidários e das entidades de massa. O esforço já iniciado no 15º Congresso deve ter continuidade através da Política Nacional de Fortalecimento das Bases e ser tarefa coletiva, cotidiana e perseverante”.

Tais exigências não são novidades para nós comunistas. Lenin, na obra “O Que Fazer”, já nos orientava que “Sem uma organização firme, não pode haver uma política firme. A célula (Organismo de Base) é o ponto de partida da construção revolucionária.” Onde se constitui um organismo de base do Partido, haverá direção e orientação à luta do povo. É através da organização de base que o Partido estabelece a ligação com as massas. Como já afirmou o dirigente comunista português, Álvaro Cunhal, “a organização de base é o elo mais direto com os trabalhadores. Sem ela, o partido se afasta das massas.”

Para compreendermos o quanto as organizações de base são vitais para o Partido, poderíamos aqui fazer uma analogia comparando a sociedade ao corpo humano. O corpo humano, para manter suas funções vitais, produz e consome energia, sendo a glicose sua principal fonte. A glicose, produzida no fígado, é transportada por meio do sangue pela insulina até as células. As células transformam a glicose em energia, que nos dá vitalidade. Quando o pâncreas não produz insulina ou as paredes celulares adquirem resistência à sua ação, a glicose não chega às células e o corpo se debilita. É o que ocorre com os corpos acometidos de diabetes.

Fundamentados na teoria marxista-leninista, nenhuma outra organização possui a capacidade que temos de compreender a realidade e de formular as políticas e as ações mais justas para que a sociedade pavimente o caminho para o socialismo. Para que estas nossas formulações sejam assumidas pelas massas e, como afirmou Lenin, se transformem em força material capaz de transformar a realidade, é vital que nossas políticas cheguem às massas. As Organizações de Base são a nossa insulina. Sem elas, nossa política não chegará às massas e não se transformará em energia transformadora. Sem uma forte rede de Organizações de Base, em que pese toda nossa capacidade de formulação, somos um corpo sem vitalidade.

Até meados dos anos 80, período em que vivemos duros períodos de clandestinidade, as então chamadas células ou aparelhos, constituíam-se também em um mecanismo de segurança, de forma que não só cumpriam o papel de relação com as massas, mas também de preservação da estrutura partidária diante da repressão. Com a conquista da legalidade, fomos aos poucos relegando a um segundo plano a tradição leninista de organizações de base, substituindo-a por outras culturas próprias de partidos tradicionais. Em especial, foi tomando corpo no Partido a ideia de construção de redutos eleitorais vinculados a candidaturas parlamentares. Também tomou corpo a atuação partidária orientada por concepções movimentistas, substituindo as organizações de base por coletivos das mais diferentes configurações.

Assumidamente, vários dirigentes intermediários têm se posicionado afirmando que, se é mais fácil organizarmos mulheres, jovens, educadores, ativistas de combate ao racismo ou da LGBTfobia, frações ou coletivos sindicais, do que estruturarmos o Partido nos territórios (vilas e bairros), nas escolas, fábricas, empresas, então vamos estruturar o Partido com organismos de mulheres, jovens, educadores, ativistas de combate ao racismo ou da LGBTfobia, frações ou coletivos sindicais.

Tais estruturas estão previstas em nosso estatuto como órgãos consultivos, compondo nossa estrutura horizontalizada, e têm por finalidade subsidiarem as direções quanto à formulação política para temas específicos e, consequentemente, favorecerem o nivelamento do conjunto partidário. Não cumprem e não cumprirão o papel dos Organismos de Base que, como estabelece o nosso estatuto, são o principal elo entre o Partido, os(as) trabalhadores(as) e o povo. Some-se ainda o risco, quando não se tem a estrutura verticalizada consolidada, de estruturas horizontalizadas acabarem se constituindo em direções paralelas, levando o Partido à fragmentação.

Os desafios para organizar o povo e as massas trabalhadoras são ainda maiores frente às profundas transformações ocorridas na sociedade brasileira nas últimas décadas. O Brasil, com uma concentração populacional predominantemente rural  50 anos atrás, conta hoje com 86% da população urbana. Aproximadamente 30% da população brasileira se aglomera nos 10 maiores centros urbanos e 20% está concentrada nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Distrito Federal e entorno. Capilarizar o Partido nos territórios, junto à população periférica é um desafio central.

No mundo do trabalho, nos defrontamos com reestruturação produtiva na era digital, a desconcentração da classe em grandes empresas, o crescimento exponencial do setor de serviços e as novas práticas de subcontratação, além da precariedade (uberização e pejotização) e a instabilidade do emprego, todos contribuindo para fragmentar o movimento operário, como aponta nosso Projeto de Resolução Política. Tais  condições nos desafiam a encontrar formas de organização dessas massas trabalhadoras e consequentemente formas de organização do Partido nessas camadas.

A conquista do socialismo exige um partido grande, estruturado e enraizado nas massas e por isso a construção partidária deve ser um esforço coletivo, cotidiano e perseverante. Certamente não é fácil construir e imprimir vida orgânica regular aos organismos de base. Se fosse fácil, o mundo seria socialista. Pavimentar o caminho para o socialismo não é tarefa simples. Estivéssemos em busca de caminhos tranquilos, não seríamos comunistas, pois certamente não há desafio maior e mais complexo do que derrotar o capitalismo e construir uma nova sociedade.

Jorge Gregory é Secretário de Organização no Distrito Federal