O Brasil ocupa, há quase duas décadas, um assento no BRICS – grupo originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, mas recentemente ampliado com a entrada de novos países. Trata-se de um espaço político e econômico que se consolidou como alternativa à hegemonia do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, embora a União Europeia também é representada no grupo) e às imposições do sistema financeiro internacional comandado pelo FMI e Banco Mundial. Mas é preciso ir além da retórica diplomática e perguntar: o que o povo brasileiro tem efetivamente a ganhar com a participação do país nesse bloco?

Do ponto de vista geopolítico, os BRICS oferecem ao Brasil uma oportunidade de reafirmação soberana. Estar nesse espaço significa que o país não se submete de forma exclusiva ao eixo Estados Unidos–Europa, podendo equilibrar relações e projetar maior autonomia em temas como comércio, meio ambiente, energia e segurança.

Além disso, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), criado pelo grupo e sediado em Xangai, representa um instrumento financeiro alternativo, capaz de oferecer crédito com menos condicionalidades neoliberais do que aquelas impostas pelos organismos tradicionais. Em tese, isso abre espaço para o Brasil captar recursos para investimentos em infraestrutura, energia limpa e programas sociais.

Outro ponto é a ampliação de mercados. O bloco reúne países que concentram mais de 40% da população mundial, o que poderia significar oportunidades reais para a exportação de produtos brasileiros, não apenas agrícolas, mas também industriais e tecnológicos.

Mas as oportunidades só se concretizam se houver uma estratégia clara de inserção do Brasil. A realidade é que, até aqui, nossa participação nos BRICS tem sido marcada mais por expectativas e discursos do que por ganhos concretos ao povo.

O bloco é profundamente assimétrico. A China e a Índia concentram enorme peso econômico, enquanto países como o Brasil tendem a desempenhar papel secundário, muitas vezes restrito à função de fornecedor de commodities. Essa lógica, se não for enfrentada, reproduz a dependência histórica que mantém o Brasil preso ao lugar de exportador de produtos primários e importador de tecnologia de ponta.

Além disso, os investimentos captados pelo Brasil via BRICS ainda são modestos e, em grande medida, não chegam de forma direta à população trabalhadora. Falta uma política nacional que traduza a cooperação em benefícios palpáveis – empregos, inovação, melhoria de serviços públicos.

Se o objetivo é que a participação no grupo beneficie de fato o povo, o Brasil precisa atuar com agenda própria. Isso inclui:

Transferência de tecnologia – assegurar que parcerias com a China e a Índia, por exemplo, não se restrinjam a compra e venda, mas incluam cooperação científica e tecnológica, com impacto sobre a indústria nacional e o sistema de inovação brasileiro.

Financiamento de infraestrutura produtiva e sustentável – usar os recursos do NBD para alavancar projetos que gerem emprego e renda em larga escala, sobretudo em áreas como energia limpa, saneamento e transporte.

Integração social e cultural – promover intercâmbio educacional, científico e cultural entre povos, fortalecendo laços para além da esfera comercial.

Posição ativa contra a desigualdade global – defender, no bloco, uma ordem internacional mais justa, que enfrente as disparidades entre países ricos e pobres, sem reproduzir novas formas de dominação.

O Brasil pode e deve tirar proveito de sua presença nos BRICS, mas isso exige clareza estratégica: não basta celebrar comunicados oficiais e fotografias de cúpulas diplomáticas. É preciso que a política externa seja instrumento de desenvolvimento popular, não apenas de prestígio governamental.

O desafio está em transformar o assento brasileiro no BRICS em vantagens concretas para o povo: empregos, inovação tecnológica, serviços públicos de qualidade. Só assim a participação no bloco deixará de ser um espaço de ilusão diplomática para se tornar um verdadeiro pilar da soberania nacional com justiça social.