Foto: Agência Brasil

A crise que pode advir da manutenção da tarifa de 50% imposta pelo governo dos Estados Unidos aos produtos brasileiros tem potencial de trazer graves efeitos à economia nacional e, em especial, à classe trabalhadora, elo mais vulnerável aos desmandos do capitalismo.

Em meio às incertezas desse cenário, empresários buscam maneiras de amenizar o peso da medida recorrendo ao governo federal, que tem sinalizado preocupação com o desemprego e a queda na renda. Este é um dos principais pontos do plano que vem sendo elaborado pelo governo Lula a fim de enfrentar a tarifa, em caso de não reversão da medida.

Entre as propostas aventadas por empresários está a redução proporcional da jornada de trabalho e dos salários, mediante compromissos de preservação dos empregos, cabendo ao governo fazer uma complementação dos salários, como ocorreu na pandemia.

“Estamos muito confiantes que preparamos um trabalho que vai permitir ao Brasil superar esse momento. O evento externo não foi criado por nós, mas o Brasil vai estar preparado para cuidar das suas empresas, dos seus trabalhadores, e ao mesmo tempo se manter permanentemente na mesa de negociação buscando racionalidade, buscando respeito mútuo”, declarou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta terça-feira (29).

Além disso, há a possibilidade de concessão de subsídios a empresas, no mesmo molde do adotado após as inundações de 2024 no Rio Grande do Sul. De acordo com a Fazenda, 10 mil empresas brasileiras podem ser diretamente afetadas e, somente no setor industrial, cerca de 110 mil empregos podem vir a ser perdidos.

“O mercado brasileiro com certeza sentirá o impacto e precisamos unir a classe trabalhadora em defesa dos seus direitos e, sobretudo, em defesa do emprego. Por isso, acredito que a melhor saída é construirmos um pacto entre a produção e o trabalho, estabelecendo caminhos para o desenvolvimento estruturado, para a proteção e geração de empregos, combatendo a precarização e fortalecendo a capacidade de consumo das famílias por meio da valorização do trabalho”, explica o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo.

Nesse mesmo sentido, acrescenta que está “no centro das reivindicações das centrais sindicais a defesa de um projeto de Brasil mais humano e menos desigual. Fazem parte dessa estratégia defender produção nacional, a proteção do emprego e da renda, fortalecer a negociação coletiva com participação social e privilegiar o debate institucional na busca permanente do diálogo social”.

Recentemente, representantes das centrais sindicais se reuniram com o vice-presidente Geraldo Alckmin para tratar do tema. Na ocasião, entregaram o documento intitulado “Propostas das Centrais Sindicais diante da Guerra Comercial: Soberania, Emprego e Desenvolvimento”.

No âmbito da proteção do emprego e da renda, o documento defende, entre outras medidas, a recriação do Programa de Proteção do Emprego, com fundos de compensação e programas de transição para trabalhadores afetados por impactos negativos do comércio internacional; investimento em qualificação e requalificação profissional; o fortalecimento da organização sindical e o estabelecimento de cláusulas de proteção ao emprego nos acordos coletivos.

Quanto à defesa da produção nacional, o documento propõe, entre outros pontos, fortalecer as medidas antidumping e salvaguardas comerciais em setores e cadeias produtivas ameaçados; aumentar o investimento para a implementação das NIB (Nova Indústria Brasil), com foco em inovação, sustentabilidade e encadeamento produtivo interno; estimular a produção nacional por meio das compras públicas e da política de conteúdo local e fortalecer o investimento público em infraestrutura social e produtiva (transporte, energia, habitação, saúde, educação) com encadeamentos na indústria nacional.

Considerando esses aspectos, Araújo diz que é preciso “encontrar caminhos para enfrentar a crise comercial, valorizando o trabalho e o trabalhador. E isso só será capaz se a gente colocar no centro da luta política a defesa da democracia e da soberania”.

Para tanto, do ponto de vista do trabalho imediato das centrais, um dos principais focos de luta são os atos que os movimentos sociais estão convocando para o dia 1º de agosto, em frente a prédios do governo dos EUA em diversos pontos do Brasil.

“Penso que essas manifestações convocadas precisam, inclusive, ser continuadas porque toda essa provocação e tentativa de cerco com certeza não vai cessar. A defesa de um Brasil democrático e soberano é central para aqueles que lutam pela autodeterminação dos povos e nações. Então, eu penso que ganhar as ruas também vai ser um momento importante de reafirmação e de defesa do Brasil. Afinal, o Brasil é, sem sombra de dúvidas, dos brasileiros”.