Escrever é um ato político, é um ato de tornar-se, pois ao escrever nos tornamos narradoras e escritoras da própria história. O escrever pode ser um ato de descolonização, justamente nesse processo quando deixamos de ser objeto e nos tornamos sujeitos. Essa inspiração de pensar objeto para sujeito, segundo GRADA KILOMBA (2019), vem dos escritos de Bell Hooks (1989), o falar com a própria boca, o escrever com as próprias palavras, seguir na resistência e na luta, RUMO AO SOCIALISMO.

O capital de Marx é escrito para desmontar o castelo de ilusões, a começar do mais bem guardado segredo do capitalismo, a mais valia. A mercadoria força de trabalho cria mais valor do que o que ela vale, o(a) operário(a) trabalha parte do tempo para produzir seu salário, mas outra parte do dia é gratuita, nesta parte ele(a) trabalha apenas para o patrão.

O novo valor surge no chão de fábrica, na produção, quando o patrão paga por 4 horas, mas recebe mais 3 ou 4 de graça. No total, o(a) operário(a) é quem cria toda a riqueza, a começar pelo seu salário e pelas mercadorias-extras que o patrão vai vender.

 Marx afirma no final do capítulo IV do Livro I que a fisionomia dos personagens do drama se transforma. Atrás do capitalista sorridente vai o(a) trabalhador(a), contrariado(a) por perceber que está levando sua pele ao curtume (MARX, 1983, I, 145).

O próprio autor está afirmando que sua obra é o drama ao qual estão submetidos(as) todos(as) os(as) personagens, especialmente aqueles(as) que são obrigados(as) a vender a sua força de trabalho no mercado por não ter outra mercadoria a vender.

A obra-prima de Marx vai mostrar que o capitalismo, com sua produção de riqueza se assenta na exploração do trabalho humano, e é portador de grandes contradições, o que o torna um sistema sem futuro, e sujeito a crises inevitáveis. Isso vai sendo estabelecido à medida que Marx desvenda as leis de funcionamento do capitalismo, e situa a exploração do(a) trabalhador(a) como única fonte da riqueza capitalista.

A obra O Capital é a crítica do fundamento econômico do capitalismo, e dessa forma legitima, fornece substância científica e objetiva, sendo assim, uma ferramenta política da revolução proletária. A compreensão sistemática de O Capital só pode ser alcançada mediante uma análise de seu método.

 A exposição desenvolvida por Marx é completamente estranha ao método aplicado pelos economistas clássicos. O Capital não deve ser compreendido apenas como uma obra de Economia Política, mas sim, como uma obra filosófica, à luz da filosofia de Hegel e da tradição dialética, nascida entre os filósofos gregos da antiguidade.

O método de avançar do abstrato para o concreto, ou seja, de tratar o concreto, a totalidade histórica, a partir de suas determinações mais abstratas e simples, era para Marx, o método correto.

O percurso de O Capital pode ser compreendido como um caminho no qual Marx vai desmistificando vários mitos e ilusões da sociedade burguesa, combatendo a Economia Política e revelando as contradições inerentes ao capital. Superando as formas aparentes e abstratas, a exposição segue crescendo em determinação e revelando os pressupostos históricos, sociais, políticos e econômicos da sociedade produtora de mercadorias.

A ordem do discurso em O Capital é rigorosa e bem delimitada, constituindo um todo articulado que ao mesmo tempo em que desenvolve o conceito de capital, traz a sua negatividade. A exposição dialética parte das formas aparentes, apenas para abandoná-las em seguida. Afirma-se num primeiro momento, apenas para negar num segundo e, assim, progredir na superação das ilusões, desmistificando e revelando as contradições do capital.

Lutamos pela organização de um processo coletivo de “saída da caverna”, este é um dos grandes desafios da classe trabalhadora, de cada um e cada uma de nós. Fica nítido,  que não há outra maneira de superar todas as ilusões deste modo de produção a não ser através da própria luta de classes, pelo enfrentamento entre as classes, enfrentamento em torno da extensão da jornada de trabalho (capítulo VIII), da intensidade do trabalho (capítulo XII) e da magnitude do salário (capítulos XVII a XX), todos diretamente relacionados à magnitude da mais-valia, embora estes enfrentamentos representem apenas momentos da construção das condições subjetivas da revolução.

Na quadra política em que vivemos, o acirramento da luta de classes se apresenta na fase mais aguda da crise estrutural do capitalismo, tendo a barbárie, a misoginia, o racismo estrutural, a LGBTfobia e a violência institucional como regra na organização do Estado.

O capitalismo neoliberal aprofunda as desigualdades sociais, a divisão social e sexual do trabalho, precariza o trabalho, aumenta a alienação e a opressão de uma classe sobre a outra.

Os valores dessa sociedade são a mercadoria, o lucro e o trabalho até o esgotamento físico e mental, gerando mulheres e homens infelizes, doentes, oprimidos(as) e sem possibilidade de sonhar e ser feliz no seu convívio familiar.

O PCdoB é o partido das questões nacionais e defendemos que a luta antirracista, a luta emancipacionista das mulheres, as pautas pelos direitos da população LGBTQIA+, são estruturantes e civilizatórias.

O racismo estrutural e todas as formas de racismo, seguem implacáveis, e segundo Patrícia Collins (2019) uma das dimensões da opressão de mulheres negras é a forma específica com que o trabalho dessas mulheres é historicamente explorado para a construção e manutenção do capitalismo. A autora traz que a interseccionalidade é, ao mesmo tempo, um conceito analítico de “projeto de conhecimento” e um instrumento de luta política, no combate às opressões múltiplas e imbricadas, com vistas à emancipação.

Defendemos pautas históricas no curso do leito da luta!

NÃO a escala 6×1 –

A deputada federal Erica Hilton (PSOL), protocolou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que quer colocar fim à escala de trabalho 6X1, que carrega marcas de gênero, raça e classe, afetando especialmente as(os) trabalhadoras(es) em condições mais precárias e as remunerações mais baixas, que majoritariamente são mulheres negras e periféricas.

SIM a jornada de trabalho 5×2 sem perda salarial –

A deputada federal Daiana Santos (PCdoB), protocolou o PL 67/2025 que prevê a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais e garante dois diais consecutivos de descanso remunerado. Trabalhadoras/es brasileiras/os têm jornadas mais longas do que em países como Canadá (32H), Alemanha (34H), Reino Unido (36h), e Argentina (37h). Este projeto de lei, é fundamental para todas e todos trabalhadoras/es, mas um grande avanço para a vida das mulheres que vivem sobrecarregadas, com cansaço extremo, vivendo sem tempo para a família, para cuidar da sua saúde física e mental, sem tempo de sonhar, amar e ser feliz.

Segundo Loreta Valadares (2007), é necessário compreendermos que a necessidade da luta contra a opressão de gênero se insere na luta contra todos os elos de opressão e pela conquista de uma sociedade radicalmente nova, sem discriminação de gênero, identidade de gênero, orientação sexual, de raça e de classe.

Somos o Partido do socialismo, revolucionário, proletário, patriótico, defensor dos direitos do povo, da soberania nacional e das liberdades democráticas, portanto camaradas, sigamos cumprindo nossa tarefa histórica com amplitude e unidade, RUMO AO 16 CONGRESSO E RUMO AO SOCIALISMO!

Referências

COLLINS, Patrícia Hill. Pensamento Feminista Negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. Tradução Jamille Pinheiro Dias. São Paulo: Boitempo, 2019.

KILOMBA, Grada. (2019). Memórias da Plantação. Cobogó

MARX. KARL. O Capital: Crítica da Economia Política. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

VALADARES, Loreta. As faces do feminismo. São Paulo. Ed. Anita,2007.

*Silvana Conti é professora aposentada da RME de Porto Alegre. Mestra em Políticas Sociais. Doutoranda em Educação. Presidenta do PCdoB – Porto Alegre, da Executiva Estadual PCdoB/RS. Base dos(as) Municipários(as).