São Paulo (SP), 10/07/2025 – Protesto à atuação do Congresso Nacional na justiça tributária com a taxação dos super ricos, fim da escala 6×1 e a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, realizado em frente ao MASP. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Lideranças das maiores centrais sindicais brasileiras divulgaram nesta quinta-feira (10) uma nota oficial de repúdio ao tarifaço de 50% imposto pelo governo dos Estados Unidos sobre exportações brasileiras. A medida, anunciada por Donald Trump, candidato à reeleição e atual chefe de Estado, é vista pelas entidades como um ataque direto à soberania nacional, motivado por razões políticas e que representa um grave risco à economia e ao emprego no Brasil.

A nota é assinada pelos presidentes da CUT, Força Sindical, UGT, CTB, CSB, NCST, Intersindical e Pública – Central do Servidor. O texto faz duras críticas à postura de Trump, classificada como “intervencionista e autoritária”, e denuncia a articulação do ex-presidente norte-americano com setores bolsonaristas no Brasil.

“Trata-se de um conluio com o bolsonarismo, que insiste em alimentar polarizações e estimular grupos de extrema-direita a traírem os interesses nacionais”, afirma o documento.

Medida é resposta à atuação do STF, dizem sindicatos

Segundo as centrais sindicais, a imposição das tarifas não responde a critérios econômicos legítimos, mas sim a decisões recentes do Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro que atingiram interesses de grandes corporações norte-americanas atuantes no país.

A nota lembra que o gesto de Trump remete à interferência histórica dos EUA no Brasil, como no golpe militar de 1964, e alerta para o impacto das novas taxas sobre os setores estratégicos da economia, como a indústria e o agronegócio.

“Um aumento abrupto de 50% nas tarifas ameaça diretamente a indústria, o agronegócio e diversos setores produtivos, com risco real de demissões em massa, fechamento de empresas e agravamento do desemprego”, alertam os signatários.

Além do desemprego, o comunicado também menciona os riscos de inflação, alta cambial e encarecimento da produção nacional.

Centrais cobram cassação de Eduardo Bolsonaro: “agente estrangeiro”

Em tom ainda mais contundente, a nota exige do Congresso Nacional a cassação imediata do mandato do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), acusado de ter atuado junto ao governo norte-americano para fomentar sanções contra o Brasil.

“Mesmo abrigado no exterior e recebendo salários pagos pela população brasileira, agiu como um verdadeiro agente estrangeiro. Isso configura crime de lesa-pátria”, afirmam.

A acusação de traição aos interesses nacionais tem ganhado força entre parlamentares de oposição e setores do movimento sindical desde que vieram à tona articulações de Eduardo com setores trumpistas nos Estados Unidos.

Apoio ao governo Lula e à Lei da Reciprocidade

As entidades sindicais também manifestaram apoio à reação do governo federal, liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e à recente aprovação da chamada Lei da Reciprocidade Econômica, que permite retaliações comerciais a países que impuserem barreiras unilaterais ao Brasil.

“Apoiamos a resposta firme e altiva do governo federal. O Brasil deve utilizar todos os instrumentos legais para proteger nossa economia e o povo brasileiro”, diz a nota.

Ao mesmo tempo, as centrais defendem que o país mantenha sua tradição diplomática e busque uma solução multilateral e pacífica para o impasse, sem abrir mão da firmeza diante da ofensiva norte-americana.

“O Brasil é dos brasileiros”

A manifestação das centrais ocorre em meio a uma onda de protestos em todo o país, que já haviam ganhado força com a defesa da “Taxação BBB” (Bets, Bancos e Bilionários) e o fim da jornada 6×1, e agora incorporam também o rechaço ao tarifaço de Trump.

“Reafirmamos nosso compromisso inegociável com a soberania nacional, com a legitimidade das instituições democráticas e com os direitos da classe trabalhadora. O Brasil é dos brasileiros — e somente ao povo, por meio de suas instituições, cabe decidir os rumos do país”, finalizam os dirigentes sindicais.

Leia a íntegra da nota:

Em defesa da soberania nacional e contra taxação intervencionista dos EUA

Nós, das centrais sindicais brasileiras, representantes de trabalhadoras e trabalhadores de diversos setores da economia, repudiamos o “tarifaço” de 50% sobre as exportações brasileiras, anunciado pelo governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump.

Essa medida intempestiva, que remete à memória sombria da participação dos EUA no golpe 1964, não passa de uma reação hostil às decisões do Supremo Tribunal Federal envolvendo empresas estadunidenses que atuam no Brasil. Trata-se, ainda, de um conluio com o bolsonarismo, que insiste em alimentar polarizações e estimular grupos de extrema-direita a traírem os interesses nacionais. 

Alertamos para os impactos devastadores que a sobretaxa pode causar à economia e à classe trabalhadora. Um aumento abrupto de 50% nas tarifas sobre nossas exportações — vindas de um país com o qual mantemos mais de 200 anos de relações comerciais — ameaça diretamente a indústria, o agronegócio e diversos setores produtivos, com risco real de demissões em massa, fechamento de empresas e agravamento do desemprego. A medida também tende a encarecer o custo da produção, pressionando a inflação e elevando o custo de vida. Há ainda o risco de instabilidade cambial.

Diante desse ataque à nossa soberania, apoiamos a resposta firme e altiva do governo federal, liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e saudamos a recente aprovação da Lei da Reciprocidade Econômica. O governo deve utilizar todos os instrumentos legais para proteger nossa economia e o povo brasileiro.

É também necessário exigir a cassação do mandato do deputado federal Eduardo Bolsonaro que, mesmo abrigado no exterior e recebendo salários pagos pela população brasileira, agiu como um verdadeiro agente estrangeiro ao fomentar sanções contra o próprio país. Isso configura crime de lesa-pátria.

Ao mesmo tempo, defendemos que o Brasil preserve e fortaleça suas relações internacionais, buscando uma solução pacífica, multilateral e justa. Confiamos que o governo saberá equilibrar firmeza e diplomacia para impedir a escalada de uma crise provocada pelo autoritarismo de Donald Trump.

Reafirmamos, por fim, nosso compromisso inegociável com a soberania nacional, com a legitimidade das instituições democráticas e com os direitos da classe trabalhadora. O Brasil é dos brasileiros — e somente ao povo, por meio de suas instituições, cabe decidir os rumos do país.

Pela soberania nacional, pela democracia e pelo emprego!

São Paulo, 10 de julho de 2025

Sérgio Nobre, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores)

Miguel Torres, presidente da Força Sindical

Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores)

Adilson Araújo, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)

Antonio Neto, presidente da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros)

Moacyr Tesch Auersvald, presidente da NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores)

Nilza Pereira de Almeida, secretária geral da Intersindical – Central da Classe Trabalhadora

José Gozze, presidente da Pública, Central do Servidor

(por Cezar Xavier)