Comerciantes da 25 de Março fazem protesto contra ataques de Trump. Foto Reprodução Redes Sociais

Trabalhadores participaram, na manhã desta sexta-feira (18), de um protesto na tradicional Rua 25 de Março, no centro de São Paulo, contra a investigação anunciada pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o comércio popular brasileiro. O ato, organizado pelo Sindicato dos Comerciários de São Paulo (SECSP) com apoio de centrais sindicais, com a Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), ocorreu debaixo do viaduto Augusto Ferreira Veloso e mobilizou trabalhadores, dirigentes sindicais e representantes de movimentos sociais.

Com bandeiras do Brasil, cartazes com críticas ao governo norte-americano e máscaras satíricas de Trump e Bolsonaro, os manifestantes denunciaram o que consideram uma tentativa de criminalizar o comércio informal e atacar a soberania nacional.

O presidente do PCdoB-SP, Alcides Amazonas, participou do ato denunciando o desrespeito de Trump com o Brasil e o que ele considera uma conspiração do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) contra o país.

“A luta é grande nas ruas e nas redes, dessa vez na 25 de março, protestando contra as medidas do Trump contra o nosso país. E essa luta é uma luta de todos nós, é uma luta dos logistas, dos funcionários, dos clientes que estão passando por aqui”, disse ele em discurso. Ele citou a ameaça formal do governo norte-americano contra o comércio popular da região da Rua 25 de Março e contra o PIX, o sistema de pagamentos automatizado brasileiro, além da taxação abusiva de importações.

“E nós estamos também denunciando que existem aqueles que traem a nossa Pátria, como é essa turma da família Bolsonaro. E tem um deputado aqui do nosso estado que foi lá para os Estados Unidos para fazer conchavo, para conspirar contra o nosso país”, criticou Amazonas, citando ainda as lutas da pauta atual dos trabalhadores, por empregos, salários, o fim da escala 6×1, a isenção de imposto de renda para assalariados e taxação dos super-ricos. 

Investigação dos EUA irrita sindicatos e trabalhadores

A motivação do protesto foi o relatório do Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR), que acusa a região da 25 de Março de ser um dos maiores polos de produtos falsificados do mundo. O mesmo documento também critica o sistema de pagamentos brasileiro Pix, o uso de redes sociais para comércio informal e até mesmo políticas ambientais brasileiras.

A investigação ocorre paralelamente ao anúncio de uma taxação de 50% sobre diversos produtos brasileiros pelo governo dos EUA, sob a gestão de Donald Trump, o que elevou o tom do protesto em São Paulo. Para o presidente do SECSP e da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, o ataque não é apenas comercial, mas político.

“Não podemos permitir que a ingerência de outro país afete a rua mais emblemática do comércio popular do Brasil. Não somos a favor da pirataria, mas também não vamos aceitar esse tipo de generalização ofensiva. É uma afronta à soberania e aos empregos de mais de 5 mil pessoas”, afirmou Patah.

Alcides Amazonas (PCdoB-SP), Ubiraci Dantas (vice-presidente da CTB) e Ricardo Patah (presidente UGT e do Sindicato dos Comerciários). Foto: PCdoB-SP

Críticas a Bolsonaro e defesa do Pix

O protesto também se transformou em um ato político contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, que no mesmo dia foi alvo de uma operação da Polícia Federal e teve que usar tornozeleira eletrônica por ordem do STF. Manifestantes levaram cartazes com dizeres como “Bolsonaro traidor da pátria” e entoaram palavras de ordem como “Ô Bolsonaro, preste atenção, a Papuda já tem o seu colchão”.

Houve ainda gritos de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com refrões como “Ô Trump almofadinha, o Lula vai botar você na linha”, denunciando a tentativa dos EUA de interferirem na economia digital brasileira e, especialmente, no sistema Pix, que tem ganhado reconhecimento internacional por sua eficiência e inovação.

“Foi um ato chamado de ontem para hoje. Mesmo assim conseguimos mostrar que os trabalhadores da 25 de Março têm consciência e disposição para lutar por seus direitos”, disse João Carlos Gonçalves Juruna, secretário-geral da Força Sindical.

Militantes e sindicalistas encenam a prisão de Bolsonaro de mãos dadas com Trump durante a manifestação na Rua 25 de Março. Foto: Redes Sociais do PCdoB-SP

Tarifaço e tensões comerciais

A manifestação ocorre em meio a um cenário tenso de relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos. O novo tarifaço anunciado por Trump atinge setores estratégicos da economia brasileira, enquanto a investigação da USTR ameaça prejudicar a imagem internacional de centros populares de comércio. O governo brasileiro, por sua vez, articula uma reação diplomática e jurídica para contestar as acusações e reverter as medidas unilaterais impostas por Washington.

A mobilização desta sexta-feira é um dos primeiros atos públicos de resistência organizada, e revela que, para além das planilhas de exportação e dos gabinetes diplomáticos, o conflito já chegou às ruas brasileiras.

(por Cezar Xavier)