Você já reparou como as postagens nas redes sociais parecem adivinhar o que você quer? Às vezes, basta pensar em comprar uma geladeira, por exemplo, e, de repente, surgem dezenas de anúncios no seu celular. Não é mágica, é inteligência artificial. Essa tecnologia já está profundamente inserida no nosso dia a dia, influenciando o que consumimos, o que pensamos e até como nos comportamos. E, embora muitas vezes passe despercebida, ela está longe de ser neutra ou inofensiva. Por trás desses algoritmos existem interesses econômicos e políticos poderosos.

A inteligência artificial já deixou de ser “coisa de filme de ficção” para se tornar uma realidade que atravessa todos os aspectos da vida social. Está nos aplicativos de transporte, nos sistemas de vigilância, nos setores de saúde e educação e nos sistemas que moldam o nosso comportamento nas redes sociais – e nas relações de trabalho. Não se trata, obviamente, de uma tecnologia neutra. Assim como toda inovação desenvolvida sob a lógica do capital, a IA carrega os interesses de classe de quem a controla. Se não houver disputa, ela pode se consolidar como uma das mais poderosas ferramentas de concentração de riqueza e de poder do nosso tempo.

Hoje, o desenvolvimento e o controle da IA estão nas mãos de um punhado de empresas multinacionais, quase todas com sede nos Estados Unidos. Gigantes como Google, Microsoft, Amazon e OpenAI detêm o controle das plataformas, dos códigos e, sobretudo, dos dados de bilhões de pessoas em todo o mundo. Essa concentração transforma dados – que deveriam ser tratados como um bem comum – em matéria-prima para a acumulação privada, muitas vezes sem transparência e sem controle democrático. O resultado é o aprofundamento das desigualdades no mundo inteiro: enquanto as big techs multiplicam seus lucros, países periféricos como o Brasil correm o risco de se tornarem meros consumidores de tecnologias importadas, ampliando sua dependência tecnológica e enfraquecendo sua soberania nacional.

No mundo do trabalho, a IA já está sendo utilizada para substituir funções humanas, monitorar trabalhadores em tempo real e precarizar ainda mais as relações laborais. Mas, ao invés de liberar tempo e melhorar a qualidade de vida, o avanço tecnológico tem sido apropriado para aumentar a exploração e os lucros. Percebam, camaradas, que é a mesma lógica que moveu as revoluções industriais anteriores: quando não há organização política e mobilização social, a tecnologia aprofunda a exploração, ao invés de promover emancipação.

No entanto, o futuro da inteligência artificial não está dado, muito embora seja uma concorrência desleal. Como toda tecnologia, ela é também um campo em disputa. A IA pode ser colocada a serviço do povo: fortalecendo políticas públicas de saúde, educação e mobilidade urbana; potencializando a organização sindical e popular por meio da análise de dados e da comunicação digital; ampliando o acesso ao conhecimento, à arte e à cultura. Para isso, é preciso um projeto nacional de desenvolvimento que enfrente os monopólios tecnológicos e coloque a inovação a serviço do desenvolvimento soberano e do bem comum.

É urgente lutar por uma política nacional de ciência e tecnologia que garanta autonomia ao Brasil no desenvolvimento de soluções próprias e na gestão dos seus dados. É preciso construir uma inteligência artificial nacional, aberta, transparente e voltada ao interesse público – sob controle social e com participação democrática. Devemos também formar quadros políticos e técnicos capazes de lidar com essas ferramentas com consciência crítica, além de articular o partido, sindicatos, universidades, movimentos sociais em redes de troca, formação e ação política orientadas por uma visão progressista e popular da tecnologia. Além disso, é nosso papel lutar pela regulamentação da IA que está posta, de modo a estabelecer as diretrizes não só para o uso, mas também para uma administração ética e responsável das ferramentas tecnológicas.

A luta de classes do século XXI passa também pelo campo digital. Disputar a inteligência artificial é disputar o futuro. Ou ocupamos esse espaço com consciência de classe e projeto transformador, ou ele será ocupado por quem pretende manter tudo como está: um mundo injusto, desigual e excludente.

O desafio está colocado. Cabe a nós, comunistas, construir uma inteligência artificial a serviço da vida, do povo e da construção de uma nova sociedade: socialista, soberana e democrática.

Nágila Maria é comunicadora política, integrante do Comitê Central do PCdoB e Secretária de Comunicação do PCdoB-Bahia