Iêmen denuncia como “crimes de guerra” bombardeios dos EUA que mataram 53

O Iêmen denunciou como “crimes de guerra” os bombardeios norte-americanos que mataram no domingo (16) pelo menos 53 pessoas e feriram dezenas, na maioria mulheres e crianças, desencadeados em apoio ao bloqueio, por Israel, da entrada de caminhões de alimentos em Gaza, visando matar de fome a população palestina de Gaza e forçar uma limpeza étnica, e que está em vigor desde 2 de março.
Comunicado do Iêmen reiterou que o “o bloqueio naval do inimigo israelense e a proibição de seus navios continuará até que entrada da ajuda humanitária e suprimentos essenciais seja permitida na Faixa de Gaza”.
“Ataques aéreos contra civis e instalações civis são considerados crimes de guerra e constituem um exemplo de terrorismo dos EUA contra nações”, afirmou comunicado do movimento Ansarullah, principal força progressista iemenita.
Foram 170 ataques, que atingiram a capital, Sanaa, cidades como Hodeidah e Taiz e sete províncias. Os bombardeios foram ordenados pelo presidente Trump, após o Iêmen pôr em prática sua advertência de que retomaria os ataques contra navios israelenses no Mar Vermelho se o bloqueio israelense à entrada de comida em Gaza não fosse imediatamente levantado.
“As explosões foram violentas e sacudiram o bairro como um terremoto. Elas aterrorizaram nossas mulheres e crianças”, disse à Reuters um dos moradores da capital, que se identificou como Abdullah Yahia.
Os ataques do Iêmen à passagem de embarcações a serviço do apartheid israelense e seus cúmplices haviam sido suspensos, tão logo entrou em vigor a primeira fase do acordo de cessar-fogo em Gaza, depois de ter vigorado no Mar Vermelho por meses a fio em solidariedade aos palestinos e apesar de todo o aparato bélico deslocado por Biden.
Somente foram retomados agora em resposta à sabotagem do regime Netanyahu da discussão da segunda fase do cessar-fogo e tentativa de implodi-lo com provocações como o bloqueio dos alimentos, corte de energia elétrica para parar os hospitais e a obtenção de água potável, mais a extensão do genocídio à Cisjordânia.
Agora, Trump, que se lambuzou todo com seu projeto imobiliário ‘Trump Gaza/Riviera Sobre Cadáveres’, cuja cereja do bolo seria a deportação de 2,2 milhões de palestinos, projeta sobre os iemenitas seu próprio terrorismo, ameaçando-os de que “o inferno cairá sobre vocês como nada que já viram antes” e dizendo que “seu tempo acabou” em postagem em sua plataforma Truth Social.
Em discurso no domingo, Seyed Abdulmalik Badreddin al-Houthi, líder da principal força política do Iêmen, enfatizou que “o objetivo da agressão dos EUA é claro: apoiar o inimigo israelense”.
Ele assinalou que a agressão dos EUA contra cidades iemenitas ocorreu logo após o Iêmen declarar uma posição clara de apoio ao povo palestino diante da fome imposta pelo inimigo israelense aos habitantes de Gaza.
Al Houthi alertou sobre a fome e a privação de água que os moradores de Gaza estão enfrentando após enfrentarem 15 meses de genocídio e destruição nas mãos do regime sionista.
Este genocídio, continuou, é considerado uma linha vermelha para o Iêmen, diante da qual “não pode permanecer em silêncio”.
“Nossa decisão de apoiar Gaza proibindo a navegação israelense diz respeito apenas ao inimigo israelense”, disse o líder iemenita.
A única solução – ele destacou – é permitir a entrada de ajuda em Gaza e acabar com a fome de seus moradores. “O inimigo israelense aumenta seus crimes sempre que não há pressão ou confronto global”.
Al Houthi elogiou a retaliação das forças iemenitas contra o porta-aviões USS Harry S. Truman, e advertiu que enquanto a agressão dos EUA continuar os navios de guerra norte-americanos serão alvos de mísseis e drones iemenitas. “Responderemos às escaladas com escaladas”, ele deixou claro. O Iêmen anunciou que retaliou o USS Harry S Truman com 18 mísseis balísticos e drones, enquanto os EUA dizem ter derrubado 11.
Na semana passada, Philippe Lazzarini, chefe da agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), condenou a volta do bloqueio de Israel à ajuda humanitária a Gaza, bem como o corte da eletricidade do enclave palestino.
“É claramente uma transformação da ajuda humanitária em arma”, disse ele em uma entrevista coletiva em Genebra, Suíça. Ele sublinhou que o bloqueio da entrada de ajuda em Gaza traria de volta “a fome crescente” e considerou “crítico” que a ajuda humanitária seja restaurada.
“Obviamente o risco é que voltemos à situação [de fome] que vivenciamos meses atrás”, apontou Lazzarini na coletiva de imprensa em Genebra.
Ele disse ainda que o recente corte de eletricidade por Israel reduzirá “significativamente” a disponibilidade de água potável, pois a usina de dessalinização, que se beneficia dessa eletricidade, estava produzindo água potável para 600.000 pessoas. “Então isso seria um impacto direto na população”, disse ele.
Lazzarini também abordou a situação na Cisjordânia e disse que vários campos de refugiados foram quase esvaziados, deslocando cerca de 40.000 refugiados palestinos. “Este é o maior deslocamento de palestinos na Cisjordânia desde 1967”.
Diante dos bombardeios ao Iêmen, a ONU pediu “a máxima contenção e a cessação de todas as atividades militares” no Mar Vermelho. “Qualquer nova escalada pode agravar as tensões regionais, alimentar ciclos de retaliação que podem destabilizar ainda mais o Iêmen e a região, além de representar sérios riscos para a já terrível situação humanitária no país”, disse o porta-voz Stephane Dujarric, em nome do secretário-geral Guterres.
Em comunicado no domingo, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia chamou “a cessar imediatamente o uso da força e convocou as partes a se envolverem em diálogo político para encontrar uma solução que evite mais derramamento de sangue” no Mar Vermelho.
Em um pronunciamento em janeiro de 2024, o chefe da diplomacia russa, Sergey Lavrov, denunciou os ataques dos EUA e do Reino Unido ao Iêmen e os comparou às atividades dos países ocidentais na Líbia, que eles devastaram com bombardeios.
Fonte: Papiro