Bolsonaristas recuam, desistem de impeachment de Lula e focam em anistia
A contundente denúncia do procurador-geral da República, Paulo Gonet, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) obrigou a oposição ao governo Lula a recuar. Apresentada ao STF (Supremo Tribunal Federal) nesta terça-feira (18), a peça fez o bolsonarismo esvaziar a pauta dos atos golpistas convocados para 16 de março.
Um dos objetivos das manifestações era cobrar o impeachment do presidente Lula (PT), o que foi endossado até por Elon Musk, dono do X e membro do governo Donald Trump (EUA). Na sexta-feira (14), Musk compartilhou um post que falava em “uma onda nacional de protestos em 120 cidades do Brasil no dia 16 de março pedindo a remoção de Lula”.
Além disso, os bolsonaristas elevariam a pressão para que o presidente da Câmara Federal, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), ajudasse a aprovar um projeto de lei que prevê anistia aos criminosos envolvidos no 8 de Janeiro. No começo do mês, Motta afirmou que não via os ataques na Praça dos 3 Poderes como uma tentativa de golpe de Estado, mas foi evasivo sobre sua posição em relação ao projeto da oposição.
“Não posso chegar aqui e dizer que vou pautar a anistia semana que vem ou que não vamos pautar. Será um tema que vamos analisando, digerindo”, declarou o parlamentar.
Cientistas políticos e especialistas em Direito Constitucional já alertaram para a fragilidade da proposta. O Congresso Nacional não tem poderes para anistiar crimes contra a democracia – e uma lei nessa direção tem de enfrentar o julgamento do STF, que não a validaria. Sem contar que, atualmente, a opinião pública, hoje, é majoritariamente contrária a manobras como anistiar golpistas e flexibilizar a Lei da Ficha Limpa.
O fato é que, com a denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) ao STF, os bolsonaristas se deram conta, tardiamente, de que precisam salvar a própria pele – e o capital eleitoral de que ainda desfrutam. Daí o recuo na pauta dos atos golpistas: a prioridade é buscar um clamor popular – cada vez mais improvável – para evitar prejuízos colossais.
Embora um vídeo divulgado por Bolsonaro já antecipasse que a palavra de ordem é “Fora Lula 2026”, aliados do ex-presidente foram ainda mais explícitos ao comentarem a pauta dos protestos.
O pastor Silas Malafaia, por exemplo, reclamou que “essa turma da direita muitas vezes não pensa, não analisa”. Segundo ele, um impeachment abre caminho para o vice-presidente Geraldo Alckmin substituir Lula e virar “salvador da pátria”, aniquilando de vez o bolsonarismo. “Este tem que ser o mote do evento: ‘Fora Lula em 2026’, ‘anistia já’”, afirmou Malafaia
O líder da oposição na Câmara, deputado Zucco (PL-RS), confirmou que o impeachment de Lula não está mais na pauta dos atos golpistas. A hora, de acordo com Zucco, é de focar no “PL da Anistia”, que estaria “mais maduro”.
Atrás de holofotes, deputados federais como Kim Kataguiri (União-SP) e Marcel van Hattem (Novo-RS) insistem, em público, na proposta de impedimento do presidente. É uma direita menos alinhada ao bolsonarismo, mas igualmente antidemocrática.
A divisão pode levar a um inusitado efeito colateral: e se parte dessa direita, agora indignada com o ex-presidente, ficar contra o PL da Anistia? Num mês que vinha se revelando atordoante para Lula, Bolsonaro é que está numa encruzilhada com pouca margem de saída.