Rodrigo Callais defende fim da jornada 6×1 e destaca papel da juventude e das redes na mobilização
Durante a Assembleia Geral da Classe Trabalhadora, realizada virtualmente nesta quinta-feira (5), Rodrigo Callais, diretor da CTB Nacional e secretário da Juventude Trabalhadora, fez um discurso contundente em defesa do fim da jornada de trabalho 6×1. Como presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Hotelaria e Gastronomia de Gramado, Callais trouxe dados preocupantes sobre o impacto dessa escala na saúde e no bem-estar dos trabalhadores e destacou a importância da mobilização social para conquistar mudanças estruturais.
Para Callais, a luta pela redução da jornada de trabalho sem diminuição salarial vai além de uma reivindicação trabalhista. “É uma pauta de caráter civilizatório. Estamos falando do direito ao convívio familiar, ao lazer, ao esporte e à educação. A jornada 6×1 adoece a classe trabalhadora física e mentalmente, privando-a de uma vida digna”, declarou.
Movimento VAT e as redes sociais como potência mobilizadora
Callais iniciou destacando o papel transformador do movimento VAT (Vida Além do Trabalho), surgido de forma espontânea e ganhando força nas redes sociais. Segundo ele, o movimento, iniciado por um jovem comerciário do Rio de Janeiro, trouxe uma abordagem inovadora e acessível, tocando o coração e a mente dos trabalhadores.
“Na minha base, é impressionante como os trabalhadores perguntam se isso é real, quase como um sonho. A possibilidade de reduzir a jornada e ter duas folgas semanais é vista como uma conquista distante, mas essencial”, disse. Callais enfatizou que a adesão ao movimento VAT representa uma renovação da luta sindical, especialmente entre os jovens, que são os mais afetados por jornadas extenuantes e precarizadas.
Ao apresentar dados do Ministério do Trabalho e da PNAD/IBGE, Callais evidenciou a gravidade da situação. Cerca de 65% dos contratos formais de trabalho no Brasil estão submetidos à jornada 6×1, o que equivale a 32 milhões de trabalhadores. No trabalho informal, o cenário é ainda mais preocupante, com jornadas que frequentemente ultrapassam 44 horas semanais.
“O que deveria ser o limite máximo de horas trabalhadas virou o mínimo, e muitas vezes os trabalhadores enfrentam jornadas de 14, 16 horas. Isso é insustentável, especialmente no século XXI, com todos os avanços tecnológicos”, destacou.
O impacto da jornada na vida das mulheres
Callais fez um recorte de gênero, sublinhando que as mulheres são as mais penalizadas pela jornada 6×1, devido à dupla ou tripla jornada que inclui trabalho doméstico e de cuidado. “Essa escala é prejudicial para todos, mas pesa ainda mais sobre as mulheres, que enfrentam sobrecarga física e mental”, afirmou.
Falando a partir de sua experiência em Gramado, Callais relatou a realidade de trabalhadores que, em períodos de alta temporada, chegam a enfrentar jornadas sem folgas. “Ainda há empregadores que impõem escalas 7×0, desrespeitando totalmente os direitos básicos dos trabalhadores. Isso é inadmissível e precisa mudar”, criticou.
O papel do movimento sindical na mobilização
O dirigente da CTB enfatizou que o movimento sindical deve estar na linha de frente dessa luta, organizando campanhas salariais e mobilizações regionais. Ele mencionou que, no Rio Grande do Sul, o fim da jornada 6×1 já foi adotado como prioridade pela CTB estadual, com ações integradas entre sindicatos e movimentos sociais.
“Temos uma grande oportunidade de mobilização. Precisamos trazer trabalhadores para as ruas, organizar atos e demonstrar que essa luta é do interesse de todos, inclusive daqueles que hoje se alinham a pautas da direita e desconhecem que seus representantes são contrários a essas reivindicações”, afirmou.
Callais destacou o otimismo com a adesão da classe trabalhadora à pauta e reafirmou o compromisso da CTB e da juventude trabalhadora em liderar esse movimento. “Estamos prontos para transformar a sociedade, entregando aos trabalhadores o direito a uma vida além do trabalho. Essa é uma luta que exige unidade, mobilização e perseverança”, concluiu.
(por Cezar Xavier)