Adilson Araújo conduz Assembleia da CTB com participação de dezenas de sindicalistas e lideranças sociais.

Na abertura da Assembleia Geral da Classe Trabalhadora, realizada virtualmente nesta quinta-feira (5), Adilson Araújo, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), trouxe reflexões contundentes sobre os desafios enfrentados pelo movimento sindical e pela classe trabalhadora no Brasil. Entre os temas centrais destacados, estiveram a luta pela correção da tabela do Imposto de Renda, com isenção para rendas de até R$ 5 mil, a redução da jornada de trabalho sem diminuição salarial e a urgente necessidade de enfrentar os juros elevados que impactam negativamente a economia e a população.

O evento marcou o início de uma série de encontros destinados a fortalecer a luta dos trabalhadores por direitos e melhores condições econômicas e sociais. O dirigente sindical destacou a necessidade de uma maior articulação sindical para enfrentar desafios centrais, como a alta taxa de juros, a defasagem na tabela do Imposto de Renda e condições de trabalho precarizadas. Ele sugeriu uma estratégia de mobilização que inclui uma campanha salarial nacional unificada e ações de base ainda em dezembro.

Críticas ao desmonte do arcabouço sindical

Adilson Araújo iniciou seu discurso contextualizando os desafios enfrentados pelos sindicatos e movimentos trabalhistas desde 2016, após o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Segundo ele, o golpe trouxe uma série de reformas que “feriram de morte” o movimento sindical. Entre elas, destacou a reforma trabalhista, a reforma da previdência e a terceirização irrestrita, que desfiguraram os direitos históricos conquistados pelos trabalhadores brasileiros.

“O arcabouço sindical foi profundamente desfigurado, e as consequências disso recaem diretamente sobre os trabalhadores, que enfrentam um pleno emprego precário, marcado pela informalidade e pela precarização. Isso é reflexo de políticas que priorizam o liberalismo econômico e ignoram a necessidade de proteção social”, afirmou.

Defasagem da tabela do Imposto de Renda

O presidente da CTB destacou a necessidade urgente de corrigir a tabela do Imposto de Renda, que está defasada desde a última atualização significativa feita em 2015, durante o governo Dilma Rousseff. Um dos pontos mais enfatizados por ele foi a defasagem histórica na tabela do Imposto de Renda. Ele lembrou que a isenção para rendimentos de até R$ 5 mil é uma reivindicação antiga da classe trabalhadora, mas que ainda não foi alcançada. “A defasagem acumulada da tabela é gritante, chegando a 167%. Atualizá-la seria uma conquista muito mais significativa do que qualquer campanha salarial isolada nas últimas duas décadas”, disse.

Ele reconheceu os esforços do governo Lula para avançar nesse tema, mas apontou que os atuais valores de isenção, fixados em R$ 2.259, ainda estão aquém da promessa de campanha de R$ 5 mil. “Esse é um debate que precisa ser centralizado, pois a não correção da tabela penaliza especialmente os trabalhadores assalariados de baixa renda”, afirmou.

Segundo ele, a falta de atualização da tabela impacta negativamente todas as camadas da sociedade, especialmente as classes médias, que acabam arcando com uma carga tributária desproporcional.

Arcabouço fiscal e autonomia do Banco Central

Araújo criticou duramente o arcabouço fiscal defendido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, classificando-o como “carregado de mau gosto” por impor cortes em benefícios fundamentais, como o salário mínimo e o abono salarial. “É um despropósito adiar o debate sobre a reforma tributária na renda para 2025, enquanto os mais vulneráveis já sofrem os impactos das medidas de disciplina fiscal”, declarou.

O presidente da CTB também se posicionou contra a autonomia do Banco Central, que ele considera um entrave ao crescimento econômico. “Com juros mais altos que os praticados por países em guerra, o Brasil está sufocado. Sem crédito, sem investimento e com taxas de juros exorbitantes, os programas de desenvolvimento do governo Lula enfrentam grandes barreiras”, destacou. Araújo também abordou a política econômica vigente, apontando os altos juros como um entrave para o crescimento sustentável e a geração de empregos de qualidade. Para ele, a retomada do crescimento econômico, ainda que visível em alguns indicadores, não tem garantido condições dignas para os trabalhadores, devido à precarização e à informalidade.

“O que vemos hoje é um pleno emprego precário, onde o trabalho informal e de baixa qualidade predomina. Isso é resultado de um modelo econômico que privilegia o capital financeiro em detrimento do trabalho”, criticou.

Salário mínimo e previsibilidade

Outro tema tratado foi a política de valorização do salário mínimo, que, segundo Araújo, precisa de maior compromisso do governo. Ele apontou que as projeções de aumento salarial para 2025 indicam uma perda significativa para os trabalhadores, dificultando ainda mais a recuperação do poder de compra e o fortalecimento do mercado interno.

“A política de salário mínimo precisa estar conectada à realidade dos trabalhadores. A opção pelo congelamento em 2,5% já nos coloca em 2025 com perdas acumuladas. Isso desmotiva e agrava a desigualdade social”, pontuou.

Unidade e mobilização como caminhos

Adilson Araújo enfatizou a necessidade de união entre os movimentos sociais, sindicatos e trabalhadores para conquistar avanços concretos. Ele defendeu a retomada das mobilizações de rua como forma de pressionar o governo e sensibilizar a sociedade sobre a importância das pautas trabalhistas.

Adilson destacou que o ambiente virtual da Assembleia deve servir como um espaço de planejamento estratégico, mas reforçou a importância do trabalho direto nos locais de produção. “Precisamos levar as iniciativas ao chão de fábrica, ao local de trabalho. Essa conexão com as bases será fundamental para transformar nossas propostas em ações concretas e efetivas”, enfatizou.

“A luta pela correção da tabela do Imposto de Renda, pela redução da jornada de trabalho e contra os juros abusivos só terá sucesso se conseguirmos galvanizar o apoio popular. Precisamos de unidade para reverter esse quadro de precarização e construir um futuro mais justo para todos”, concluiu.

O dirigente sindical convocou a classe trabalhadora a se mobilizar por uma campanha salarial unificada e enfrentou questões como a defasagem na tabela do Imposto de Renda e os desafios impostos pelo arcabouço fiscal.

Campanha salarial unificada: foco na unidade e no diálogo

Uma das principais propostas apresentadas por Adilson Araújo foi a construção de uma campanha salarial nacional unificada, com o objetivo de debater temas prioritários para a classe trabalhadora. “Nós temos que enfrentar essa batalha e politizar o debate. A taxa de juros atual termina sendo um entrave ao crescimento econômico e à geração de empregos. Temos que ir para as portas de fábrica, dialogar no local de trabalho e mobilizar a base”, defendeu.

A campanha visa consolidar bandeiras como a correção da tabela do Imposto de Renda, que, segundo ele, reflete uma necessidade urgente diante das perdas acumuladas nos últimos anos. Além disso, Araújo destacou a importância de lutar contra escalas de trabalho exaustivas, como a escala 6×1, propondo que ela seja eliminada.

Araújo enfatizou a importância de unificar pautas e mobilizar trabalhadores de diferentes categorias. “Essa Assembleia é a primeira de muitas que virão. Precisamos construir um movimento que ganhe o chão das fábricas e os locais de trabalho, levando bandeiras que representam os interesses da classe trabalhadora”, declarou. Ele sugeriu ampliar a articulação com centrais sindicais e movimentos sociais para consolidar um movimento nacional de valorização dos salários.

“Temos motivação de sobra para engrossar esse caldo e lutar por uma economia mais justa. Essa Assembleia é o início de um movimento que pode reconfigurar a luta social no Brasil, colocando os trabalhadores no centro do debate sobre o futuro do país”, concluiu.

Entre festas e lutas

Ciente do calendário apertado com a proximidade das festas de fim de ano, Araújo sugeriu uma agenda de mobilização entre os dias 13 e 24 de dezembro. Ele propôs a realização de reuniões, assembleias, paralisações e a produção de materiais publicitários para engajar os trabalhadores. “É hora de sacudir a poeira, dar a volta por cima e recuperar o tempo perdido. O ano de 2025 será a antesala de uma batalha que vamos travar em 2026”, afirmou.

(por Cezar Xavier)