Nações Unidas condenam “ataques aéreos israelenses por toda a Síria”
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, condenou as “centenas de ataques israelenses por toda a Síria” que se multiplicam desde a derrubada do presidente Assad, destruindo toda a defesa militar do país – e defendeu a imediata retirada das tropas sionistas da zona desmilitarizada das estratégicas colinas de Golã.
Guterres disse estar “profundamente preocupado com as recentes e extensas violações da soberania e integridade territorial da Síria”, não só no vizinho Golã como em outras “áreas de separação” entre Israel e a Síria.
Israel não só agrediu as determinações do Conselho de Segurança da ONU e da sua Força de Observação de Desligamento (Undof) – criada em maio de 1974 para manter o cessar-fogo no montanhoso Golã e supervisionar as áreas de separação – mas se aproveitou da queda de Assad para avançar em território sírio, trucidando a população civil.
A declaração do chefe da ONU reiterou que o Acordo de Desengajamento de Forças de 1974 “permanece em vigor” e precisa ser mantido, “inclusive encerrando toda presença não autorizada na área de separação e abstendo-se de qualquer ação que possa prejudicar o cessar-fogo e a estabilidade no Golã”.
O porta-voz das Nações Unidas, Stéphane Dujarric, assinalou que essas ações, conforme a Força da ONU que ali opera há 50 anos, constituem uma “violação do acordo de 1974”, consagrado pelo Conselho de Segurança logo após a Guerra do Yom Kippur.
Também a Liga Árabe repudiou a agressão israelense à Síria, mais deletéria ainda tendo em vista a difícil situação humanitária e política vivida pela nação árabe.
Explicitando quais são seus planos o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu respondeu que “o acordo colapsou” e ordenou ao seu exército “que controlasse esta zona tampão e as posições de comando adjacentes a ela”.
O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, determinou que os militares se prepararem para seguir no Monte Hérmon, território sírio capturado esta semana e reforçou que para a lógica sionista “essa é uma medida de segurança extremamente importante”. “Devido às duras condições climáticas, é necessário criar instalações adequadas e preparativos especiais para a estadia dos soldados em Monte Hérmon”, acrescentou.
Especialistas da ONU confirmaram, quarta-feira (11), que os recentes ataques aéreos lançados por Israel contradizem o direito internacional, que não permite o desarmamento de um país de forma “preventiva”, porque este assunto poderia causar “caos global”.
O relator especial da ONU para os Direitos Humanos e Contraterrorismo, Ben Saul, alertou o governo Netanyahu que “não há absolutamente nenhuma base sob o direito internacional para desarmar um país de que não gostamos de forma preventiva”. “Se assim fosse, abriria a porta ao caos global, porque muitos países têm inimigos que gostariam de ver desarmados”, ressaltou o especialista australiano, especializado em direito internacional humanitário. “Não se pode seguir o inimigo onde quer que ele esteja no mundo e bombardeá-lo”, enfatizou.
Na última quinta-feira (12), a Al Qaeda na Síria – “renovada” como Hayat Tahrir al-Sham (HTS) – anunciou que estão suspensas a Constituição e o parlamento, primeira medida efetiva do novo governo interino, encabeçado pelo premiê Muhammad al-Bashir, recém-nomeado pelo ex-‘emir dos degoladores’ na Síria e, agora, “revolucionário de blazer”, segundo a CNN, Abu Mohammed al Jolani.
A Constituição, até aqui em vigor, permitiu que a sociedade síria fosse uma das mais democráticas e pluralistas do Oriente Médio, com respeito às religiões e diferentes etnias, ao contrário do que se vê em outros países do Oriente Médio. Isso era o que refletia o caráter progressista, secular e pluralista da revolução que lhe deu origem, ao Baath – partido do renascimento árabe e socialista – contemporânea de Nasser e Kadhafi.
Fonte: Papiro