Médicos Sem Fronteiras denunciam “campanha de destruição total de Gaza por Israel”
Denominado “Gaza: a vida numa armadilha mortal”, o relatório dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) divulgado nesta semana denunciou os repetidos ataques militares israelenses contra os civis palestinos nos últimos 14 meses, o desmantelamento do sistema de saúde e das demais infraestruturas essenciais, o cerco sufocante e a negação sistemática da ajuda humanitária.
“Durante mais de um ano, o nosso pessoal médico em Gaza testemunhou uma campanha incansável das forças israelenses, marcada pela destruição em massa, devastação e desumanização”, afirmou Christopher Lockyear, secretário-geral do MSF, que visitou o pequeno território de 360 km², considerado o maior presídio a céu aberto do mundo, onde viviam 2,3 milhões de habitantes. Sob a Faixa de Gaza, até o momento, Israel jogou mais bombas do que em toda a Segunda Guerra Mundial.
“As pessoas em Gaza estão lutando para sobreviver em condições apocalípticas, mas nenhum lugar é seguro, ninguém é poupado e não há saída deste enclave destruído”, descreveu Lockyear, denunciando que “palestinos foram assassinados em suas casas e em leitos de hospitais”.
“Nossas equipes testemunharam um padrão nos ataques: hospitais foram sitiados, alvos de bombardeios aéreos ou por terra, ambulâncias foram atingidas, pacientes e funcionários da saúde foram mortos”, revelou.
O coordenador do Médicos Sem Fronteiras explicou que os palestinos foram deslocados à força repetidas vezes para áreas totalmente inseguras. “As pessoas não conseguem encontrar nem mesmo as necessidades mais básicas, como alimentos, água potável, remédios e sabão em meio a um cerco e bloqueio punitivos”, acrescentou.
Conforme Lockyear, “a recente ofensiva militar no norte é uma ilustração gritante da guerra brutal que as forças israelenses estão travando em Gaza, e estamos vendo sinais claros de limpeza étnica, enquanto os palestinos são deslocados à força – 1,9 milhão de pessoas, 90% de toda a população –, presos e bombardeados”, diz Lockyear. “O que nossas equipes médicas testemunharam no local durante todo esse conflito é consistente com as descrições fornecidas por um número crescente de especialistas e organizações legais concluindo que está ocorrendo um genocídio em Gaza”, enfatizou.
De acordo com o coordenador do Médicos Sem Fronteiras, “os sinais de limpeza étnica e a devastação em andamento – incluindo assassinatos em massa, ferimentos graves à saúde física e mental, deslocamento forçado e condições de vida impossíveis para os palestinos sob cerco e bombardeio – são inegáveis”.
O número de 45 mil palestinos assassinados e 107 mil feridos – 70% mulheres e crianças -, é bastante conservador, uma vez que os mortos devido às consequências do colapso do sistema sanitário, a multiplicação de enfermidades e o bloqueio, como aponta o relatório. A Organização das Nações Unidas (ONU) prevê que mais de 11 mil pessoas permaneçam enterradas sob os escombros.
Durante o período de um ano coberto pelo relatório – de outubro de 2023 a outubro de 2024 – só a equipe de MSF sofreu 41 ataques e incidentes violentos, incluindo ataques aéreos, bombardeios e agressões violentas a instalações de saúde; fogo direto contra abrigos e comboios da organização; e detenção arbitrária de colegas pelas forças israelenses.
A equipe médica e os pacientes de MSF foram forçados a evacuar hospitais e centros de saúde em 17 ocasiões diferentes, muitas vezes literalmente correndo para salvar suas vidas. As partes em conflito conduziram hostilidades perto de instalações médicas, colocando em perigo pacientes, cuidadores e pessoal médico.
Os deslocamentos forçados de Israel empurraram os palestinos para condições de vida insuportáveis e insalubres. Por esse motivo, as equipes do MSF cuidam de um grande número de pessoas com doenças de pele, infecções respiratórias e diarreia, que aumentarão com a chegada do inverno.
As crianças não recebem vacinas essenciais, o que as torna vulneráveis a doenças como o sarampo e a poliomielite. O MSF observou um aumento no número de casos de desnutrição devido à insegurança generalizada e à falta de condições adequadas.
Em vez de adotar “medidas imediatas e efetivas para permitir o acesso a serviços básicos e a assistência humanitária que necessitam urgentemente os palestinos em Gaza”, condenou o Médicos Sem Fronteiras, as autoridades israelenses seguem impedindo que o MSF e outras organizações humanitárias prestem ajuda vital às pessoas cercadas pelos bombardeios. Até mesmo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina no Médio Oriente (UNRWA), o maior fornecedor de ajuda, cuidados de saúde e outros serviços vitais aos palestinos, foi barrada pelos agressores.
Ao mesmo tempo em que garante a necessária assistência ao centro e ao sul de Gaza, o MSF conclama Israel a pôr fim ao bloqueio ao território palestino e abrir as fronteiras terrestres vitais, incluindo a passagem de Rafah para permitir a imediata ajuda humanitária e médica. Como resultado desta política de apartheid, um número impressionante de feridos de guerra corre o risco de infecção, amputação e incapacidade permanente, e muitos necessitarão de anos de cuidados de reabilitação.
Fonte: Papiro