Braga Netto e Bolsonaro. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Mais da metade dos brasileiros acredita que Jair Bolsonaro (PL) tentou se manter no poder via golpe de Estado e uma ampla maioria também acha o país esteve sob risco de uma ruptura democrática entre o final de 2022 e o início do ano passado. Da mesma forma, é majoritário — embora tenha caído — o apoio da população à democracia. Tal quadro parece indicar que boa parte do povo está acompanhando os acontecimentos que envolvem a trama bolsonarista e não está disposta a apoiar ou embarcar numa aventura autoritária. 

Essas são algumas das constatações trazidas por pesquisa Datafolha publicada nesta quarta-feira (18). De acordo com o levantamento, 69% defendem a democracia como a melhor forma de governo, índice bastante positivo, mas um pouco abaixo do aferido pelo instituto em outubro de 2022, quando foi de 79%.

Naquele momento, talvez a exacerbação do senso político em meio à disputa entre centro-esquerda e extrema-direita, representadas por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), explique o grau mais elevado de apoio. O índice de então foi o maior captado desde 1989, quatro anos após o fim da ditadura militar e quando houve a primeira eleição em que o povo pôde votar diretamente para presidente. 

A pesquisa de agora mostrou, ainda, que para 17% tanto faz se a forma de governo é uma democracia ou ditadura, contra 11% em 2022. Os que acreditam que em certas circunstâncias a ditadura pode ser melhor totalizam 8%, ante 5% há dois anos; 6% disseram não saber. 

Analisando o recorte de gênero e classe social, os homens apoiam mais a democracia, 74%, dos que as mulheres, 64%. Da mesma forma, a maior adesão ao sistema ocorre entre os que ganham mais de cinco salários mínimos, 80%, ante 61% dos que têm renda de até dois salários mínimos. Por escolaridade, 87% dos que têm nível superior escolhem a democracia, contra 56% entre os menos instruídos. 

Chance de golpe e papel de Bolsonaro

Outro dado relevante da pesquisa é que 68% acreditam que de fato o país correu o risco de viver um golpe entre a vitória de Lula em 2022 e sua posse no ano seguinte. 

Nesse universo, 43% avaliam esse risco como tendo sido grande, frente a 17% que acreditam ter sido médio e 8% pequeno. Uma fatia de 25% diz que não houve esse risco. 

O levantamento também apontou que para 52%, não há hipótese de retorno da ditadura; já 21% acreditam que há alguma chance, mesmo percentual de quem vê uma grande possibilidade.  

Quanto ao papel do ex-presidente nesse contexto de possível ruptura democrática, 52% dizem que Jair Bolsonaro tentou viabilizar um golpe de Estado para se manter no poder, à revelia da vontade majoritária da população, que escolheu Lula como presidente. Os que disseram não acreditar nessa hipótese somam 39% e 7% não souberam opinar. 

Os que majoritariamente acreditam que Bolsonaro quis dar um golpe têm perfil mais próximo daquele alinhado a Lula: os menos instruídos (59%), mais pobres (60%) e nordestinos (64%). Na mão oposta, estão aqueles que perfilam mais com os apoiadores do ex-presidente: 47% têm curso superior, 49% são ricos, 50% são do Sul e 52%, evangélicos. 

Tal quadro revela a percepção da maioria da população quanto à trama urdida pelo ex-presidente, seu entorno e apoiadores e que tem sido alvo de investigações da Polícia Federal. 

A tentativa de golpe levou Bolsonaro a ser novamente indiciado no final de novembro, assim como seu ex-ministro e candidato a vice, o general Braga Netto, que acabou sendo preso no sábado. Ao todo, as investigações sobre as investidas antidemocráticas já levaram ao indiciamento de 37 pessoas, das quais 28 são militares. 

A pesquisa Datafolha foi realizada nos dias 12 e 13 de dezembro com 2.002 eleitores em 113 municípios. 


Com agências