Golpista da Coreia do Sul enfrenta tribunal sob acusação de traição
Após uma tentativa frustrada de golpe com imposição de lei marcial sobre a Coreia do Sul na terça-feira (3), o presidente Yoon Suk-yeol foi proibido de deixar o país, em meio a gigantescas mobilizações pela sua renúncia.
Uma nova votação pelo impeachment foi marcada pela Assembleia Nacional para quarta-feira (11), com o marionete dos EUA sentindo a corda cada vez mais bamba para se manter no poder.
No sábado (7), 192 parlamentares se pronunciaram pelo afastamento do arquirreacionário presidente, faltando tão somente oito votos adicionais do Partido do Poder Popular (PPP) – precisamente os de Yoon -, para concretizar a medida, que necessita do apoio de dois terços dos 300 da Assembleia.
A agência de notícias Yonhap apontou que uma equipe da Polícia Nacional está investigando o presidente, o renunciante ministro da Defesa, Kim Yong-hyun, o chefe do Estado-Maior do Exército, General Park An-su, e o ministro do Interior, Lee Sang-min, incriminados por “traição e outras acusações relacionadas por seus papéis na declaração e subsequente levantamento da lei marcial”.
Na noite de terça-feira (3) o presidente deu aos militares poderes emergenciais e fascistóides para erradicar com a oposição, a quem qualificou de “forças anti-Estado”. Tropas das forças especiais cercaram o prédio do parlamento, sobrevoado por helicópteros do exército. Os militares só bateram em retirada diante do rechaço unânime da revogação do decreto, o que forçou Yoon a suspendê-lo antes do amanhecer de quarta-feira (4).
A declaração de lei marcial havia sido a primeira desse tipo em mais de 40 anos na Coreia do Sul. A última vez foi em 1980, diante dos massivos protestos contra a ditadura pró-EUA, que abriram caminho para a redemocratização do país, a Revolta de Gwangju.
Com as ruas próximas da Assembleia completamente tomadas, dezenas de milhares de pessoas ergueram faixas e cartazes, entoaram palavras de ordem e cantaram músicas pela destituição de Yoon. Diante do volume de manifestantes, no final de semana, os trens do metrô não pararam nas estações próximas da concentração, completamente abarrotadas.
“A declaração desta lei marcial foi feita em meu desespero. Mas no decorrer de sua implementação, ela causou ansiedade e inconveniências ao público. Sinto muito por isso e peço desculpas sinceras às pessoas que devem ter ficado muito chocadas”, recuou Yoon, ao se ver obrigado a voltar atrás apenas seis horas depois do intento. O primeiro enfrentamento ao golpista foi feita pelos parlamentares que desafiaram os cordões militares e policiais para votar unanimemente contra o decreto.
O Escritório de Investigação de Corrupção para Altos Funcionários afirmou ter ordenado a proibição de viagens do presidente ao exterior e o Ministério da Justiça confirmou que a ordem foi executada, impedindo que fuja do país.
No domingo (8), o líder do PPP, Han Dong-hoon, fez um pronunciamento para que Yoon seja excluído de lidar com assuntos estrangeiros e de outros assuntos de Estado, e que o primeiro-ministro Han Duck-soo administraria o governo até que o presidente se afastasse definitivamente. A decisão de delegar autoridade presidencial ao primeiro-ministro mergulhou a quarta maior economia da Ásia em uma nova crise.
A oposição sul-coreana acusou o PPP de encenar um “segundo golpe” ao tentar se manter artificialmente no poder e se recusar a destituir Yoon. De acordo com o líder do Partido Democrata, Park Chan-dae, permitir que Yoon permaneça no cargo, mas delegar seus poderes ao primeiro-ministro e ao líder do PPP representa “uma flagrante violação constitucional, sem base legal”. Park enfatizou que é preciso que o PPP governista “pare com isso imediatamente”, pois “é um ato ilegal e inconstitucional de uma segunda insurreição e um segundo golpe”.
Fonte: Papiro