Genocidas israelenses aproveitam caos para roubar mais terras sírias
Aproveitando a entrada em Damasco – após blitzkrieg – dos terroristas do Hayat Tahrir al-Sham, o regime genocida israelense declarou “inválido” o acordo de armistício de 1974 com a separação de forças miitares israelenses e sírias nos altos do Golã. A seguir invadiu esta área tampão patrulhada por uma força de paz da ONU.
Seguiu adiante com coluna de tanques para ocupar a vizinha Quneitra e mais oito cidades da Síria.
Nas últimas 48 horas, bombardeou e afundou a frota naval síria e destruiu a maior parte da aviação e das defesas antiaéreas sírias, enquanto o ladrão de terras, açougueiro de Gaza, Netanyahu, gabava-se de que mais território sírio seria israelense “para a eternidade”.
O porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, assinalou que essas ações, conforme a Força de Observação de Desengajamento da ONU, que ali opera há 50 anos, constituem uma “violação do acordo de 1974”, consagrado pelo Conselho de Segurança logo após a Guerra do Yom Kippur.
Também a Liga Árabe repudiou a agressão israelense à Síria, mais deletéria ainda tendo em vista a difícil situação humanitária e política vivida pela nação árabe. “Atuando sob instruções do atual governo, a Síria apelou ao Conselho de Segurança e ao secretário-geral das Nações Unidas, exigindo que parem a agressão israelense”, disse o representante permanente da Síria na ONU, Qusay al-Dahhak, conclamando a impedir que Israel tire proveito nesse período de caos no país árabe.
Além das descaradas declarações de Netanyahu, no domingo o chefe do Estado-Maior israelense, tenente-general Herzl Halevi, afirmou que a Síria é considerada uma nova frente de guerra a partir desta data. “O que aconteceu com o regime anterior acontecerá com este regime também”, asseverou Netanyahu na terça-feira (10).
Uma declaração que mostra o caráter colonial e racista do regime israelense, pois nem os terroristas que Israel estimulou e com quem trocou mensagens de “entendimento” durante o assalto destes bandos articulados por Washington estão poupados da gana supremacista e de assalto sionista.
Qatar, Irã, Iraque e Arábia Saudita expressaram indignação com a apropriação de terras por Israel na Síria, chamando-a de um desenvolvimento perigoso e de uma violação do direito internacional.
Um representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano também descreveu estas ações como uma “violação” da Carta das Nações Unidas.
O Ministério das Relações Exteriores do Catar classificou a invasão israelense de “desenvolvimento perigoso e uma violação flagrante da soberania e unidade síria”.
A Arábia Saudita sublinhou que a agressão israelense ameaça a estabilidade da região e viola o direito internacional. Riad apelou à comunidade internacional para condenar as ações de Tel Aviv.
O Iraque juntou-se à condenação, dizendo que houve uma “grave violação do direito internacional” por parte de Israel e chamando o Conselho de Segurança da ONU a tomar medidas para deter a agressão.
Por sua vez, o Hezbollah apelou à comunidade internacional, especialmente os países árabes e islâmicos, para que detenham os ataques de Israel à Síria, realizados simultaneamente com as repetidas agressões militares no Líbano e Gaza.
Também o enviado especial da ONU para a Síria, Geir Pedersen, pediu a suspensão imediata dos bombardeios israelenses e dos movimentos de tropas na Síria. Alertou ainda para o “risco” de mais conflitos na Síria se todos os grupos étnicos não forem incluídos na transição pós-Assad.
Pedersen enfatizou a demanda generalizada de milhões de sírios pelo estabelecimento de arranjos de transição estáveis e inclusivos, conforme declaração divulgada no domingo.
Ele pediu a todos os sírios que se concentrem no diálogo, na unidade e na adesão ao direito internacional humanitário e aos direitos humanos enquanto trabalham para “reconstruir sua nação”. O enviado especial reafirmou seu compromisso de apoiar o povo sírio em seus esforços para alcançar um futuro estável e inclusivo.
A Rússia continua pressionando para que a situação na Síria se desenvolva nos termos do que a resolução 2254 propõe, de um processo político inclusivo, com a participação de todas as forças sociais e religiosas sírias, capaz de criar uma nova institucionalidade no país, e que preserve a soberania, unidade e integridade territorial do país (hoje com terras assaltadas por Israel e petróleo roubado pelos EUA).
Mesmo nessas condições mais complexas, nem a Rússia, nem o Irã, estão dispostas a abrir mão de apoiar a Síria e seu povo irmão e, inclusive, o terão de fazer com maior amplitude e sensibilidade, e de se relacionarem com todas as forças sírias.
Em seu primeiro discurso após a tomada de poder em Damasco, o ex-comandante da Al Qaeda do Iraque e da Frente Al Nusra, e agora capo do Hayat Tahrir al-Sham, Abu Muhammed al Golani, aliás, Ahmed al-Sharaa, fez questão de enfatizar a Washington e Tel Aviv que a ascensão dos salafistas era contra o Irã, não contra o imperialismo dos EUA ou a opressão colonial antipalestina israelense.
Tendo tomado um chá de butique para ficar bem diferente daquelas fotos dos bons tempos de chefe da decapitação no Levante, o recém repaginado Al Golani fez menção às “viúvas, órfãos e mártires” e saudou na milenar Mesquita Omíada de Damasco a “vitória da nação islâmica”.
“Este novo triunfo, meus irmãos, marca um novo capítulo na história da região, uma história repleta de perigos (que fez) a Síria de playground para as ambições iranianas, espalhando sectarismo, incitando a corrupção”, ele disse.
Al Golani garantiu que a intromissão iraniana tinha acabado assim como o acesso por terra de armas iranianas para o Hezbollah. Ele havia debutado nas telas da CNN, em uma cativante entrevista em que o regenerado emir da decapitação, com a barba meticulosamente aparada, foi mostrado como um ser em transformação, gerando até a ridícula expressão de “revolucionário de blazer”.
Falando algumas horas depois, Biden disse que tinha ouvido Golani “dizer as coisas certas”, mas insistiu que o “líder rebelde” fosse julgado por suas “ações”.
Na terça-feira, também foi empossado como primeiro-ministro interino até março o parceiro de gestão do enclave jihadista de Idlib, Muhammad al-Bashir, formado em Engenharia Elétrica e Direito da Universidade Sharia, em substituição a Mohammad Ghazi al-Jalali, que cumpriu por três dias a função regimental de entregar as chaves de Damasco a Al Golani.
Dependendo de para onde se olha, alguns sinais de “normalização” – como a reabertura de agências bancárias. Foi anunciado que as milícias fundamentalistas estão sendo retiradas das grandes cidades, para evitar atritos, e o patrulhamento está de volta para as forças policiais.
Mostrando a que vieram, elementos terroristas em Latakia executaram um primo do presidente Assad responsável pelo trabalho político junto às Forças Armadas. Vídeo que está circulando nas redes sociais mostra bando supostamente pró-turco entrando em um hospital em Manbij e metralhando soldados feridos, em suas camas.
Além de Israel, também estão bombardeando a Síria os turcos, que caçam curdos, e os norte-americanos, que dizem estar na cola de integrantes do Estado Islâmico.
Como há milhares de ex-integrantes do Estado Islâmico presos em campos de concentração controlados por milícias curdas associadas aos norte-americanos, ninguém sabe ao certo no que isso vai dar, já que a Turquia pretende varrer os curdos da fronteira.
O ex-agente da CIA e respeitado comentarista da cena internacional, Larry Johnson, ao observar a reviravolta na Síria, lembrou-se da proclamação, por W. Bush, da “missão cumprida” no Iraque, que deu no que deu.
“Lembra-se de todo o júbilo criado em Bagdá pela CIA, que contratou uma multidão que invadiu a praça central e derrubou a estátua de Saddam Hussein? Lembra-se das multidões saqueando os palácios presidenciais, bancos e lojas comerciais? Bem-vindo a Damasco 2024. Para citar Yogi Berra, ‘É Déjà vu, tudo de novo’.”
Quanto às “rolhas de champanha estourando na sede da CIA em McLean, Virgínia, e na sede do MI-6 em Londres”, Johnson observa que, “se os eventos subsequentes que se desenrolaram no Iraque em 2003 e na Líbia em 2011 servirem de guia, as celebrações devem ser temperadas com apreensão”, se referindo à possibilidade de que o HTS seja tentado a impor a estrita lei da Sharia, o que levaria o país a uma ditadura divisionista.
Johnson advertiu que o HTS “continua sendo um movimento salafista sunita fundamentalista”. Segundo ele, em termos de extremismo ideológico, “é primo dos grupos de colonos em Israel, que são representados por sionistas como Bezalel Smotrich – eles não negociam nenhum compromisso com ninguém”.
“Ao contrário de Assad, que manteve as igrejas cristãs abertas e protegeu as comunidades xiitas e alauítas, o HTS provavelmente perseguirá esses grupos. Isso significa que as enxurradas de refugiados voltarão para o Líbano, para o norte para a Turquia, para o oeste da Europa e para o leste para o Iraque”, preocupou-se.
Uma possibilidade, é bem verdade. Mas que pode vir a ser suplantada pelas forças vivas da nação, que façam da resolução 2254 da ONU, de negociação política, eleições e nova constituição, instrumento para pôr a revolução do renascimento árabe e socialista de volta aos trilhos, dentro do processo em curso no mundo de superação da iníqua ordem ditatorial norte-americana e do apartheid na Terra Santa, de que o repúdio ao genocídio dos palestinos de Gaza é o símbolo mais candente.
A Síria, secular, pluralista, plurirreligiosa, da revolução do Baath, depois de submetida por 13 anos a “1000 cortes”, caiu exangue no dia 8 de dezembro, quando sua capital, Damasco, foi tomada, sem combate, depois de pouco mais de dez dias de blitzkrieg fundamentalista, que levou de roldão Aleppo, Hama e Homs e arrancou a renúncia de Bashar, seguida de exílio na Rússia.
A Síria, sangrada por mil cortes – uma guerra induzida de fora para dentro, logo após a derrubada e assassinato de Kadhafi na Líbia, e despejo dos arsenais líbios, mais fundamentalistas trazidos do mundo inteiro, até gerar a convulsão no país, já “amaciado” pelas imposições do FMI.
300 mil mortos, milhões de deslocados, parte deles no exterior; decapitações, ódio e terrorismo. Bloqueio, sanções excruciantes, ocupação, pilhagem do próprio petróleo e trigo, pobreza asfixiante, apagões diários, inflação, desabastecimento e desvalorização da moeda.
Novo regime, outra bandeira síria, a que vigorou no período colonial francês nos anos 1920 e, já na independência, até 1963, de cor verde, branco e preto, e três estrelas, com o verde simbolizando o predomínio islâmico
A bandeira síria que deixa de ser usada, a das duas estrelas, e cores vermelho, branco e preto, é a que foi criada para a República Árabe Unida, quando as duas estrelas representavam respectivamente o Egito, de Nasser, e a Síria.
A propósito, foi sob a bandeira de 1920, que os árabes andaram, como se sabe, dando um sufoco nos colonialistas de então.
Fonte: Papiro