Dois poetas falam sobre Natal e Gaza
Às vésperas do Natal de 2024, o Prosa, Poesia e Arte publica dois poemas que tratam da celebração do 25 de dezembro.
O imenso poeta Alberto da Cunha Melo escreveu:
Natal
Longe do Olimpo, um deus nascia
roxo, a gritar, como os humanos,
um deus sem flâmulas nascia,
para os perdidos e os insanos;nada tinha do deus heleno
o deus menino sobre o feno,era um deusinho de brinquedo
no quintal do Império Romano,
era o deus do povo com medo,um deus sem sorte, palestino,
e sem teto, desde menino.
Já o grande poeta Gustavo Felicíssimo publicou:
Queda-te, Senhor, entre nós
Queda-te, Senhor, entre nós,
para que possamos mostrar-Te
o nome do Teu filho impresso
no cano de poderosos fuzis
e em antigos livros que unem
e separam os homens.
Queda-te, Senhor, entre nós,
para que possamos mostrar-Te
aquele franzino Davi
montado em poderosos helicópteros
e tanques de guerra
subjugando o seu irmão.
Queda-te, Senhor, entre nós,
para que possamos mostrar-Te
o choro desesperado da criança
sobre os escombros que soterraram seus pais
tornando-a mais uma entre milhões
de órfãos esquecidos de todas as guerras.
Queda-te, Senhor, entre nós,
para que possamos mostrar-Te
os silos e armazéns abarrotados
de milho e soja, trigo e açúcar
enquanto metade da humanidade não dorme
com medo da que não come.
(Inspirado em Josué de Castro)
Queda-te, Senhor, entre nós,
para que possamos, enfim, ver-Te
com estes olhos que a terra há de comer
e para que Possas também nos lembrar
+que a videira é seca, suja e torta:
que este vale é feito de lágrimas.