Olaf Scholz está em contagem regressiva para abandonar o governo

O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, enfrentou nesta segunda-feira (16) um golpe decisivo em seu governo ao perder o voto de confiança no Bundestag, o Parlamento alemão. A derrota, esperada após semanas de crise política, resultou na aprovação de uma moção que consolida o colapso de sua coalizão de governo.

Dos 736 parlamentares, 394 votaram pela dissolução do governo, 207 foram contrários e 116 optaram pela abstenção. O resultado abre caminho para a dissolução da atual legislatura e a convocação de eleições federais antecipadas, previstas para 23 de fevereiro de 2025, marcando o fim da breve era Scholz, que durou pouco mais de três anos. Cabe agora ao presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, decidir se dissolve o Parlamento, abrindo caminho para eleições gerais antecipadas.

Scholz, que chegou ao poder em 2021 como líder de uma inédita coalizão “semáforo” entre social-democratas (SPD), verdes e liberais (FDP), perdeu o apoio do FDP em novembro, tornando-se chefe de um governo minoritário.

A crise política que derrubou Scholz

A crise teve início em novembro, quando Scholz demitiu o ministro das Finanças, membro do Partido Liberal (FDP), por divergências sobre a condução da política econômica. A decisão causou a saída dos demais ministros liberais do gabinete, desmantelando a frágil coalizão tripartite formada por social-democratas (SPD), verdes e liberais.

Sem maioria parlamentar, Scholz perdeu a capacidade de governar em meio a um cenário doméstico e internacional desafiador. “Precisamos de um governo capaz de agir e tomar as decisões necessárias para o nosso país”, defendeu Scholz, justificando a demissão que desencadeou a crise.

Esta será apenas a quarta vez em 75 anos que a Alemanha, maior economia da União Europeia, realiza eleições antecipadas. A última votação desse tipo aconteceu em 2005, quando o então chanceler Gerhard Schröder também perdeu um voto de confiança, resultando na eleição que levou Angela Merkel ao poder.

O colapso do governo Scholz ocorre em um momento delicado para a Europa. A Alemanha enfrenta tensões crescentes com a Rússia devido à guerra na Ucrânia, além de pressões internas sobre energia, economia e transição ecológica. A crise alemã reflete uma instabilidade política que já afeta outros países do bloco, como a França, onde o governo enfrenta descontentamento popular.

Cenário eleitoral: novas lideranças e desafios

As pesquisas eleitorais apontam vantagem para a União (CDU/CSU), bloco de centro-direita liderado por Friedrich Merz. O partido de Scholz, os social-democratas (SPD), aparece atrás, seguido pelos Verdes, cujo líder e atual vice-chanceler, Robert Habeck, também está concorrendo ao posto de chanceler.

No entanto, mesmo que confirmado o favoritismo da CDU, Merz terá que negociar alianças para formar um governo de coalizão, dada a fragmentação política do Bundestag.

A eleição também deve marcar a ascensão de forças políticas antissistema, como a ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), que pode dobrar sua bancada, e a estreante Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), partido de esquerda. A AfD apresentou sua candidata, Alice Weidel. Apesar disso, a AfD permanece isolada politicamente, com outros partidos se recusando a formar alianças com o grupo.

O papel do presidente Steinmeier

Steinmeier tem agora 21 dias para decidir se dissolve o Bundestag e convoca novas eleições. Caso opte por essa medida, o pleito deve ocorrer em até 60 dias. Mesmo derrotado, Scholz permanece no cargo interinamente até que um novo Parlamento seja constituído.

Até lá, Scholz continuará como chanceler interino. A campanha eleitoral, no entanto, já começou de fato, com partidos intensificando seus esforços para conquistar eleitores.

A crise ressalta a complexidade de se governar com coalizões multipartidárias e coloca a Alemanha em um período de incertezas. A habilidade do próximo governo em formar consensos será crucial para a estabilidade do país e sua posição como líder na Europa.

Com as negociações para novas alianças em curso, a Alemanha caminha para um ano eleitoral marcado por disputas acirradas, enquanto tenta conciliar desafios internos e seu papel estratégico no cenário global.

Disputas e discursos na votação

A sessão do Bundestag se transformou em um palco de acusações entre líderes partidários. Scholz criticou seu ex-aliado, Christian Lindner, líder do FDP e ex-ministro das Finanças, acusando-o de “sabotagem política”. Lindner rebateu afirmando que Scholz demonstrou “incapacidade de liderar mudanças cruciais”.

Friedrich Merz, líder da CDU, atacou Scholz por sua gestão da crise econômica e sua postura frente à União Europeia. Já Robert Habeck, vice-chanceler e líder dos Verdes, defendeu o governo Scholz, atribuindo as dificuldades econômicas ao legado deixado por Angela Merkel.

A líder da AfD, Alice Weidel, criticou tanto Scholz quanto Merz, acusando-os de incompetência na gestão da economia e da crise migratória. Sahra Wagenknecht, fundadora da BSW, reforçou a narrativa de declínio, descrevendo o governo Scholz como “três anos de retrocesso”.

A crise política e a convocação de eleições ocorrem em um momento delicado para a Alemanha, que enfrenta inflação elevada, desaceleração econômica e desafios energéticos relacionados à guerra na Ucrânia. O resultado das urnas em fevereiro não apenas definirá o próximo chanceler, mas também a direção da maior economia da Europa em meio a um cenário de instabilidade regional e global.

(por Cezar Xavier)