China atenua política fiscal para estimular o crescimento econômico
Após mais de uma década sem grandes mudanças, a recente alteração na política monetária da China para “moderadamente atenuada”, particularmente do ponto de vista do controle fiscal, promete oferecer um apoio mais significativo ao crescimento econômico em 2025, registrou a agência de notícias Xinhua.
A decisão foi tomada na semana passada, na Conferência Central de Trabalho Econômico anual, sob o comando do presidente Xi Jinping.
O que significa – conforme a Xinhua – um afastamento significativo da abordagem dita “prudente” implementada nos últimos 14 anos. A última vez que essa abordagem de política monetária foi aplicada ocorreu em 2008, com o objetivo de amenizar os impactos da crise financeira global.
Segundo analistas, a mudança agora anunciada é uma reação às condições econômicas desafiadoras. Embora a economia chinesa siga uma trajetória de crescimento neste ano, com destaque para uma recuperação a partir de outubro, o país continua enfrentando “impactos adversos no cenário externo e dificuldades internas persistentes”.
Os conflitos geopolíticos globais estão se intensificando, e o protecionismo também vem crescendo. No âmbito interno, o país ainda enfrenta desafios, como a insuficiência da demanda doméstica, dificuldades operacionais em alguns setores e pressões sobre o crescimento do emprego e da renda dos indivíduos, afirmou Han Wenxiu, vice-diretor executivo do escritório do Comitê Central de Assuntos Financeiros e Econômicos.
“É um ajuste necessário e viável, fundamentado nas realidades atuais”, disse Huang Hanquan, chefe da Academia Chinesa de Pesquisa Macroeconômica, durante o último episódio do talk show da Xinhua Mesa Redonda Econômica da China.
A China precisa expandir a demanda interna, promover um crescimento moderado dos preços e criar condições favoráveis para enfrentar os riscos financeiros, acrescentou Huang. Ainda segundo o acadêmico, o ajuste na política monetária da China também está alinhado com as mudanças no ambiente global de liquidez.
Em resumo, a China está fazendo tudo ao contrário do manual do FMI de alta de juros, corte dos gastos sociais e arrocho salarial – e suas derivações alhures, bem intencionadas ou não.
Essa política monetária “moderadamente atenuada” trará para a China “um ambiente de crédito mais favorável, direcionando recursos financeiros para setores-chave e áreas vulneráveis da economia, como inovação tecnológica, bem-estar da população e setores de consumo”, segundo analistas.
Mudança que envia um sinal claro de que a China está comprometida com a estabilização do crescimento, o que deve aumentar a confiança do mercado, de acordo com Huang.
A Conferência Central de Trabalho Econômico confirmou que o país reduzirá o depósito compulsório e as taxas de juros no momento adequado para garantir que os crescimentos do financiamento social e da oferta monetária correspondam às metas esperadas de crescimento econômico e níveis de preços.
Atualmente, o depósito compulsório médio para as instituições financeiras está em 6,6%, o que sugere um espaço para futuras reduções, assinalou Wang Xin, chefe do Departamento de Pesquisa do BPC.
Por sua vez, Zeng Gang, diretor do Instituto de Finanças e Desenvolvimento de Shanghai, previu uma queda adicional nos custos financeiros gerais, o que deverá expandir a demanda interna e desbloquear o potencial de consumo e investimentos.
A China também precisa alocar mais recursos para setores ligados à transformação econômica, como novas forças produtivas de qualidade, atualização industrial e desenvolvimento verde, sublinhou Huang.
De fato, registra a Xinhua, a China intensificou o ajuste anticíclico e adotou uma política monetária de apoio diante da pressão de desaceleração este ano. O banco central chinês implementou dois cortes no depósito compulsório neste ano, liberando cerca de 2 trilhões de yuans (US$ 278 bilhões ou 1,7 trilhões de reais) em liquidez de longo prazo. Além disso, a principal taxa de empréstimo (LPR, sigla em inglês), índice referencial para empréstimos do mercado, foi reduzida três vezes.
Uma série de medidas também foi introduzida, incluindo cortes significativos nas taxas de juros para hipotecas de casas existentes e a criação de novas ferramentas de financiamento para o mercado de capitais, visando estabilizar o mercado imobiliário em crise.
A mudança de “expansão da demanda doméstica” para “expansão da demanda doméstica em todas as frentes” foi um dos destaques mais notáveis desta reunião de definição de agenda, disse o jornal Global Times, porta-voz oficioso do governo chinês.
“Esta nova abordagem implica uma estratégia global, abordando áreas como a produção e o fornecimento de matérias-primas, a inovação tecnológica, a participação do capital estatal e privado, o crescimento demográfico e o desenvolvimento de talentos e a criação de um mercado nacional unificado.”
O país deve se esforçar para aumentar o poder de compra e a disposição das pessoas para consumir por meio de vários incentivos políticos, promover novos impulsionadores para o crescimento do consumo e liberar o potencial da demanda interna por meio de reformas, disse Liu Rihong, do Centro de Pesquisa do Desenvolvimento do Conselho de Estado,
Para o pesquisador Xu Wei, a economia chinesa construiu vantagens significativas por meio do desenvolvimento de longo prazo, com nova urbanização, iniciativas verdes e digitalização continuando a impulsionar a demanda. Ele observou que a economia tem uma base sólida para suportar incertezas externas e alcançar uma recuperação sustentada.
Novas iniciativas de urbanização apresentarão oportunidades significativas de investimento no apoio à construção de infraestrutura. A demanda do mercado por tecnologias de informação de ponta, como inteligência artificial, computação em nuvem e Internet das Coisas, está pronta para sustentar um forte crescimento.
Os dados mais recentes também indicam a eficácia da política. No final de novembro, os empréstimos pendentes em yuan da China eram de 254,68 trilhões de yuans, um aumento anual de 7,7%. O M2 [depósitos à vista e moeda em poder do público], mais depósitos de poupança, títulos emitidos por instituições financeiras e depósitos a prazo] aumentou 7,1% e o financiamento social pendente cresceu 7,8%.
“O crescimento financeiro geral permaneceu estável e a liquidez foi adequada em um nível razoável, sugerindo um forte suporte contínuo à economia real”, comentou Wen Bin, economista-chefe do Banco Minsheng da China. O PIB da China cresceu 4,8% ano a ano nos três primeiros trimestres de 2024, e o país estabeleceu uma meta de crescimento econômico de cerca de 5% para o ano.
Notavelmente, desde setembro, a China lançou um pacote de políticas incrementais, incluindo programas de troca de bens de consumo, políticas imobiliárias de apoio e a emissão de títulos especiais do tesouro ultralongos para impulsionar a demanda doméstica e fortalecer o ímpeto econômico.
Em meio ao forte apoio político, vários indicadores econômicos mostraram fortes resultados. Por exemplo, as vendas no varejo, uma medida do consumo, cresceram 4,8% em outubro em relação ao ano anterior, acelerando em relação ao crescimento de 3,2% em setembro, de acordo com os últimos dados oficiais.
A mais importante reunião de definição dos rumos da economia na China decidiu, ainda, a adoção de uma política fiscal mais proativa, que aumentará a intensidade dos gastos fiscais, aumentará a emissão de títulos especiais do tesouro ultralongos e títulos especiais de governos locais e otimizará a estrutura de gastos fiscais.
Para Liu, uma política fiscal mais proativa será refletida tanto em escala quanto em velocidade, observando que as medidas delineadas sinalizam um aumento na escala das ações fiscais. Ele enfatizou a importância de acelerar a liberação e alocação de fundos fiscais para garantir que sejam rapidamente implementados em projetos, levando a um progresso tangível.
A conferência também enfatizou a otimização da estrutura de gastos fiscais e a melhoria da eficiência da utilização de fundos, prestando mais atenção à melhoria da subsistência das pessoas, promovendo o consumo e sustentando o ímpeto de crescimento.
Huang observou que, além de reduzir as taxas de reserva obrigatória e as taxas de juros bancárias, a política monetária frouxa também deve envolver a inovação de ferramentas financeiras destinadas a canalizar mais capital para o desenvolvimento de novas forças produtivas de qualidade, atualizações industriais e desenvolvimento verde, em linha com os esforços de reestruturação econômica da nação.
Fonte: Papiro