Em cartaz nos cinemas brasileiros desde 7 de novembro e com uma bilheteria de mais de 2,5 milhões de espectadores no País, Ainda Estou Aqui tenta ganhar tração na corrida rumo ao Oscar 2025. Dirigido por Walter Salles, o filme nacional mais visto nesta década é um ótimo drama histórico, inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva e ambientado nos anos de chumbo do regime militar.

Os primeiros prêmios já chegaram para Ainda Estou Aqui – e, ao longo de 2025, outros virão, uma vez que o longa está confirmado em diversos festivais. Mas, para chegar à cerimônia do Oscar, marcada para 2 de março, no Teatro Dolby, em Los Angeles, há duas datas-chave pela frente.

A primeira é 17 de dezembro, dia em que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anuncia os 15 pré-selecionados na categoria de melhor filme internacional. Ainda Estou Aqui foi inscrito como representante do Brasil – cada país pode indicar um único filme para a disputa. Os concorrentes têm de ser longas-metragens produzidos fora dos Estados Unidos, com mais de 50% de seu áudio original falado em qualquer idioma, menos o inglês.

Todos os membros da Academia podem votar nessa categoria, desde que tenham visto um número mínimo de filmes selecionáveis. Portanto, a próxima missão de Ainda Estou Aqui é assegurar uma vaga entre os 15 mais votados nessa primeira fase.

Caso avance, o longa brasileiro terá sua segunda data-chave um mês depois, em 17 de janeiro. É quando os cinco finalistas são formalmente indicados à estatueta de melhor filme internacional. Os produtores de Ainda Estou Aqui também buscam as indicações de melhor filme, melhor atriz (Fernanda Torres), melhor ator coadjuvante (Selton Mello), melhor direção, melhor roteiro adaptado e melhor edição.

História

Até hoje, uma única produção falada em língua portuguesa chegou lá. Em 1960, Orfeu Negro, filmado no Brasil, mas produzido pela França, ganhou o Oscar de filme estrangeiro (categoria depois renomeada para filme internacional). Já O Pagador de Promessas (1963), O Quatrilho (1996), O Que É Isso, Companheiro? (1998) e Central do Brasil (1999) – filmes 100% brasileiros – foram indicados na mesma categoria, mas não venceram.

O caso mais notável foi o de Cidade de Deus. Após ser esnobado em 2003 pela Academia – que não o selecionou entre os cinco filmes internacionais finalistas –, o longa recebeu indicações, no ano seguinte, em quatro categorias: melhor diretor (Fernando Meirelles), melhor roteiro adaptado (Bráulio Mantovani), melhor edição (Daniel Rezende) e melhor fotografia (César Charlone).

Embora o histórico do País na premiação não seja favorável, há trunfos importantes para Ainda Estou Aqui, a começar por sua já bem-sucedida carreira internacional. Logo na estreia, em setembro, o filme de Walter Salles foi aplaudido e ovacionado por quase dez minutos no Festival de Veneza, de onde arrebatou o prêmio de melhor roteiro.

Na semana passada, a National Board of Review, a mais antiga associação de críticos dos Estados Unidos, reconheceu Ainda Estou Aqui como uma das cinco melhores produções internacionais de 2024. Na segunda-feira (9), o longa brasileiro foi indicado a duas premiações no Globo de Ouro 2025: melhor filme em língua estrangeira e melhor atriz de drama (Fernanda Torres). Por fim, nesta quinta-feira (12), outra associação norte-americana de críticos de cinema, a Critics Choice Awards, indicou Ainda Estou Aqui como um dos concorrentes ao prêmio de melhor filme de língua estrangeira.

A disputa

O chamado “boca a boca” é fundamental para que mais e mais votantes na Academia assistam a produções estrangeiras. Ao menos na categoria de melhor filme internacional, não existe vitória espontânea: todos os filmes premiados nos últimos 15 ou 20 anos cumpriram uma intensa agenda de promoção – ou, vá lá, lobby. Em busca de votos, Ainda Estou Aqui está fazendo a lição de casa.

À parte qualquer estratégia, convém cautela. O próprio produtor, Rodrigo Teixeira, não aposta em sete indicações. “Acho que melhor filme estrangeiro, melhor direção e melhor atriz são categorias que estão mais próximas”, disse Rodrigo em outubro, na pré-estreia para a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Contendo-se a euforia e dando voz a especialistas em Oscar – jornalistas, críticos e gente do cinema –, é possível cravar algumas possibilidades. Não está no radar, por exemplo, uma vitória de Fernanda Torres como melhor atriz. Se a brasileira vencer, será uma zebra, a despeito de sua grande atuação.

Publicações e premiações que funcionam como uma prévia do Oscar apontam para uma provável vitória da jovem Mikey Madison, por sua atuação em Anora. Correm por fora Karla Sofia Gaston (Emilia Perez), Angelina Jolie (Maria), Nicole Kidman (Babygirl) e Marianne Jean-Baptiste (Hard Truths).

O Oscar de melhor filme internacional, porém, é uma possibilidade real. Há certo consenso de que Ainda Estou Aqui pode se tornar o primeiro longa brasileiro a vencer o Oscar em quase cem anos. Não lhe faltam credenciais técnicas, narrativas e artísticas. E o mais importante: não lhe falta uma boa campanha promocional. A sorte está lançada para Ainda Estou Aqui e para o cinema nacional!