Relatório ao G20 aponta o Brasil como maior pagador de juros em relação ao PIB
Entre as grandes economias do mundo, o Brasil é o que paga o preço mais alto pelos juros da dívida pública em relação ao PIB (Produto Interno Bruto). A constatação vem de relatório do FSB (Conselho de Estabilidade Financeira) enviado ao encontro da cúpula do G20, aberto nesta segunda-feira (18) no Rio de Janeiro.
A dívida pública brasileira era de 84,7% do PIB em 2023, enquanto os juros pagos correspondiam a 6% do PIB. O custo elevado da dívida depende de seu tamanho, mas é a decisão de manter a taxa básica de juros (Selic) do país em dois dígitos – enquanto países com dívidas em relação ao PIB ainda maiores praticam taxas próximas ao zero – que tem mais impacto sobre esse valor.
O FSB avaliou 24 países e o Brasil aparece em primeiro lugar nos gastos com juros da dívida. A Argentina, por exemplo, cuja dívida representava 154,5% do PIB no ano passado – ou seja, quase o dobro da brasileira – destinou 2,4% do PIB para pagamento de juros.
No Japão, a dívida pública em relação ao PIB é de 252,3% – mas, praticando juros básicos negativos, apenas 0,12% do produto interno é destinado aos juros da dívida.
Segundo a apuração do Valor Econômico, com base no levantamento do FSB, o pagamento de juros da dívida alcançou R$ 649 bilhões em 2023 – valor quatro vezes maior que o orçamento anual do Bolsa Família, principal programa de transferência de renda do país.
Em doze meses, até agosto deste ano, segundo dados do Banco Central do Brasil, a transferência de recursos do setor público para pagamento de juros alcançou a quantia de R$ 855 bilhões.
Neste mês, em meio a discussões e pressões para que o governo controle os gastos públicos, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central voltou a subir a taxa básica da economia (Selic) em 0,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano. Os dados da FSB evidenciam onde está o problema com o equilíbrio das contas públicas.
DIVIDA PÚBLICA
DIVIDA (% do PIB) / PAGAMENTO DE JUROS (% do PIB)
EMERGENTES
BRASIL—- 84,6—– 5,96
MÉXICO— 53,0 —- 5,83
INDIA— 82,7 —- 5,26
AFRICA DO SUL—73,9 —- 4,96
ARGENTINA— 154,5—- 2,39
INDONESIA—39,9 —- 2,10
TURQUIA— 28,8 —– 1,84
CHINA—83,6 —- 0,94
RUSSIA— 19,6—- 0,25
ARABIA SAUDITA—26,2 -0,03
DESENVOLVIDOS
ITALIA—137,2—- 3,61
ESTADOS UNIDOS— 122,1—- 3,01
REINO UNIDO— 101,0—- 2,46
ESPANHA—107,4—-1,87
FRANÇA— 110,6—- 1,68
AUSTRALIA— 49,3—- 1,15
ALEMANHA—- 64,2—– 0,69
HOLANDA—- 47,1—– 0,58
CANADÁ—- 107,1—- 0,50
JAPÃO—252,3—- 0,12
SUÍÇA—- 38,3—- 0,11
HONG KONG— 6,4—- -2,3
COREIA—- 55,1— -0,15
CINGAPURA—-162,1
FONTE: Relatório do FSB para o G20/BIS, FMI, JP Morgan, cálculos do FSB (Reproduzido do Valor)
Fonte: Página 8