Papa Francisco | Foto: AFP

O papa Francisco defendeu neste domingo (17) investigação sobre o genocídio em Gaza. “Segundo alguns especialistas é isso o que está acontecendo”, frisou, pois “genocídio” é a “definição técnica formulada por juristas e organismos internacionais” para um crime de tamanha magnitude. Este foi um forte pronunciamento de Francisco contra o massacre de mais de 40 mil palestinos por forças israelenses em Gaza – 70% deles mulheres e crianças.

No livro “A esperança nunca decepciona. Peregrinos em direção a um mundo melhor”, que o jornal italiano La Stampa antecipou trechos para o Jubileu 2025, Francisco manifesta sua solidariedade com os que sofrem com a brutalidade da agressão. 

“Penso sobretudo em quem deixa Gaza no meio da fome que atingiu os irmãos palestinos diante da dificuldade de fazer chegar comida e ajuda ao seu território”, declarou, salientando que neste momento “a dignidade de cada homem e de cada mulher devem ser a nossa preocupação central”.

O Papa saúda e reforça a solidariedade expressa por países irmãos e nações que se encontram de “portas abertas e que continuam a ser a salvação para milhões de pessoas que fogem dos conflitos naquela zona”.

Na obra, Francisco reflete sobre geopolítica, família, clima, educação, realidade social, economia mundial e migração. De forma enfática, o pontífice condena “a globalização da indiferença” à qual propõe que se deva responder “com a globalização da caridade e cooperação”, sobretudo em questões como os atuais fenômenos de migração.

Perante a complexidade e a magnitude deste desafio, ressaltou o papa, “nenhum país pode ficar sozinho e ninguém pode pensar em enfrentar a questão de forma isolada através de leis mais restritivas e repressivas, às vezes aprovadas sob a pressão do medo ou para obter vantagens eleitorais”. Para a superação conjunta de tamanhos obstáculos, o líder religioso defendeu que “se humanizem as condições dos imigrantes”. “Os países com os maiores fluxos migratórios devem ser envolvidos num novo círculo virtuoso de crescimento econômico e de paz que inclua todo o planeta“, sublinhou.

E para que a imigração seja uma decisão verdadeiramente livre, reforçou, é necessário fazer todo o possível para assegurar a participação igualitária no bem comum a todos, bem como o respeito pelos direitos fundamentais e o acesso ao desenvolvimento humano integral. Daí a necessidade de que se favoreça o desenvolvimento integral dos migrantes “e que se lhes dê a oportunidade de se realizarem como pessoas em todas as dimensões que compõe a humanidade prevista pelo criador”.

Por outro lado, uma migração bem administrada, avalia Francisco, “poderia ajudar a enfrentar a grave crise causada pela desnacionalização em muitos países, especialmente europeus”. “É um problema muito sério e as pessoas que chegam de outras nações podem contribuir a resolvê-lo se forem totalmente integradas e deixarem de ser consideradas cidadãos de ‘segunda classe’”, assinala.

“Para alcançar este cenário devemos dar o passo preliminar fundamental de pôr fim às condições comerciais desiguais entre os diferentes países do mundo”, esclareceu o papa, denunciando a atual realidade “que só consiste numa transação entre filiais que pilham os territórios dos países mais pobres e enviam os seus produtos e receitas” para os países centrais, onde encontram-se instaladas as matrizes.

“Vêm-me à mente, por exemplo, os setores ligados à exploração dos recursos naturais subterrâneos. São as veias abertas destes territórios”, descreveu Francisco, em referência ao escritor uruguaio Eduardo Galeano, autor da obra As veias abertas da América Latina.

“Que a dignidade de cada homem e de cada mulher seja a nossa preocupação central no momento de construir um futuro do qual ninguém seja excluído. Não se trata mais apenas de garantir a continuidade da espécie humana em um planeta cada vez mais ameaçado, mas de assegurar que essa vida seja respeitada em todos os momentos”, conclamou. 

Organizado por Hernán Reyes Alcaide (Edições Piemme), o livro do papa Francisco estará nas bancas da Itália, Espanha e América Latina na próxima terça-feira (19), e depois em vários outros países.

Fonte: Papiro