Em 2023, quando a Iniciativa do Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative, ou simplesmente BRI) completou dez anos, o governo chinês reuniu lideranças de diversos países na capital, Pequim, para celebrar os resultados. Àquela altura, a China já havia realizado investimentos da ordem de US$ 1 trilhão na “nova rota da seda”, levando projetos de infraestrutura e desenvolvimento a mais de 150 países.

Ao estabelecerem cinturões terrestres e rotas marítimas na Ásia, Europa, África e América, fortalecendo seu poderio geopolítico e impulsionando o PIB global, os chineses atraíram parcerias com muitas das principais economias do mundo. Curiosamente, o governo brasileiro, parceiro da China nos Brics (o principal bloco comercial dos países emergentes), não aderiu à Iniciativa.

Até hoje, com exceção do Paraguai, o Brasil é a única nação da América do Sul que permanece de fora do BRI. Nestes 11 anos, o País já teve quatro presidentes – Dilma Rousseff, Michel Temer, Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva –, mas nenhum deles avançou efetivamente nas tratativas.

Um estudo elaborado pelo Observatório Internacional da Fundação Maurício Grabois (FMG) e divulgado na semana passada mostra que, apesar desse histórico, o Brasil tem muito a ganhar caso participe do projeto chinês. Conforme os “especialistas” consultados pelo Observatório, é real o risco de o País sofrer pressões dos Estados Unidos.

Ainda assim, o Brasil não deve se furtar a discutir uma “eventual participação” a BRI – mas “em nível elevado, com foco em ganhos mútuos, com clareza dos interesses brasileiros e buscando maximizar as oportunidades dali derivadas”. Segundo o estudo, o debate “deve ser pautado pelo interesse nacional e pela perspectiva de construção e implementação de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento para o País”.

E mais: a própria demora em demarcar posição em definitivo pode custar caro ao Brasil em termos diplomáticos. De acordo com o estudo, se houver “mais adiamentos”, o País pode desperdiçar “o bom momento para uma discussão em que haja vantagens reais para o lado brasileiro”.

Sobre o “temor de esgarçamento de relações” com os Estados Unidos, o estudo lembra que nenhum dos atuais participantes da Nova Rota da Seda teve retaliações ou embargos. Além disso, o BRI não impõe “alinhamento político” automático à China, uma vez que seu foco é na “cooperação para o desenvolvimento”.

Assim, o estudo Observatório da FMG conclui: “O Brasil precisa ter clareza sobre o papel da parceria estratégica global com a China no seu Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, e saber replicar, sem alinhamentos automáticos, estratégias que o próprio Brasil utilizou em sua arrancada industrial, adaptadas ao tempo”. Clique no link abaixo para ler a íntegra do estudo.

Observatório da FMG: O Brasil, a América do Sul e a proposta chinesa da Inciativa Cinturão e Rota