Presidente Lula durante entrevista à CNN Internacional que foi ao ar nesta sexta-feira (8) - Foto: Reprodução/CNN Internacional

O presidente Lula concedeu entrevista a à jornalista Christiane Amanpour, da CNN Internacional, veiculada na última sexta-feira (8). Na conversa trataram sobre a eleição dos Estados Unidos, o conflito entre Rússia e Ucrânia, desmatamento, reforma da ONU, entre outros assuntos.

Com trechos veiculados pelo Palácio do Planalto, é possível observar a relação republicana com que o presidente brasileiro deve conduzir as relações com os Estados Unidos a partir do próximo ano, quando Trump volta à presidência. Para tal lembrou de como conduziu a política externa na época de Bush e Obama.

“Somos parceiros há muitas e muitas décadas, e eu acho que o estoque de investimento dos Estados Unidos e do Brasil é muito grande. Eu acho que dois chefes de Estado, quando se encontram, nós temos que conversar sobre os interesses dos Estados Unidos e os interesses do Brasil, o que será importante na relação de dois chefes de Estado. E já tive uma belíssima relação com o Bush, quando eu tomei posse em 2003, diziam que eu ia ter dificuldade de ter relações com o Bush, e foi uma relação extraordinária. Eu tive uma boa relação com o Obama e tenho uma boa relação com o presidente Biden. E essa relação deve continuar, porque dois chefes de Estado, quando eles se encontram, o que prevalece é o interesse do Estado, não é o interesse pessoal”, afirmou.

“E eu quero dizer claramente ao povo americano: eu terei com o presidente Trump uma relação de respeito como chefe do Estado brasileiro. E eu espero que ele tenha uma relação de respeito com o Brasil como chefe do Estado americano. Ora, se nós estabelecemos essa linha de comportamento, de civilidade, de respeito, o resto fica tudo muito mais fácil”, completou Lula sobre Trump.

Guerra entre Rússia e Ucrânia

Sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia o presidente sublinhou que o Brasil foi um dos primeiros a criticar os russos, não sendo correta a ocupação. Além disso, ressaltou que o Brasil é um país de paz e recusou se envolver na guerra, ainda que de forma indireta, com venda de armas.

Lula ainda lembra que está disposto a discutir com ambos os países quando estes quiserem falar sobre iniciativas que rumem para a paz.

“É por isso que nós fizemos uma proposta junto com a China, que tem seis pontos, e esses pontos só poderão ser conversados efetivamente com os dois presidentes. Nós já participamos de várias reuniões, eu já encontrei com o Zelensky em Nova York, eu já conversei com o Putin por telefone. Por enquanto nenhum dos dois quer discutir paz. Quando eles quiserem discutir paz eu estarei disposto a participar em qualquer fórum para discutir a paz”, colocou.

Em específico sobre o presidente russo, Vladimir Putin, negou proteção a ele, ressaltou que não é interesse ter a Rússia isolada e disse que se ele viesse ao G20 outros líderes poderiam se negar a participar das reuniões, o que seria desconfortável.

“O que eu acho é que nós precisamos trabalhar para que essa guerra acabe de uma vez por toda e o Putin volte a conquistar o direito, de forma civilizada, de andar no mundo e participar dos eventos. Não é importante para o mundo que quer construir democracia haver um presidente de um país importante como a Rússia isolado, porque ele tomou uma decisão e o Tribunal Internacional o julgou. Eu acho que é importante que a gente saiba que as coisas do Putin vão ser resolvidas quando acabar a guerra com a Ucrânia. Aí ele pode participar de uma reunião do G20 como pode participar o Zelensky. O Zelensky poderia ser convidado. Acontece que eu não quero discutir a guerra da Ucrânia e da Rússia no G20. Eu quero discutir a questão da Aliança Global Contra a Fome”.

Desmatamento

Quando questionado sobre desmatamento, Lula lembrou que tomou a decisão de acabar com o desmatamento na Amazônia até 2030, além de pontuar que o país tem uma matriz energética limpa, o que está alinhado aos interesses mundiais da questão climática.

“Eu espero que os países ricos contribuam com o dinheiro que eles têm que contribuir, porque manter a floresta em pé custa dinheiro […] Porque eu não estarei cuidando apenas da Amazônia. Eu estarei cuidando do planeta Terra, que interessa aos Estados Unidos, que interessa à China, que interessa à Rússia, que interessa ao México, que interessa ao Chile, ou seja, por isso as pessoas têm que ter consciência de que manter a floresta em pé na Amazônia da América do Sul, no Congo e na Indonésia tem um preço. E as pessoas têm que pagar e é isso que nós queremos fazer com que esse crédito de carbono volte a funcionar de verdade para ajudar os países que vão manter sua floresta em pé”, explicou.

Reforma das Nações Unidas

Outro tema tratado foi sobre a reforma da ONU (Organização das Nações Unidas). O presidente vem salientando o tema há tempos, inclusive na Assembleia Geral da entidade. Para ele é necessário maior participação do Sul Global nas decisões.

“Lamentavelmente a ONU está enfraquecida. É importante que a gente volte a valorizar a ONU, que a gente mude os componentes da ONU. Ou seja, não pode ficar só de 45 (1945). É importante que a gente tenha mais gente, que a África participe, que a América Latina participe, para que a gente possa ter uma ONU mais representativa e, quando ela tomar decisão, a gente tenha que cumprir. Porque senão não vale nada tomar decisões nos fóruns internacionais. Nós precisamos ter uma governança mundial forte para que a gente possa aprovar as coisas, decidir as coisas, e cumprir aquilo que a gente aprova e que a gente decide”.

Reeleição

Questionado sobre sua idade e chance de ser novamente candidato, o presidente disse que o seu compromisso é entregar o país estabilizado, com a economia em crescimento. Dessa maneira, falou que só pensará nisso em 2026, que não afirmou em nenhum momento que será candidato à reeleição, mas que se chegar a hora e o seu nome for unanimidade para enfrentar candidatos negacionistas, estará disposto, ainda que prefira que novas lideranças ocupem este espaço.

“Então, se chegar na hora, os partidos entenderem que não tem outro candidato para enfrentar uma pessoa, sabe, de extrema direita, que seja negacionista, que não acredite na medicina, que não acredite na Ciência, obviamente que eu estarei pronto para enfrentar. Mas, eu espero que não seja necessário. Eu espero que a gente tenha outros candidatos e que a gente possa fazer uma grande renovação política no país e no mundo”, concluiu.