Funcionários da BBC denunciam cobertura que esconde crimes de Israel em Gaza
Centenas de profissionais da imprensa, historiadores, atores, acadêmicos e políticos remeteram uma carta ao diretor geral da BBC, Tim Davie, e à diretora executiva, Deborah Turness, acusando a corporação pública de rádio e televisão do Reino Unido de dar cobertura favorável a Israel em suas reportagens sobre a Guerra em Gaza, e condenando sua falta de “jornalismo preciso baseado em evidências”.
“Os princípios jornalísticos básicos têm faltado quando se trata de responsabilizar a Israel por suas ações”, afirma o documento divulgado pela primeira vez pelo jornal The Independent, na sexta-feira (01), incluindo assinaturas de pelo menos 100 funcionários da própria BBC.
“As consequências da cobertura inadequada são significativas. Cada reportagem de televisão, artigo e entrevista de rádio que falhou em desafiar vigorosamente as alegações israelenses desumanizou sistematicamente os palestinos”, assinala a carta.
Os signatários pediram à BBC que implemente compromissos editoriais, incluindo “reiterar que Israel não dá acesso a jornalistas externos a Gaza; deixar claro quando não há evidências suficientes para respaldar as alegações israelenses; deixar claro quando Israel é o perpetrador das ações nas manchetes dos artigos; incluir contexto histórico regular anterior a outubro de 2023; e desafiar vigorosamente o governo israelense e os representantes militares nas entrevistas”.
A COBERTURA MINA SUA IMPARCIALIDADE
Os assinantes do documento enfatizaram o “alto nível de confiança” da BBC como uma emissora pública financiada pelos contribuintes, alertando que a cobertura da guerra de Gaza pode minar sua “imparcialidade” e colocar sua “independência em sério risco”.
“Nunca, em toda a nossa carreira, testemunhamos níveis tão baixos de confiança da equipe”, eles disseram. “Têm colegas que deixaram a BBC nos últimos meses porque eles simplesmente não acreditam que nossas reportagens sobre Israel e Palestina sejam honestas. Muitos de nós nos sentimos paralisados pelos níveis de medo”, manifestaram.
Dos signatários, só poucos assinaram publicamente, incluindo a ex-ministra das Relações Exteriores e apresentadora do Reino Unido, Baronesa Warsi, a atriz do filme Emma, Juliet Stevenson, o historiador William Dalrymple, a Dra. Catherine Happer, professora sênior de sociologia e diretora de mídia da Universidade de Glasgow, Rizwana Amid, diretora do Centro de Monitoramento de Mídia, e o locutor John Nicolson.
Em novembro de 2023, mais de um mês após Israel ter iniciado a guerra em Gaza, jornalistas do Reino Unido escreveram uma carta à Al Jazeera denunciando que a BBC é culpada de um “duplo padrão na forma como os civis são vistos”, dado que é “inflexível” em suas reportagens sobre supostos crimes de guerra russos na Ucrânia, deixando de divulgar informações precisas sobre os fatos cometidos pelas forças lideradas por Zelensky.
“Esta organização não nos representa”, disse um dos coautores à Al Jazeera.
Fonte: Papiro