Empresa terceirizada proíbe crianças de repetir merenda em escolas de São Paulo
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As escolas municipais da zona sul de São Paulo, estão impedindo os estudantes de repetirem a refeição servida nas merendas. Pais de alunos e funcionários das escolas denunciaram o descaso com as refeições servidas para as crianças.
A empresa terceirizada responsável pelo fornecimento dessas refeições é a Sepat Multi Service LTDA, com sede em Joinville (SC), que passou a operar sob contrato com a Prefeitura de São Paulo a partir do dia 1º deste mês.
A empresa fornece merendas para 190 instituições de ensino sob responsabilidade da Diretoria Regional de Ensino (DRE) de Campo Limpo, como escolas infantil (EMEI) e fundamental (EMEF), educação especial (EMEBS), de jovens e adultos (EJA) e os CEUs (Centro Educacionais Unificados).
O cardápio diário da rede pública prevê lanche, refeição e sobremesa. Para atender a DRE Campo Limpo, a prefeitura pagará quase R$ 12 milhões por mês à Sepat.
A medição que define o valor a ser pago pela prefeitura à empresa é baseada na quantidade de refeições servidas diariamente. Cabe à direção da unidade de ensino entregar este levantamento às diretorias regionais de ensino com o número de refeições servidas e, inclusive, uma observação quanto a avaliação de desempenho do serviço prestado.
A empresa alega que segue a diretriz da Prefeitura de São Paulo, enquanto a Secretaria Municipal de Educação diz que refeições e frutas de sobremesa são disponibilizadas para alunos na quantidade que desejarem.
A gestão do bolsonarista Ricardo Nunes (MDB) alegou que o departamento de nutrição da pasta recomenda a oferta de um lanche para cada estudante por dia “para evitar que o aluno reduza o interesse no consumo da refeição seguinte (almoço ou jantar), com maior valor nutricional”.
A região, no extremo da zona sul, está entre os dez distritos da capital com os menores indicadores do Mapa da Desigualdade, elaborado pela organização Rede Nossa São Paulo. O ranking leva em consideração indicadores em áreas como educação, habitação, saúde e trabalho e renda.
Uma diretora e uma professora contam sob anonimato que a alimentação dos alunos autistas está sendo negligenciada pela nova empresa. Isto porque, segundo elas, a criança autista que possui seletividade alimentar não está sendo atendida de acordo com a sua demanda.
A professora contou que, nesta terça, uma criança com autismo que só come arroz recebeu o prato com todos os ingredientes: feijão carioca, arroz, strogonoff de frango e batata rústica.
A nutricionista Sabrina Theil, criticou a impossibilidade do aluno em repetir a fruta. “Pode acontecer, sim, de preferirem comer lanches ao invés de refeição completa. Mas [vetar] depende do contexto geral. A escola pública é muitas das vezes fonte de alimentação para crianças com insegurança alimentar”, afirmou Theil.
“Em relação à repetição da fruta, não vejo problema, até porque se é uma criança que vive em insegurança alimentar é uma forma de garantir a quantidade necessária de nutrientes, principalmente vitaminas e minerais”, prosseguiu a nutricionista.
Para a União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES-SP), “é um absurdo a Prefeitura de São Paulo permitir que empresas terceirizadas proíbam a repetição dos lanches e entregar apenas metade de uma fruta ou uma bolacha nos horários do desjejum e os lanches de intervalo das crianças”.
“Diversas crianças em regiões de vulnerabilidade dependem de uma refeição de qualidade que a maioria das vezes encontrava dentro das escolas, a Prefeitura está causando um retrocesso na cidade em privatizar a gestão alimentar nas creches. Colocando em risco o desenvolvimento cognitivo e nutricional das crianças, em proibir a repetição e diminuir a oferta dos alimentos, ignorando as necessidades nutricionais desse grupo”, afirmou a entidade.
“Denúncias como esta estão vindo do Capão Redondo, Zona Sul, mas outras regiões já estão apresentando esse descaso com a alimentação dos alunos. Precisamos nos organizar urgentemente e lutar pela volta da repetição dos lanches” afirmou a entidade.
Fonte: Página 8