Ataques racistas e elitistas de estudantes da PUC contra alunos da USP levam a demissões e investigação
Um vídeo que viralizou nas redes sociais, no último sábado (16), mostra estudantes do curso de direito da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo chamando alunos da Universidade de São Paulo (USP) de ‘pobres’ e ‘cotistas’ durante partida de handebol nos jogos jurídicos entre instituições de ensino superior.
Os alunos da USP acusam estudantes da PUC de cometer ofensas racistas e elitistas durante os jogos universitários.
Durante uma partida de handebol entre alunos de direito das instituições, torcedores uniformizados da PUC gritaram, entre outras, frases de cunho pejorativo contra estudantes cotistas da USP. Ao mesmo tempo, fizeram gestos referentes a dinheiro com as mãos.
A Polícia Civil informou que analisa as imagens que mostram alunos proferindo falas preconceituosas contra cotistas da USP. Até a manhã desta segunda-feira (18), as autoridades não haviam localizado registro de ocorrência.
“A Polícia Civil informa que, até o momento, não localizou registro da ocorrência. A autoridade policial, ciente dos fatos, analisa as imagens para identificar os envolvidos e está à disposição para o registro da ocorrência, bem como para apurar qualquer informação que possa ajudar nas investigações”, disse a polícia, em nota.
Da mesma forma, em nota conjunta, as diretorias das Faculdades de Direito e os centros acadêmicos de ambas as instituições repudiaram o que chamaram de “lamentáveis episódios” e se comprometeram a investigar o caso, visando responsabilizar os envolvidos.
“As Diretorias das Faculdades de Direito da USP e da PUC-SP e os Centros Acadêmicos XI de Agosto e 22 de Agosto das duas instituições vêm a público manifestar repúdio aos lamentáveis episódios ocorridos nos Jogos Jurídicos de 2024. Durante o evento, um grupo de alunos da Faculdade de Direito da PUC-SP proferiu manifestações preconceituosas contra estudantes da Faculdade de Direito da USP, utilizando o termo “cotistas” de forma pejorativa.
Essas manifestações são absolutamente inadmissíveis e vão de encontro aos valores democráticos e humanistas, historicamente defendidos por nossas instituições. Diante disso, as entidades signatárias comprometem-se a apurar rigorosamente o caso, garantindo a ampla defesa e o devido processo legal, e a responsabilizar os envolvidos de maneira justa e exemplar. Reconhecemos que a segregação social ainda é um desafio no Brasil, mas entendemos que o ambiente universitário deve atuar como um espaço de reparação e transformação”, acrescentam em trecho do documento.
A PUC emitiu uma nota de repúdio. “A PUC-SP repudia com veemência toda e qualquer forma de violência, racismo e aporofobia, e lamenta profundamente o episódio ocorrido em 16/11, envolvendo um grupo de estudantes do curso de Direito da nossa Universidade nos Jogos Jurídicos de 2024. Manifestações discriminatórias são vedadas pelo Estatuto e pelo Regimento da Universidade, além de serem inadmissíveis e incompatíveis com os princípios e valores de nossa Instituição”, disse em trecho do documento.
Ainda segundo a nota, a reitoria determinou à Faculdade de Direito a apuração dos fatos, “com o rigor necessário, a partir das normas universitárias e legais, promovendo a responsabilização e conscientização dos envolvidos”, acrescentou.
A universidade afirmou que promove a inclusão social e racial, por meio de programas de bolsas na graduação e na pós-graduação, bem como de permanência dos estudantes bolsistas. “A PUC participa desde a criação das políticas públicas de inclusão como o ProUni e o Fies”, mencionou.
“Na atual gestão da Reitoria também foram incluídos letramento racial na formação dos docentes e, principalmente, foi implementado programa de ação afirmativa para contratação exclusiva de docentes negros até que atinjam o número correspondente ao percentual da população negra em São Paulo definida pelo IBGE. Por fim, nos solidarizamos com os estudantes ofendidos e com todos que presenciaram esse episódio intolerável. Na PUC-SP combatemos o racismo a partir de uma perspectiva antirracista ativa”, completou.
Dois estudantes da PUC, identificados nos vídeos, foram demitidos de seus estágios após as ofensas contra alunos da USP viralizarem.
Já foi apurado que os estudantes identificados como Tatiane Joseph Khoury, de 20 anos, e Arthur Martins Henry foram demitidos de seus estágios no escritório Pinheiro Neto e no escritório Castro Barros Advogados, respectivamente.
“O escritório Pinheiro Neto Advogados lamenta o episódio ocorrido durante os Jogos Jurídicos Estaduais, no último sábado (16). O escritório reitera que não tolera e repudia racismo ou qualquer outro tipo de preconceito. Informamos que a estagiária envolvida nesse episódio não integra mais o escritório”, disse, em nota enviada ao portal O Globo.
Já o escritório Machado Meyer, onde outra estudante da PUC atua também como estagiária, informou, em nota, que “fará as apurações necessárias e avaliará as medidas a serem tomadas.”
Fonte: Página 8