Brumadinho (MG) | Foto: Agência Brasil

A saúde financeira da Vale, ao que parece, vai muito bem. Suficiente para não precisar protelar compromissos que a empresa tem com as famílias atingidas pela tragédia de Mariana (MG), assim como, em relação à recuperação, dos também criminosos danos ambientais.

A empresa apresentou no 3º trimestre deste ano um lucro líquido de R$ 13,6 bilhões ou US$ 2,4 bilhões. O resultado surpreendeu o mercado financeiro. No total acumulado de janeiro a setembro, os lucros da companhia somaram R$ 38,9 bilhões ou US$ 6,8 bilhões.

Apesar dos resultados do trimestre apresentarem recuos sobre o mesmo trimestre de 2023 em 15%, e em relação ao trimestre anterior de 13%, o lucro no ano foi maior que os R$ 31,5 bilhões do mesmo período em 2023, representando um resultado positivo de 23%.

A Vale informa que atingiu sua maior produção de minério de ferro em 5 anos. Relatório com dados do desempenho da empresa foram divulgados na quinta-feira (24).

Mesmo com todos esses bons resultados a reparação às famílias e ao meio ambiente pelo rompimento da Barragem do Fundão em Mariana (MG) administrada pela Samarco – controlada pelas mineradoras Vale (brasileira) e BHP Billiton (anglo-australiana), em 5 de novembro de 2015, se arrasta por nove anos.

Dezenove pessoas morreram. A lama devastou comunidades ao longo da bacia do Rio Doce, chegando até a foz no Espírito Santo. Aproximadamente 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos tóxicos foram despejados no meio ambiente, atingindo 49 municípios em Minas Gerais e no Espírito Santo.

Apenas hoje, em reunião no Palácio do Planalto, o presidente Lula, governos estaduais de Minas Gerais e Espírito Santo e as mineradoras envolvidas na criminosa tragédia – Vale, BHP, Samarco-, assinaram um acordo no valor total de R$ 132 bilhões, sendo que R$ 100 bilhões irão para os cofres públicos em parcelas que serão pagas ao longo de 20 anos. O restante será dirigido para obrigações assumidas pelas mineradoras.

Na solenidade de assinatura do acordo, Lula afirmou: “É muito difícil negociar com uma corporation que a gente não sabe quem é o dono e que tem muita gente dando palpite. E que, muitas vezes, o dinheiro que poderia ter evitado a desgraça que aconteceu é utilizado para pagar dividendos”.

O presidente cobrou dos agentes públicos envolvidos que as ações sejam acompanhadas de perto, para garantir a reparação às vítimas. “A gente não está lidando com coisas estranhas, está lidando com o ser humano. A gente, possivelmente, não consiga nunca devolver a totalidade dos prejuízos que essas pessoas tiveram, que tem o prejuízo psicológico, além das mortes, tem o prejuízo das coisas que as pessoas gostavam e que nunca mais vão ver e que não tem substituto”.

Em janeiro de 2019, mais uma tragédia criminosa da Vale custou a vida de 272 pessoas. A barragem localizada em Brumadinho (MG) liberou uma avalanche de rejeitos, gerando impactos ambientais e socioeconômicos que afetaram milhares de pessoas em diferentes municípios mineiros da bacia do Rio Paraopeba. 

Após cinco anos, ninguém foi responsabilizado pelo crime.

Fonte: Página 8