Uruguai: Frente Ampla vence 1º turno e disputará Presidência com candidato do Partido Nacional
Milhares de simpatizantes da Frente Ampla do Uruguai comemoraram nas ruas de Montevidéu o primeiro lugar obtido por Yamandú Orsi nas eleições presidenciais realizadas no domingo (27). Segundo dados da Justiça Eleitoral, a Frente Ampla totalizou 43,94% dos votos, contra 26,77% de Álvaro Delgado. Andrés Ojeda foi o terceiro com 16,03%, Identidade Soberana somou 2,69%, Cabildo Aberto 2,45% e o Partido Independente 1,71%.
De acordo com os resultados divulgados Orsi conseguiu ampla vantagem sobre Delgado, do governista Partido Nacional, mas não conseguiu evitar o segundo turno. Ambos disputarão a definição do futuro presidente no dia 24 de novembro. “Hoje a esperança venceu”, resumiu Orsi diante da multidão.
No Uruguai, assim como no Brasil, o candidato deve conquistar mais de 50% dos votos válidos para levar a vitória no 1º turno.
Orsi propõe expandir benefícios sociais, retomar a soberania nas questões econômicas e reforçar a segurança para enfrentar o narcotráfico. Em seu discurso depois da confirmação do 2º turno, ele afirmou que enfrentará “este último esforço” na campanha eleitoral “com mais vontade do que nunca”. “Somos um país onde ninguém é mais que ninguém, um país que tem de crescer graças ao esforço e ao trabalho e fazer com que ninguém fique para trás. É por isso que queremos vencer”, disse, citado pelo jornal uruguaio El País.
O segundo colocado, Delgado, candidato do atual presidente Lacalle Pou, cujo governo cortou investimentos condenando o Uruguai a crescer pífio 1,3%, e atentou contra benefícios sociais, elevando a idade para a aposentadoria de 60 para 65 anos, apresentou sua candidatura defendendo a redução de impostos para empresas e a atração de investimentos estrangeiros. A apoiadores, asseverou que o 2º turno é “outra etapa, diferente, com uma lógica diferente” da do 1º turno
Professor de História de 57 anos, Yamandú Orsi é ex-governador do departamento (similar ao nosso estado) de Canelones, o segundo maior do Uruguai.
Sua militância política iniciou-se na luta contra a ditadura no país, em 1984, quando dava aulas a adolescentes em povoados e cidades do interior.
FA AVANÇOU, MAS NÃO TEM MAIORIA NO CONGRESSO
A FA também avançou na constituição da Assembleia Geral, o equivalente ao nosso Congresso. Em ambas as câmaras a Frente fundada pelo General
Líber Seregni em 1971 obteve assentos suficientes para ser a primeira minoria. No Senado, segundo projeções dadas à meia-noite de domingo, obteve quinze senadores dos 30 membros do Senado. São necessários 16 assentos para a maioria absoluta.
Nos Deputados a composição dos 99 membros da Câmara ficou mais atomizada, pois mesmo a grande maioria da FA não seria suficiente contra toda a Coligação Unida. A Frente conquistou 48 cadeiras, o Partido Nacional 29 e o Partido Colorado 17, além de 5 para três partidos menores.
A manifestação que comemorou o resultado concentrou-se nos arredores do escritório da FA e do hotel NH, onde foi montado um palco rodeado por milhares de militantes e ao qual inicialmente subiu a liderança comunista, Carolina Cosse, candidata a vice, anunciando que “uma onda progressista está chegando” a caminho do segundo turno.
Atualmente, a FA é formada pelo Movimento de Participação Popular, pela Assembleia Uruguai, pelo Partido Socialista, pelo Partido Comunista do Uruguai, pela Aliança Progressista, pela Vertente Artiguista, pelo Espaço Novo, pelos Cravos Vermelhos, pelo Partido da Vitória Popular, pelo Partido Operário Revolucionário, pelo Partido Socialista dos Trabalhadores, entre outros grupos de esquerda.
PLEBISCITOS VOTADOS FORAM DERROTADOS
Também foram votados dois plebiscitos, que fracassaram por não terem obtido 50% de aprovação. Perderam tanto as iniciativas de reforma das pensões como a modificação do artigo 11º da Constituição Nacional para permitir batidas noturnas, exigência de setores da direita que foi promovida pela Coligação Governamental liderada pelo Presidente Lacalle Pou e que só obteve 39,08% dos votos.
A modificação das regras do jogo para os aposentados também foi derrotada, tendo obtido só 37,94% dos votos. A iniciativa, promovida e proposta pela confederação sindical PIT-CNT, visava substituir o artigo 67 da Constituição da República por uma nova versão. A idade de aposentadoria que hoje é de 65 anos voltaria aos 60 anos – mas estaria rigidamente fixada na Constituição –, as pensões mínimas seriam equiparadas ao salário mínimo nacional e o “lucro” do sistema de aposentadorias seria eliminado, o que implica que as Administradoras de Fundos de Poupança Previdenciária (AFAP), que administram fundos de previdência privada no Uruguai deixariam de existir.
Ambas propostas, como em anteriores plebiscitos constitucionais, ficaram arquivadas.
Fonte: Papiro