TRE-SP entrega ao MPE relatório que liga eleitos e crime organizado
Dando continuidade às apurações sobre a possível ligação entre dez vereadores eleitos no estado de São Paulo com o Primeiro Comando da Capital (PCC), o Tribunal Regional Eleitoral entregou relatório de inteligência ao Ministério Público Eleitoral, nesta terça-feira (29), relativo a esses casos. Os nomes investigados são mantidos em sigilo.
Além desses vereadores, dois prefeitos eleitos neste ano também são suspeitos de manter relação com o crime organizado. A informação é da jornalista Rosean Kennedy, do Estadão.
Ainda segundo o TRE-SP, 70 candidatos com esse tipo de envolvimento concorreram ao último pleito para diferentes cargos e cidades. Caso as investigações confirmem tais ligações, os mandatos podem ser cassados e os políticos podem ficar inelegíveis por oito anos.
A contaminação da política por integrantes ou pessoas ligadas a facções criminosas, seja do tráfico ou de milícias, não é uma novidade, mas há tempos preocupa autoridades e especialistas da área dada a participação que tem se mostrado cada vez maior, indo muito além da influência junto a diferentes instâncias do poder público.
Em artigo publicado no site Poder 360 em setembro, Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, falou sobre o problema que atinge diferentes cidades do país, entre as quais São Paulo e Rio de Janeiro.
“As investigações estão em curso e ainda há muitas zonas de sombra a serem iluminadas, mas já está nítida pelo menos uma intenção evidente: a tentativa do crime organizado de converter o Estado em seu balcão de negócios. Para tanto, vale-se sobretudo da influência política desses grupos sobre as administrações locais, que tem sido sua principal estratégia. Vale-se também da infiltração de candidatos ligados a grupos criminosos na corrida eleitoral”, escreveu.
Na avaliação da presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Carmen Lúcia, feita durante entrevista ao O Globo em setembro, o cenário de contaminação da política por grupos criminosos, de maneira direta por meio de representantes eleitos, é “bastante grave, especialmente considerando a ousadia do crime de querer ser o formulador de leis. Há um risco real de que esse comportamento se estenda às instâncias estaduais e até nacionais. É grave esse atrevimento criminoso”.
Ainda durante o período eleitoral, Carmen Lúcia alertou os tribunais regionais e o Ministério Público para o problema, defendendo a necessidade de barrar candidaturas com esse perfil. A ministra também criou um grupo de trabalho com agentes da Polícia Federal e do MP a fim de apurar situações desse tipo.
No caso do Rio de Janeiro, algumas candidaturas com indícios graves de ligação com o crime organizado foram suspensas tendo como base uma interpretação mais ampla da legislação vigente, o que possibilitou que ao menos parte desses postulantes não pudessem concorrer a cargos públicos nas eleições deste ano.
Com agências