Tarcísio e Derrite. Foto: Governo de SP

Detentora de uma espécie de “toque de Midas macabro”, a extrema-direita tem o condão de transformar o que toca em violência, dor e morte. Tal constatação tem lastro na realidade e não faltam evidências neste sentido. Uma das mais recentes é a de que, neste segundo ano de governo do bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), que ainda não terminou, as mortes causadas pela polícia saltaram 78% no estado de São Paulo.

Até o momento, 441 pessoas foram mortas pela PM, contra 247 em 2023. Os números são ainda piores quando consideradas as pessoas negras, cujas mortes pela polícia, que totalizaram 283, cresceram 83% ante 2023, quando houve 154 casos. É o que revela estudo feito pelo Instituto Sou da Paz e publicado pela Folha de S. Paulo.

Entre os brancos, que somaram 138, o aumento foi de 59% — no ano passado, foram 87. Há ainda 20 mortes que não tinham identificação racial. Considerando essas informações, 64%, ou quase dois de cada três vítimas da polícia eram negras e 31%, brancas. Capital e Baixada Santista — palco das operações Escudo e Verão, responsáveis por pelo menos 93 vítimas — alavancaram esse aumento. 

Os dados vão ao encontro do que foi mostrado em julho pelo painel de monitoramento do Grupo de Controle Externo da Atividade Policial (Gaesp) do Ministério Público de São Paulo. Naquele momento, foi apontado que a letalidade policial no estado subiu mais de 71% no primeiro semestre de 2024 na comparação ao mesmo período do ano passado, saindo de 201 para 344. 

Em resposta aos números do Sou da Paz, o governo paulista usou o surrado argumento da reação à abordagem policial e disse investir para reduzir a letalidade. 

No entanto, o que a realidade vem mostrando é que o uso da violência policial não apenas é banalizada pela extrema-direita, como também estimulada, implícita ou explicitamente, por seus adeptos civis e militares, dentro e fora dos governos e parlamentos. 

Símbolo dessa postura foi a resposta dada pelo governador em março, quando questionado sobre as denúncias de abusos por parte da PM nas operações feitas no litoral. “Sinceramente, nós temos muita tranquilidade com o que está sendo feito. E aí o pessoal pode ir na ONU [Organização das Nações Unidas], pode ir na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí”, disse Tarcísio. 

Em 2015, a Ponte Jornalismo revelou um áudio em que ex-policial militar e atual secretário de Segurança Pública de SP, Guilherme Derrite, do PL, dizia que “policial bom tem que ter pelo menos três homicídios no currículo”. Pouco depois de assumir a pasta, disse que a fala foi um erro. 

Vale lembrar, ainda, que Derrite já foi investigado por 16 homicídios ocorridos durante operações policiais das quais participou, segundo reportagem da revista Piauí. E, já na condição de secretário, até maio deste ano, anistiou 65 policiais que estavam afastados do serviço de rua devido à alta letalidade de suas ações.

Para o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), os números do Instituto Sou da Paz mostram um cenário de atuação de um “Esquadrão da Morte institucionalizado como política pública, um verdadeiro extermínio patrocinado com dinheiro do Estado”. Ele acrescenta que “necropolítica e racismo são métodos da extrema-direita. E ainda há em nossas elites quem sonhe com um bolsonarismo gourmet. Revoltante!”.