Rejeição ao estelionato eleitoral de Starmer alastra-se no Reino Unido
Com o primeiro-ministro trabalhista Keir Starmer completando os primeiros 100 dias de governo, a rejeição a seu governo disparou, com o estelionatário eleitoral conseguindo a proeza de, em um prazo tão curto, ter ficado mais rejeitado que o antecessor, o conservador e neoliberal sem disfarce Rishi Sunak.
Segundo nova pesquisa Ipsos, a popularidade líquida de Sir Keir (aprovação menos a rejeição) afundou em 28 pontos negativos, pior até mesmo do que a classificação do Bolsonaro britânico, Nigel Farage. A apuração foi realizada com mais de 1.000 adultos britânicos entre 4 e 7 de outubro.
Como estopim da degringolada, Starmer, que prometera aos eleitores um “governo de mudança” e que iria reverter os cortes de uma década de austericídio, cinicamente anunciou “a difícil escolha” de tirar a ajuda para o aquecimento de casa no inverno que existe há duas décadas – e criada pelos trabalhistas -, deixando 10 milhões de aposentados prestes a congelar, substituída por um vale ‘cobertor bem fino’ que só chegará a um de cada dez dos beneficiários.
Como salientou o jornal Telegraph, a popularidade líquida, de + 15 no final de julho, foi para menos 13 em outubro, “um colapso de 28 pontos percentuais no terreno negativo”. Por sua vez o The Independent registrou que o Partido Trabalhista “continua em queda livre de popularidade ao marcar 100 dias no governo”.
Os “100 dias”, que correspondem aos primeiros três meses de governo, foram criados na década de 1930 pelo recém eleito presidente Franklyn Roosevelt, como forma de mobilizar os cidadãos para tirar o país da Grande Depressão, que se seguira ao crash de 1929, e desde então muitos governos passaram a usar esse período como uma demonstração de seu compromisso com o programa com o qual foram eleitos.
Também em nome da responsabilidade fiscal, o governo Starmer manteve a limitação estabelecida pelos conservadores a dois filhos por família pobre da ajuda às crianças, deixando 250 mil crianças desassistidas e chegando ao ponto de suspender sete deputados trabalhistas que votaram contra o arrocho e pela redução da pobreza infantil.
Decisões draconianas que foram anunciadas como imprescindíveis para conter o déficit fiscal, ou seja, transferir mais dinheiro para os especuladores e agiotas, para a nata da City londrina, como é conhecido o enclave financeiro inglês, às custas dos aposentados e das crianças.
Também a chefe de gabinete do premiê, Sue Gray, acabou renunciando ao cargo em Downing Street 10, após uma enxurrada de denúncias de que ela e outros auxiliares de Sir Keir receberam “brindes”, benesses e propinas variadas, de ingressos grátis para jogos do Arsenal e shows da Taylor Swift, até acesso a carros e apartamentos.
O ex-líder trabalhista Jeremy Corbyn disse: “Em apenas 100 dias, o governo retirou os pagamentos de combustível de inverno dos aposentados, optou por manter 250.000 crianças na pobreza e profanou o valor do direito internacional.”
“Quanto tempo mais levará para o governo acordar e entregar a mudança que as pessoas esperavam e ainda merecem?”, ele acrescentou.
O terceiro item da denúncia de Corbyn, que foi excluído sob um complô para acusá-lo de “antissemitismo” por ser um apoiador manifesto da causa palestina e que inclusive se reelegeu como independente, se refere à cumplicidade de Londres com o regime Netanyahu e seu genocídio em Gaza e, mais recentemente, ataque ao Líbano.
“‘Foi um dos piores inícios’ para um novo governo de que se tem lembrança”, disse ao jornal progressista Morning Star o professor de Política da Universidade de Nottingham, Steven Fielding.
Para Fielding, que lembrou que os trabalhistas haviam vencido aos conservadores por larga margem nas eleições de julho, o governo Starmer “calculou mal a frustração das pessoas” e subestimou o estrago feito pela denúncia de aceitação de brindes.
Entre os idosos (55 anos ou mais), de acordo com a pesquisa semanal Techne UK para o The Independent, houve uma queda dramática no apoio a Starmer, para menos de 30%.
Para o diretor de política da Ipsos, Keiran Pedley, “com 6 em cada 10 não confiantes no plano econômico de longo prazo do Partido Trabalhista, a pressão é para que o próximo orçamento caia bem, com o Partido Trabalhista enfrentando um risco político significativo se isso não acontecer”.
Segundo o jornal The Independent, outra pesquisa, do YouGov, descobriu que 59% dos eleitores não se sentem impressionados com o novo governo, com apenas 18% expressando aprovação. Para quatro em cada 10 eleitores, o Reino Unido está em um estado pior desde as eleições gerais.
A recém feita pesquisa “mostra o que acontece quando um governo não oferece as políticas necessárias para consertar uma Grã-Bretanha quebrada”, afirmou em comunicado o movimento de ativismo trabalhista Momentum.
Segundo Momentum, o caminho para a recuperação passa por “um fim genuíno da austeridade, investimento público em serviços essenciais e financiamento adequado para o governo local”.
As lideranças de base advertiram que o próximo orçamento, que está em discussão, é “a oportunidade de trazer de volta a confiança dos eleitores.”
Para os ativistas de base, são pontos positivos do governo trabalhista nesses 100 dias o fim da expulsão de imigrantes ilegais para Ruanda, os aumentos salariais para alguns setores dos servidores públicos e o anúncio de nova estatal do setor energético, a GB Energy.
Fonte: Papiro