Premiê Starmer foi eleito para acabar com o arrocho neoliberal mas está fazendo o contrário do que prometeu | Foto: Chris J. Ratcliffe/Poll/EPA

Eleito há cem dias para pôr fim aos 14 anos de arrocho dos conservadores e prometendo “mudança”, o primeiro-ministro trabalhista Sir Keir Starmer não conseguiu comemorar a data: sua rejeição alcançou 63% em tempo recorde, após cortar o subsídio anual para a conta da energia no inverno (aquecimento) de 10 milhões de aposentados, depois de uma eleição vencida com 20 pontos de vantagem e conquista da maioria no parlamento, conforme o jornal The Guardian. A ajuda anual aos idosos era de 200 a 300 libras.

Registre-se que a indignação só aumenta ao se saber que foram exatamente os trabalhistas que criaram há duas décadas a ajuda para o aquecimento de casa no inverno. Agora incluída por Starmer nos gastos estruturais a podar para atender às exigências da City londrina – a fina flor dos banqueiros britânicos – de eliminação do déficit fiscal sem mexer nos seus gordos bolsos e na especulação.

Na escalada da rejeição pesou também o escândalo dos “presentes e brindes”, vindo a público que, quando era oposição, Starmer foi o deputado mais beneficiado pelas benesses, que totalizaram 100 mil libras entre 2019 e 2023.

No rescaldo do escândalo, a chefe de gabinete do premiê, Sue Gray, que tinha um salário maior que o de Starmer, acabou renunciando e já foi substituída pelo marqueteiro da campanha.

Starmer também manteve a limitação estabelecida pelos conservadores a dois filhos por família pobre da ajuda às crianças, deixando 250 mil desassistidas e chegando ao ponto de suspender sete deputados trabalhistas que votaram contra o arrocho e a favor da redução da pobreza infantil.

“Em apenas 100 dias, o governo retirou os pagamentos de combustível de inverno dos aposentados, optou por manter 250.000 crianças na pobreza e profanou o valor do direito internacional”, denunciou o ex-líder trabalhista Jeremy Corbyn, que se elegeu como independente por ter negada a legenda trabalhista, sob a degenerada acusação de que, por ser contra o genocídio em Gaza, seria “antissemita”.

 “Quanto tempo mais levará para o governo acordar e entregar a mudança que as pessoas esperavam e ainda merecem?”, ele acrescentou. Corbyn denunciou, ainda, a cumplicidade do governo Starmer com o regime de apartheid de Netanyahu, e mais recentemente, com o ataque ao Líbano.

 “‘Foi um dos piores inícios’ para um novo governo de que se tem lembrança”, disse ao jornal progressista Morning Star o professor de Política da Universidade de Nottingham, Steven Fielding.

“Foi provavelmente a lua-de-mel mais curta desde a de Britney Spears”, ironizou a jornalista Helen Lewis na BBC, comparando o desencanto do eleitorado britânico com a tumultuosa vida amorosa da cantora norte-americana.

A pesquisa da YouGov “mostra o que acontece quando um governo não oferece as políticas necessárias para consertar uma Grã-Bretanha quebrada”, afirmou em comunicado o movimento de ativismo trabalhista Momentum.

Segundo Momentum, o caminho para a recuperação passa por “um fim genuíno da austeridade, investimento público em serviços essenciais e financiamento adequado para o governo local”.

Para as lideranças de base, o próximo orçamento, que está em discussão, é “a oportunidade de trazer de volta a confiança dos eleitores.”

O novo orçamento será apresentado no próximo dia 30, mas, quanto às esperanças de um “fim genuíno da austeridade” e de mais “investimento público”, parecem infundadas.

No final de agosto, Starmer havia advertido que o orçamento para 2025 seria “doloroso” – agora se sabe, aos aposentados e ao povo em geral – devido ao “buraco” de 22 bilhões de libras “deixado pelos conservadores”.

O que cinicamente chamou de “escolha difícil” – mas entre o caviar dos banqueiros e o aquecimento dos aposentados, fez sua escolha preferencial pela City Londrina. Em suma, fez por merecer a pecha de traíra e a rejeição de 63%.

Na folha corrida de Sir Starmer consta ainda ter sido o articulador, em solo britânico, da perseguição judicial ao fundador do WikiLeaks, Julian Assange, atendendo a Washington, após a divulgação dos crimes de guerra dos EUA no Iraque.

Fonte: Papiro