Reabertura de aeroporto de Porto Alegre é marco da reconstrução do RS
Inoperante há mais de 160 dias devido aos problemas causados pelas enchentes de maio, o Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, voltou a operar para voos comerciais nesta segunda-feira (21). A retomada das atividades é um marco de forte simbolismo da reconstrução do estado para o povo gaúcho.
Com um belo dia de sol, Porto Alegre recebeu o primeiro voo às 8h03, vindo de Campinas, com 170 passageiros. Emocionado, o comissário-chefe da viagem que reinaugurou o aeroporto declarou aos passageiros: “Aos nossos irmãos gaúchos, nossos cumprimentos pelo exemplo e força na reconstrução do estado”. Já a primeira decolagem aconteceu às 9h34, com destino a São Paulo.
Por ora, o aeroporto vai operar parcialmente, com cerca de 80% de sua capacidade. Durante essa primeira fase, as aeronaves utilizarão 1,73 mil metros de pista, o que torna o terminal apto a receber voos nacionais.
A fase seguinte ocorrerá após a conclusão do reparo de 1,4 mil metros da pista de pouso e decolagem. A previsão é de que ele passe a funcionar totalmente em 16 de dezembro — a ideia é que o terminal esteja em plena capacidade de uso visando atender as demandas de fim de ano e alta temporada. Até lá, segundo a concessionária responsável pelo aeroporto, a Fraport, serão feitos 128 voos diários, entre às 8h e às 22h.
“Nós estamos reabrindo este aeroporto muito antes do que muitas pessoas imaginavam. O recomeço é a demonstração de que, com união, reconstrução, determinação e trabalho, não existe desafio que não possa ser superado”, declarou o ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta que, durante a crise, foi responsável pela Secretaria para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul.
A cerimônia oficial de abertura ocorreu na sexta-feira (18). O presidente Lula, cuja presença estava prevista, cancelou a participação. Mas, durante evento de lançamento do Programa Acredita, também nesta sexta-feira, em São Paulo, o presidente falou sobre o empenho do governo na reconstrução do RS. “Nunca antes na história do país, o Governo Federal se jogou tanto de corpo e alma para ajudar o estado, como nós fizemos com o Rio Grande do Sul”, declarou.
Até setembro, conforme balanço do governo Lula, quase R$ 100 bilhões foram destinados em ações emergenciais e recursos para reconstrução de infraestrutura e de apoio à população e empresários do Rio Grande do Sul.
Impasse
O aeroporto teve de ser fechado no dia 3 de maio, no começo das enchentes que destruíram boa parte do estado. O terminal ficou inundado e a pista, totalmente danificada. Sua recuperação gerou um impasse entre a concessionária, que tentou se eximir de suas responsabilidades, e o poder público.
Isso porque embora estivesse prevista em contrato a responsabilidade da Fraport pelas intervenções necessárias para lidar com situações como essa, a empresa criou dificuldades para que o governo federal alocasse recursos para as obras, de maneira a não prejudicar seus lucros.
Em reportagem feita para o ICL Notícias, o jornalista Leandro Demori — que teve acesso ao contrato de concessão, assinado em 2017 entre a União e a companhia — destacou: “A Fraport disse estar a par ‘da situação geológica do aeroporto’, segundo o contrato. Além disso, no item 5.5, declara ‘ter pleno conhecimento da natureza e extensão dos riscos por ela assumidos no contrato’”. Ele acrescentou que “a Fraport é responsável por isso (a recuperação), não o Estado brasileiro”.
A “situação geológica” diz respeito ao fato de que o terreno onde está o aeroporto é mais baixo em relação ao leito do Rio Gravataí, o que facilita cheias em casos de chuvas abundantes, como ocorreu neste ano, o que não era segredo quando da assinatura do contrato.
No dia 11 de junho, a CEO da Fraport Brasil, Andreea Pal, chegou a declarar a parlamentares em visita ao aeroporto que “se não recebermos dinheiro, não quero ser negativa, mas qual é a nossa possibilidade? Devolvermos a concessão e entra outro”.
Para colocar um ponto final na novela que prejudicava a população e a economia gaúcha, o governo federal disponibilizou cerca de R$ 426 milhões “para que fosse encontrado um equilíbrio contratual para que a Fraport”, conforme apontou a Secom.
Finalmente, após os impasses e os aportes federais, as obras passaram a ser feitas com celeridade, envolvendo concessionária e governo.