Ministra defende aliança global contra a desinformação em saúde
A partir desta terça-feira (29) até a próxima quinta (31) acontece, no Rio de Janeiro, a Reunião de Ministros da Saúde do G20. Sob a presidência brasileira, o tema central é a construção de sistemas de saúde resilientes. Neste primeiro dia de encontro, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, defendeu uma aliança internacional para o enfrentamento à desinformação em saúde.
A discussão deste primeiro dia girou em torno das estratégias para conter os danos causados pelas fake news, especialmente no que diz respeito à vacinação e à confiança nas medidas de saúde pública.
Para a ministra, o problema é urgente e requer cooperação global para ser enfrentado de forma eficaz. “A disseminação deliberada de notícias falsas não apenas contamina nossas vidas e o ambiente digital, mas também afeta diretamente a saúde das populações”, salientou Nísia.
O processo de queda nos índices de vacinação do país — que já foi referência mundial em imunização por meio do SUS — teve início em 2016, sob o governo de Michel Temer (MDB). No entanto, ganhou especial impulso sob a gestão negacionista de Jair Bolsonaro (PL) e com a disseminação de fake news — sobretudo durante a pandemia e com o apoio do então presidente e de seus apoiadores —, de maneira que em 2021 o país atingiu sua pior marca.
Segundo o Observatório da Atenção Primária à Saúde, da associação Umane, de 2001 a 2015, a média nacional de cobertura vacinal se manteve sempre acima dos 70%, mas, em 2016, diminuiu para 59,9% e foi caindo desde 2019, atingindo os 52,1% em 2021.
De 2023 para cá, já sob o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil voltou a avançar na imunização infantil, e conseguiu sair da lista dos 20 países com mais crianças não vacinadas no mundo, segundo a Unicef.
Relatório da entidade divulgado em julho mostrou que, no Brasil, o número de crianças que não receberam nenhuma dose da vacina DTP1 (difteria, tétano e pertussis) caiu de 687 mil em 2021 para 103 mil em 2023. Entre as que não receberam a DTP3, o número caiu de 846 mil em 2021 para 257 mil em 2023.
Durante sua fala, a ministra acrescentou, ainda, que “a desinformação pode causar mortes, e o combate a ela salva vidas e melhora nosso entendimento. É por isso que propomos debater com o G20 para atuar no combate à desinformação”.
Na avaliação de Jarbas Barbosa da Silva, diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), também presente ao encontro, “é fundamental direcionar as principais fontes de informação que as pessoas utilizam e em que confiam para tomar decisões sobre vacinação. Também precisamos preparar nossos profissionais de saúde para isso”.
Saúde com Ciência
Para contribuir com esse esforço, que precisa ter um caráter global, a ministra apresentou a iniciativa brasileira Saúde com Ciência, uma plataforma interministerial focada no enfrentamento à desinformação, especialmente sobre vacinas.
A plataforma busca garantir que a população tenha acesso a informações confiáveis, provenientes de fontes acreditadas e órgãos governamentais.
De acordo com Nísia, o governo espera poder ampliar o uso desse instrumento para além do território brasileiro, propondo ao G20 que desenvolva estratégias coordenadas para proteger a saúde pública e assegurar a implementação de políticas baseadas em evidências.
Ao longo de um ano de funcionamento da plataforma, de acordo com o MS, cerca de 100 mil conteúdos e comentários foram analisados, revelando que as narrativas mais comuns associavam falsamente a vacina contra Covid-19 a doenças como câncer, Aids, e até controle populacional por meio de chips implantados.
Agentes de combate às fake news
O secretário de Políticas Digitais da Presidência da República, João Brant, também enfatizou o papel dos influenciadores e da comunicação voltada para diferentes demografias. “Nossa estratégia envolve parcerias com influenciadores de ciência, como Dráuzio Varella, e o uso de plataformas para fortalecer a imunização e combater a desinformação diretamente junto à população,” explicou.
Segundo ele, o governo brasileiro planeja capacitar 400 mil profissionais de saúde até 2027 para atuarem como agentes de combate à desinformação.
Sistemas de saúde resilientes
Tendo como base da Reunião dos Ministros da Saúde do G20 o tema da construção de sistemas de saúde resilientes, quatro prioridades foram estabelecidas pelo Brasil: prevenção, preparação e resposta a pandemias, com foco na produção local e regional de medicamentos, vacinas e insumos estratégicos de saúde; saúde digital, para expansão da telessaúde, integração e análise de dados dos sistemas nacionais de saúde; equidade em saúde; e mudança do clima e saúde.
Segundo informou a ministra Nísia Trindade, uma das principais propostas do país à frente do G20 é a criação da coalizão para produção regional de insumos estratégicos de saúde. A medida faz parte da iniciativa Aliança contra a Fome e a Pobreza.
“A coalizão será fundamental para garantir que todos os países tenham acesso equitativo a vacinas e medicamentos, promovendo inovação justa e acessível”, explicou.
Com agências