Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil

A desigualdade na distribuição de médicos pelo país continua sendo um desafio para a superação das disparidades no atendimento da população. Boa parte dos profissionais da área, historicamente elitizada, forma-se em cidades de maior porte e deseja se dedicar às funções mais bem remuneradas concentradas nos estados mais ricos. Com isso, regiões mais afastadas acabam sofrendo com o déficit de atendimento. 

Conforme levantamento feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), ao todo, o Brasil tem 598,5 mil médicos, com uma densidade de 2,81 médicos por mil habitantes.

São Paulo continua no topo do pódio como o estado com maior concentração, com 166,4 mil profissionais, seguido por Minas Gerais, 71,7 mil; Rio de Janeiro, 69,7 mil; Rio Grande do Sul, 37,3 mil e Paraná, 37 mil. 

No que diz respeito à densidade de médicos por grupos de mil habitantes, a maior relação está no Distrito Federal, com 6,3. Rio de Janeiro e São Paulo têm taxas de, respectivamente, 4,3 e 3,7. 

Na ponta oposta, Amapá é o estado com menos médicos, 1,1 mil, seguido de Roraima, 1,2 mil; Acre, 1,5 mil; Tocantins, 4,2 mil e Rondônia, com 4,4 mil. Quanto à densidade, a pior relação médico/habitantes encontra-se no Maranhão, com 1,3; Pará tem 1,4 e Amapá, 1,5. 

Quando analisadas as capitais, São Paulo tem cerca de 46% (77,8 mil) dos médicos do estado. Já no Rio de Janeiro, a discrepância é ainda maior, com a capital concentrando 63% (43,8 mil). 

Do total de médicos brasileiros, mais de 275 mil são generalistas e 323 mil, especialistas. A divisão por gênero entre esses profissionais revela uma relação equilibrada, com 287,4 mil (49,9%) de mulheres e 288,4 mil (50,09%)  homens. Talvez por motivos óbvios, o levantamento não fez o recorte racial, o que certamente mostraria o quanto a profissão é ainda praticada, em sua grande maioria, por pessoas brancas. 

Outro dado observado é que a idade média é de 44 anos e a maioria, 293 mil, se graduou em instituições privadas, contra 257 mil que se formaram em universidades públicas. 

Mais Médicos

O perfil majoritário do médico brasileiro, em geral proveniente de famílias bem abastadas e de viés conservador, talvez explique muito da dificuldade encontrada há décadas para solucionar o déficit nas regiões mais longínquas, pobres e vulneráveis. 

Em 2013, com o objetivo de melhorar o atendimento à população dessas áreas, a então presidenta Dilma Rousseff criou o programa Mais Médicos. A falta de adesão de profissionais brasileiros levou o governo a fechar uma parceria com Cuba, reconhecida pela alta qualidade de sua medicina. Mais de 8 mil profissionais da Ilha vieram para o Brasil e passaram a atender quem os médicos brasileiros desprezavam. 

O programa foi desmontado durante a gestão de extrema-direita de Jair Bolsonaro (PL), que sempre usou do “fantasma comunista” para mobilizar sua base e destruir políticas voltadas à população mais carente. Imbuído desse espírito, antes mesmo de ser empossado, ainda no final de 2018, Bolsonaro voltou a atacar os cubanos que atuavam no Brasil, provocando o fim do convênio, feito por meio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). 

Para tentar apagar o êxito do Mais Médicos, deixar uma marca própria na área — mas sem buscar resolver, de fato, o problema — e tendo o apoio de parte considerável da classe médica, em 2019 Bolsonaro lançou o programa Médicos pelo Brasil, que nunca chegou a cumprir com seu papel. E, em setembro deste ano, a Controladoria Geral da União (CGU) identificou casos de má utilização do dinheiro público e nepotismo no programa. 

Com a volta de Lula à presidência, o Mais Médicos foi retomado e em 18 meses, até julho deste ano, o programa praticamente dobrou o número de profissionais. São quase 25 mil médicos, cerca de 12 mil a mais que o registrado em dezembro de 2022 e mais de 92% são brasileiros. 

Outra medida tomada com o objetivo de levar médicos para onde mais é necessário foi o lançamento de edital, no final do ano passado, com regras para a criação de cursos de medicina pelo país. Entre os critérios estabelecidos está o de que os municípios a receberem as faculdades tenham uma média inferior a 2,5 médicos por mil habitantes.