Foto: Agência Brasil

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou para cima o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2024. Anteriormente projetado em 2,2%, agora o índice esperado é de 3,3%. Para 2025, a estimativa também foi alterada, passando de 2,3% para 2,4%. 

“O resultado registrado pelo PIB no segundo trimestre de 2024, com avanço de 1,4% em relação ao primeiro trimestre de 2024 (isto é, na margem) e de 3,3% em relação ao segundo trimestre de 2023 (isto é, na comparação interanual), se mostrou significativamente maior do que havíamos previsto”, apontam Claudio Roberto Amitrano, Mônica Mora Y Araujo e Claudio Hamilton Matos dos Santos, na Carta de Conjuntura, do Grupo de Conjuntura da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) do Ipea. 

Além disso, eles observam que “os dados surpreenderam também as expectativas do mercado, cuja mediana mostra­va um avanço esperado de 0,9% na margem”. 

Dentre os aspectos apontados para a revisão no quadro previsto, o Ipea destaca o impacto menor do que o esperado dos efeitos das enchentes no Rio Grande do Sul sobre a economia. Segundo eles, a catástrofe gerou, na seara econômica, apenas “volatilidade ao longo do segundo trimestre – com quedas acentuadas em maio seguidas de fortes crescimentos em junho”. 

Além disso, lista um conjunto de outros fatores que influenciam a economia. O primeiro é “a redução das exportações líquidas, com as importações crescendo mais rapidamente do que as expor­tações após um 2023 atípico por conta de recordes na produção agropecuária e extrativa mineral”, anota.

Ponto positivo salientado pelos pesquisadores foi o crescimento da massa salarial ampliada, “puxada por um mercado de trabalho aquecido e por aumentos nos gastos com benefícios de previdência e assistência social pagos pelo governo – com rebatimentos sobre o desempenho do consumo das famílias”. 

O terceiro aspecto que incide na economia é o “baixo dinamismo na margem da produção agropecuária, após um 2023 de produção recorde e problemas climáticos”. 

O documento chama atenção, ainda, para o consumo das admi­nistrações públicas, puxado pelos gastos de estados e, principalmente, municípios respondendo ao aumento da tributação, seja por meio de repasses da União ou pelo crescimento do ICMS e do ISS. 

Ao concluir, aborda a recuperação da Formação Bruta de Capital Fixo. A FBCF é, segundo o próprio Ipea, a operação do Sistema de Contas Nacionais (SCN) que registra a ampliação da capacidade produtiva futura de uma economia por meio de investimentos correntes em ativos fixos. 

“Embora nenhum dos referidos vetores esteja imune a choques negativos em um trimestre ou outro, tomados em conjunto, eles deixavam claro já em junho, tanto para o Grupo de Conjuntura do Ipea quanto para a maior parte dos analistas, que a economia deveria crescer significativamente em 2024, puxada pela demanda interna, e a despeito das notícias negativas vindas do Sul”. 

Segundo os analistas, “à luz dos referidos dados não faz mais sentido, portanto, supor que a economia crescerá 2,20% em 2024, de modo que o Grupo de Conjuntura do Ipea optou por rever a previsão do crescimento do PIB em 2024 para 3,30%, mesmo com o anúncio pelo Copom do Banco Central do Brasil (BCB) do aumento da taxa Selic para 10,75% no dia 18 de setembro deste ano”. 

Juros e inflação

Quanto aos juros e à expectativa com relação à inflação, a Carta afirma que “embora o novo ciclo de alta da taxa de juros recém-iniciado no Brasil tenha efeitos contracionistas claros, há bons motivos para achar que possa ser curto, servindo principalmente para alinhar as expectativas”. 

Neste cenário, continua, “a perspectiva de crescente diferencial de juros praticados no Brasil e nos Estados Unidos acalmaria o mercado de câmbio, aliviando com isso pressões inflacionárias, e a economia desaqueceria para o patamar de 2,4% de crescimento anual ao longo de 2025”. 

Considerando esse quadro, a piora das condições climáticas e as expectativas de reversão da queda da inflação de serviços verificada ao longo de 2023 e do primeiro semestre deste ano “levaram o grupo a aumentar a expectativa de inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2024 para 4,4%, número esse que, no cenário de referência supracitado, cairia para 3,9% em 2025”.