João Cabral de Melo Neto. Foto: Arquivo Academia Brasileira de Letras – Fapesp – Licença Creative Commons

Em 9 de outubro de 1999, o poeta e diplomata pernambucano João Cabral de Melo Neto falecia no Rio Janeiro, aos 79 anos. O autor de “Morte e Vida Severina”, entre as mais de 20 obras deixadas, recebeu reconhecimento em premiações internacionais e o seu poema “Tecendo a Manhã” serviu de inspiração para o manifesto que fundou o Portal Vermelho.

O poeta foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) em 15 de agosto de 1968, tomando posse no ano seguinte. No ano de sua morte era cotado com um dos possíveis candidatos a receber o prêmio Nobel de literatura.

Como embaixador, viveu em diversas cidades que influenciaram na sua obra e em seu interesse pelo marxismo. Assumiu postos no Reino Unido, Equador, Honduras, França, Paraguai, Senegal, Suíça, Portugal e Espanha, sendo está última marcante em sua produção. Encerrou sua carreira na diplomacia em 1990, depois de ser cônsul na cidade do Porto, em Portugal.

Entre os diversos prêmios que recebeu constam alguns como: Prêmio Jabuti, Prêmio da União Brasileira de Escritores, Prêmio Neustadt, o Prêmio Rainha Sofia de Poesia Iberoamericana e o Prêmio Camões.

Da sua obra poética destaca-se, como apontado pela ABL: “Pedra do sono”, 1942; “O engenheiro”, 1945; “O cão sem plumas”, 1950; “O rio”, 1954; “Quaderna”, 1960; “Poemas escolhidos”, 1963; “A educação pela pedra”, 1966; “Morte e vida severina e outros poemas em voz alta”, 1966; “Museu de tudo”, 1975; “A escola das facas”, 1980; “Agreste”, 1985; “Auto do frade”, 1986; “Crime na Calle Relator”, 1987; “Sevilla andando”, 1989.

Portal Vermelho

“Toda noite tem aurora. E toda aurora tem seus galos, clarinando no escuro o dia por nascer”.

Este verso que consta no manifesto de fundação do Portal Vermelho foi inspirado no poema “Tecendo a Manhã”, do livro A educação pela pedra (1966), de João Cabral de Melo Neto.

Como consta no manifesto, escrito nos idos de 2002: “A ambição do Portal Vermelho é ser um galo assim na internet. Contribuir para dissipar treva neoliberal. Trabalhar para que venha logo a alvorada dos trabalhadores e povos da Terra.” Confira o manifesto na íntegra aqui.

Abaixo, o poema “Tecendo a Manhã”:

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

                  João Cabral de Melo Neto