Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em setembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,44%, um resultado alavancado, principalmente, pelo aumento da energia elétrica residencial, que saiu de -2,77% em agosto para 5,36%, por conta da bandeira tarifária vermelha patamar 1. Os números do IPCA de setembro foram divulgados nesta quarta-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os preços dos alimentos também tiveram um impacto importante para o resultado geral da inflação. O grupo Alimentação e bebidas subiu 0,50% no período, na esteira do aumento dos preços da alimentação do domicílio, que teve alta de 0,56%, após dois meses consecutivos de queda.

No acumulado deste ano até setembro, o IPCA varia em alta de 3,31% e, nos últimos 12 meses ficou em 4,42%. Em agosto, o IPCA registrou deflação de 0,02%. 

Apesar do resultado de alta, o IPCA segue demonstrando que a inflação no Brasil está comportada e, em relação às projeções do mercado financeiro, novamente abaixo do esperado (0,46%) pelas instituições financeiras que pressionam pelo aumento dos juros pelo Banco Central.

Ao comentar o resultado do IPCA, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, classificou como “temporário” o aumento da inflação em setembro, já que o indicador captou o clima desfavorável das secas que têm impactado os preços da energia e dos alimentos. Para o ministro, a situação climática atual deve ser considerada pelo Banco Central em suas análises sobre a Selic (taxa básica de juros), “já que isso não tem a ver com juro, juro não faz chover”, afirmou o ministro Haddad a jornalistas.

“A gente está com essa questão da seca. Você vê o dado de hoje do IPCA, ele demonstra claramente que os núcleos estão bem comportados, mas que a seca está afetando dois preços importantes: energia e alimentos”, comentou Haddad, que pede cautela ao Banco Central na definição dos juros básicos.

“Mas é temporário [o choque de oferta em virtude da seca], não é uma coisa que vai se estender no tempo. Daqui a pouco a chuva chega, e as coisas voltam ao normal, os preços voltam ao normal. Mas isso tem que ser analisado [pelo Banco Central] com a devida cautela, para não tomar uma decisão equivocada em função de uma questão climática temporária, não é permanente”, defendeu o ministro da Fazenda.

Em setembro, o BC iniciou um novo ciclo de alta da taxa Selic, subiu a taxa de 10,50% para 10,75%, buscando saciar a sede dos bancos e outros especuladores do mercado financeiro por lucros maiores, vindos do pagamento de juros da dívida interna – que em 12 meses (até agosto) somou R$ 855 bilhões.

Ontem, o Senado Federal aprovou, em plenário, o nome do atual diretor de Política Monetária do Banco Central, o economista Gabriel Galípolo, para a presidência do Banco Central (BC), por 66 votos favoráveis contra 5 desfavoráveis.

Na sabatina feita pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, Gabriel Galípolo jogou a culpa dos juros estarem em patamares escorchantes no Brasil ao governo que propõe a meta da inflação e que fixa os valores das especulações financeiras – ou seja, BC é um bom moço que só cumpre ordens.

“Hoje nós temos uma meta de inflação estabelecida através do decreto de 3% e cabe ao Banco Central perseguir essa meta de maneira inequívoca, colocando a taxa de juros num patamar restritivo pelo tempo que for necessário para atingir essa meta”, disse Galípolo.

Até o final deste ano o mercado financeiro, leia-se, meia dúzia de bancos privados, nacionais e estrangeiros, quer que a Selic fique, no mínimo, em 12,5% – um nível totalmente nocivo à geração de investimentos e ao consumo de bens e serviços no país.

Dos nove grupos pesquisados pelo IBGE, seis apresentaram altas nos preços em setembro. O maior impacto na inflação do mês veio do grupo de Habitação, que subiu 1,80%, influenciado pelos preços da energia elétrica residencial, que dispararam 5,36% no mês por consequência da bandeira tarifária vermelha patamar 1.

O grupo de Alimentação e bebidas também impactou a inflação do mês, alta de 0,50%, com os aumentos nos preços da carne (2,97%) e de algumas frutas (2,79%), como laranja-pera (10,02%), limão (30,41%) e mamão (10,34%) – reflexo da estiagem que atinge diferentes lavouras e produções de carnes no país.

Os demais grupos variaram entre o -0,31% de Despesas Pessoais e o 0,46% de Saúde e Cuidados Pessoais.

IPCA por grupos:

Alimentação e bebidas: 0,50%;

Habitação: 1,80%;

Artigos de residência: -0,19%;

Vestuário: 0,18%;

Transportes: 0,14%;

Saúde e cuidados pessoais: 0,46%;

Despesas pessoais: -0,31%;

Educação: 0,05%;

Comunicação: -0,05%.

Fonte: Página 8