Chanceler iraniano conclama a um cessar-fogo em Gaza e no Líbano
Na primeira visita de uma alta autoridade iraniana ao Líbano após o assassinato, por Israel, do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, o ministro das Relações Exteriores Abbas Araghchi manifestou o apoio de Teerã aos esforços para um “cessar-fogo simultâneo” no Líbano e em Gaza.
Araghchi chegou na sexta-feira (4) a Beirute, conduzindo 10 toneladas de ajuda humanitária, no momento em que o Líbano vem sendo submetido a uma feroz campanha de bombardeios, precedida por atentados, por parte do regime supremacista de Netanyahu, que já matou mais de 2.000 pessoas, feriu 7,5 mil e forçou um milhão de libaneses a deixarem seus lares.
O ministro iraniano foi recebido pelo primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, e pelo presidente do Parlamento, Nabih Berri. “A República Islâmica do Irã sempre apoiou o Líbano, foi e continua sendo um apoio dos xiitas libaneses e do Hezbollah”, sublinhou Araghchi.
“Apoiamos os esforços para um cessar-fogo, na condição de que, em primeiro lugar, os direitos do povo libanês sejam respeitados e que seja aceito pela resistência”, disse o chanceler iraniano na coletiva de imprensa. E que, em segundo lugar, “ocorra simultaneamente com um cessar-fogo em Gaza”.
Em Teerã, o aiatolá Ali Khamenei presidiu, nas orações desta sexta-feira, as homenagens ao líder da resistência islâmica libanesa (Hezbollah), Hassan Nasrallah, e aos consultores iranianos mortos na agressão israelense ao Líbano.
Milhares de pessoas de diferentes cidades do Irã participaram da cerimônia, com fotos de Nasrallah, bandeiras amarelas do Hezbollah e brados de “Morte aos Estados Unidos, Morte a Israel”. Entre os caídos no bombardeio de 27 de setembro em Beirute estava o brigadeiro-general do Corpo de Guardiães da Revolução Iraniana, Abas Niflorushan.
Na reunião do Conselho de Segurança que discutir o bombardeio ao Líbano, Israel se isolou ainda mais, ao ter proclamado o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, como “persona non grata” por ter apelado à desescalada. O episódio é revelador de que, a exemplo do anterior caso de apartheid nos anos 1980, acelera-se a queda de Israel na condição de Estado pária.
O chanceler iraniano rebateu as cínicas alegações, principalmente de Washington e Londres, culpando a vítima, o Irã, em cujo solo Israel assassinou o líder e principal negociador do Hamas, Ismail Haniyeh, quando em visita para a posse do novo presidente iraniano, por ter exercido o direito de resposta, conforme a Carta da ONU, depois de ter se contido por dois meses, na expectativa do cessar-fogo em Gaza.
Ou cobrando do agredido que não revide, que se “contenha”, enquanto deixam os celerados bem à vontade. Ao invés de responsabilizar o agressor, o regime supremacista e sanguinário de Netanyahu – a quem, a propósito, fornecem as bombas usadas no genocídio.
Aliás, a resposta iraniana teve como alvo bases militares e o Mossad, ao contrário da indiscriminada matança de civis, como visto em Gaza, na Cisjordânia e agora no Líbano.
“Nós não lançamos um ataque, o que nós fizemos foi responder a um ataque em solo iraniano, à embaixada em Damasco e aos interesses iranianos”, afirmou Araghchi.
Ele esclareceu que o Irã não tem planos de escalar, a menos que a entidade israelense decida atacá-lo. “Se Israel tomar qualquer ação contra o Irã, a resposta do país será mais forte, proporcional, abrangente e calculada”, destacou.
Como registrou o comentarista sênior da rede Al Jazeera, Marwan Bishara, “os fascistas e os fanáticos do governo israelense que realizaram o genocídio em Gaza no ano passado, e que são responsáveis por expandir essa guerra contra o povo de Gaza e depois contra o povo da Cisjordânia, são os que estão expandindo a guerra contra o Líbano e além”. “Em vez de terminar com uma guerra, aceitando um cessar-fogo, eles decidiram começar outra guerra.”
O anúncio do envio de uma quinta divisão de soldados israelenses para a área de fronteira com o Líbano indica, segundo The New York Times, que Israel está ciente de que está diante de uma longa e difícil batalha. “Este não é um passeio no parque”, disse o coronel israelense aposentado Miri Eisin, apontando que “isso vai ser difícil, assim como foi difícil contra o Hamas” em Gaza.
O coronel aposentado observou que a área no sul do Líbano onde as forças israelenses estão implantadas é muito maior do que Gaza e o terreno é mais acidentado. E os combatentes do Hezbollah estão “mais bem armados e treinados” do que o Hamas. “E depois há o terreno: colinas altas e ravinas íngremes que sobrecarregam uma força de infantaria muito mais rapidamente do que a terra comparativamente plana de Gaza”, concluiu o jornal.
Também a mídia israelense sai do estado de êxtase com os assassinatos políticos com bombas antibunker e atentados com bipes e walkie-talkies e começa a admitir que o Líbano é um “atoleiro profundo e afundando” para os agressores.
Em resposta a uma pergunta sobre se “Israel” aprenderia com os fracassos do passado no Líbano, o ex-chefe do “Conselho de Segurança Nacional”, o major-general da reserva Yaakov Amidror, lembrou que na guerra de 2006 os militares israelenses falharam e não estavam preparados, careciam de boa inteligência sobre o Líbano e não tinham planos adequados para a guerra, enquanto sua técnica de combate estava “no fundo do poço”.
Por sua vez, Guy Tzur, ex-comandante das forças terrestres israelenses, disse à emissora KAN que, desde 1982, o Hezbollah tem agido de maneira muito semelhante, o que significa que seus combatentes não fogem, mas dependem do posicionamento com fogo de longo alcance de áreas ocultas, acrescentando que “não será diferente desta vez, e pagaremos preços altos e teremos baixas… guerra é guerra.”
Amidror também apontou que os objetivos planejados de “Israel” de “empurrar o Hezbollah de volta a pelo menos 10 quilômetros além do rio Litani levarão muito tempo”.
No mesmo sentido, o Canal 13 israelense, que registrou que após a guerra de 2006 o Hezbollah fortaleceu suas capacidades de combate e redes de túneis, indicou que a nova investida em solo libanês deve ser “longa, complicada e cara”.
Assim, o esfrega sofrido pelos agressores na quarta-feira, em que oito soldados foram mortos na área de fronteira e sete ficaram feridos, além de blindados arregaçados, serviu para jogar um pouco de fel na limonada que Netanyahu se apressava a servir aos israelenses. Na sexta-feira, mais dois soldados mortos e 23 feridos, quando uma instalação militar no Golã foi atingida por um drone da resistência.
Como registrou o jornal russo Komsomolskaya Pravda (KP), o assassinato do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, por Israel, assumiu novas cores depois que o ministro das Relações Exteriores libanês, Abdallah Bu Habib, disse em uma entrevista à CNN que Nasrallah estava pronto para um cessar-fogo e entrando em negociações com Israel para uma trégua.
“Você está dizendo que Hassan Nasrallah concordou com um cessar-fogo e foi morto imediatamente depois disso? – perguntaram jornalistas americanos ao ministro libanês.
Sim, ele concordou. Sim, concordamos com um cessar-fogo completo. Nosso orador conversou com o Hezbollah, tivemos consultas com eles. E informamos os americanos e os franceses sobre esta decisão. E eles nos disseram que Netanyahu também concordou”, respondeu Abdullah Bu Habib.”
Para o KP, a informação deixa o Departamento de Estado norte-americano e a chancelaria francesa numa situação muito incômoda e é reveladora da perversidade e indignidade que rege o regime supremacista de Tel Aviv.
“Se os libaneses contaram isto aos americanos e aos franceses, e até receberam garantias deles de que o primeiro-ministro israelense, Netanyahu, estava pronto para chegar a meio caminho e cessar fogo, então a ordem do primeiro-ministro israelense, que, aliás, estava nos Estados Unidos e participou na sessão da Assembleia Geral da ONU, parece não apenas cínica, mas especialmente vil, mesmo apesar da ausência na grande política de conceitos como moralidade e assemelhados”.
“Afinal, os libaneses provavelmente transmitiram imediatamente esta informação ao líder do Hezbollah – a questão é demasiado importante, o preço da paz é demasiado elevado. Recordemos que os presidentes dos Estados Unidos e da França emitiram um apelo conjunto em 25 de setembro para um cessar-fogo entre Israel e o Líbano, onde o Hezbollah está baseado.”
“Disseram-nos que Netanyahu aprovou, também recebemos o de acordo do Hezbollah. Você sabe o que aconteceu então”, repetiu mais uma vez o Ministro das Relações Exteriores libanês.
E, como destacou o KP, em 27 de setembro, a Força Aérea Israelense lançou pelo menos 80 bombas, cada uma com capacidade de 1 tonelada, em 6 edifícios de vários andares, até que transformou os restos das fundações em pó e migalhas e matou o líder do Hezbollah.
Fonte: Papiro