Boeing em decadência anuncia demissão de 17 mil trabalhadores
A Boeing anunciou que pretende despedir até o final do ano 10% dos seus funcionários em todo o mundo, nada menos do que 17 mil trabalhadores. O pretexto? Crescentes prejuízos decorrentes da greve da linha de montagem – iniciada em 13 de setembro contra o arrocho salarial – e uma “escassez de caixa”. Os dois fatores estariam impactando negativamente na produção das aeronaves 737 Max e 777.
A mesma multinacional aeroespacial e de defesa estadunidense que gastou cerca de US$ 68 bilhões entre 2010 e 1019 em recompras de ações e dividendos para locupletar uma casta de executivos, agora alega que o problema é a remuneração inadequada dos seus trabalhadores e que demissões em massa são mais do que necessárias, imprescindíveis.
O próprio “acordo provisório” proposto pela Boeing, prontamente rejeitado pelo Sindicato, previa junto com os cortes nos empregos um reajuste irrisório de 25% ao longo de quatro anos.
Sob a liderança da nova CEO Kelly Ortberg, a Boeing disse na sexta-feira (11) que pretende aplicar sua política de cortes o quanto antes, sem explicar absolutamente nada sob a recompras de ações e os lucros exorbitantes proporcionados à alta linhagem da multinacional. De forma descarada, declarou que nada “muito além disso pode ser aceito se quisermos permanecer competitivos como empresa”.
Ortberg assumiu em agosto, após a saída do ex-presidente-executivo – exibindo um imponente paraquedas dourado de US$ 45 milhões – em meio a preocupações e denúncias sobre a segurança, logo depois que o tampão da porta de um avião da Boeing – operado pela Alaska Airlines – ter despencado em pleno voo. O Departamento de Justiça dos EUA havia aberto investigação criminal pelo incidente ocorrido em 5 de janeiro.
Em julho, diante das provas contundentes que vinham se acumulando, a direção da Boeing concordou em se declarar culpada da acusação criminal por dois acidentes fatais do 737 Max, em 2018 e 2019, nos quais morreram 346 pessoas.
Para o diretor executivo do Labor Institute, Les Leopold, “a Boeing está em apuros porque se tornou uma fabricante de recompras de ações, não apenas de aviões”.
Autor de Wall Street’s War on Workers: How Mass Layoffs and Greed Are Destroying the Working Class and What to Do about It “A guerra de Wall Street contra os trabalhadores: como as demissões em massa e a ganância estão destruindo a classe trabalhadora e o que fazer a respeito”, Leopold denunciou que “a cura corporativa é sempre a mesma: demitir trabalhadores”.
Ele esclareceu o fato das “recompras de ações e demissões estarem intimamente ligadas” e que, por isso, “está na hora de serem proibidas completamente”.
Para Leopold, “nenhum dinheiro do contribuinte deveria ir para corporações que demitirem contribuintes e realizarem recompras de ações”. Em 2022, a Boeing recebeu cerca de US$ 15 bilhões em contratos com o Pentágono, o que dá a dimensão da parceria entre a estrutura governamental e a multinacional.
O presidente do Distrito 751 da Associação Internacional de Maquinistas e Trabalhadores Aeroespaciais, Jon Holden, frisou que gerência da empresa “continua se afastando da mesa” e “usando as mesmas velhas e cansadas táticas de barganha na imprensa”. Na prática, é a troca de anúncio publicitário por silêncio ou desinformação.
“O caminho para resolver esta greve começa na mesa de negociações. A relutância em permanecer na mesa apenas prolonga a greve. Ortberg tem a oportunidade de fazer as coisas de forma diferente, em vez das mesmas velhas e cansadas ameaças de relações trabalhistas usadas para intimidar e esmagar qualquer um que as enfrente“, acrescentou Holden.
Holden esclareceu ainda que o Sindicato “está se apoiando em princípios e busca uma resolução que seja negociada e atenda às necessidades de seus filiados”. Por isso, enfatizou, é melhor para a Boeing que “volte para a mesa de negociações”.
Fonte: Papiro