Desde o início do terceiro governo Lula, em janeiro de 2023, o sindicalismo brasileiro tem aproveitado bem o cenário mais favorável para campanhas salariais. A maioria das negociações é marcada por aumentos acima da inflação. Além disso, há cada vez menos reajustes parcelados ou escalonados.

Nas negociações coletivas, para determinar a inflação acumulada, o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) é usado como referência. Em 2023, segundo o Dieese, 77% dos acordos registraram aumento real – ou seja, superior ao INPC. Entre os trabalhadores da indústria, o índice chegou a 82,2%. Esses percentuais já eram superiores aos de qualquer ano dos governos ultraliberais de Michel Temer (2016-2018) e Jair Bolsonaro (2019-2022).

Já neste ano de 2024, a tendência pró-trabalhador se fortaleceu. Até o mês de julho (o último com levantamento consolidado do Dieese), nada menos que 86% das 8.809 negociações analisadas terminaram com reajustes reais. Na indústria, os aumentos além da inflação foram de 87,8%. Vale lembrar que, em agosto, o INPC estava um pouco acima de 4%.

As bases da Fitmetal (Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil) se destacam nesta fase de avanços. Na maior dessas bases, a de Caxias do Sul (RS), com data-base em 1º de junho, os trabalhadores aprovaram, por unanimidade, uma proposta que contempla aumento real nos salários pelo quarto ano seguido. O reajuste foi de 4%.

Além disso, duas reivindicações históricas do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias foram conquistadas nessa campanha: 1) pais metalúrgicos com filhos de até 5 anos de idade passaram a ter o direito ao auxílio-creche; e 2) o desconto nos salários para pagar o vale-transporte foi reduzido de 3,5% para 1,5% a partir de julho.

As notícias que chegam de Carlos Barbosa, cidade da Serra Gaúcha vizinha de Caxias, também são positivas. O reajuste salarial foi de 4,72%, sendo 4,06% de reposição inflacionária e 0,63% de ganho real. A cidade abriga a fábrica da Tramontina e conta com quase 7 mil metalúrgicos, que respondem por 47,4% do total de empregos formais no município.

Na Bahia, onde a Fitmetal é parceira da Fetim (Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos e Mineiros), as negociações com o sindicato patronal foram duras, culminando em duas rodadas de mediação pela Superintendência Regional do Trabalho (SRT-BA). Embora a data-base seja 1º de julho, os trabalhadores só aprovaram a nova Convenção Coletiva no último dia 10 de setembro, após muita luta.

O índice de aumento nos salários e nas cláusulas econômicas foi 4,5%. Na avaliação da Fetim, “o reajuste da categoria acima da inflação e a garantia dos direitos da CCT é uma importante conquista diante da atual crise do setor e com os ataques dos patrões nas nossas conquistas históricas”. As cláusulas aprovadas valem para as seguintes bases: Camaçari, Candeias e Região, Dias D’Ávila e Região, Ilhéus, Vitória da Conquista e Simões Filho.

Em Minas Gerais, a Fitmetal é uma das três federações que participam da campanha salarial unificada para renovar a Convenção Coletiva, válida em todo o estado. Com data-base em 1º de outubro, a negociação é acompanhada pelos cinco sindicatos de metalúrgicos de Minas que são filiados à Fitmetal: Betim e Região; Lavras; Sabará; Três Marias e Região; e Uberlândia e Araguari.

No caso de Betim, o sindicato aproveita o primeiro semestre para negociar antecipadamente com as maiores empresas. Além do acordo coletivo data-base, a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) também entra na pauta. Na Fiat – que emprega 38% dos metalúrgicos de Betim e Região –, a PLR teve um crescimento de 15%, enquanto os salários terão a reposição integral (em outubro) e um aumento real de 1% (a partir de janeiro de 2025).

Em outras bases com presença da Fitmetal, as campanhas salariais não foram concluídas. No Maranhão, haverá dissídio. Mas diversos acordos coletivos no estado já foram fechados com ganho real nos salários e aumento mais significativo do ticket alimentação. As negociações no Rio de Janeiro também estão em andamento, com data-base em 1º de outubro.