Kamala Harris confirma envio de armas para genocídio que Israel comete em Gaza
A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, disse em sua primeira entrevista como candidata democrata a presidente em novembro, feita à CNN, que “não mudaria” a política de Biden de fornecimento incondicional de armas a Israel.
Isso apesar do genocídio de palestinos em curso há 11 meses, aliás, sob investigação da Corte Internacional de Justiça da ONU, e dos protestos dos estudantes norte-americanos e de muitos eleitores, inclusive em Estados ditos “oscilantes”, e de parte de seu partido, em favor do embargo de armas e do cessar-fogo.
E ainda em uma eleição que poderá ser decidida, como nos dois últimos pleitos, por uma pequena margem, em meia dúzia de Estados cujo envio de delegados ao Colégio Eleitoral decide quem ocupará a Casa Branca.
A substituta de Biden, que fez da “alegria” o mote de sua campanha para deter o fascista Trump, na entrevista, declarou-se “inequívoca e inabalável no compromisso com a capacidade de defesa de Israel e isso não vai mudar”.
Registre-se que Biden entregou 51 mil toneladas de armas e bombas a Israel desde outubro passado, o que dá mais de 1 tonelada por palestino assassinado, e a escala do genocídio já superou a marca dos 40 mil – a maioria, mulheres e crianças.
Apesar de sua formação de jurista, parece que ninguém contou a Kamala que, em uma terra sob ocupação, pela lei internacional o direito de defesa é reconhecido ao invadido, não ao invasor, e são “57 anos de ocupação sufocante”, como admitiu o secretário geral da ONU, Antonio Guterres.
E que, também pela lei internacional, quem fornece armas para o genocídio que outro comete é cúmplice. Aliás dizer que aquele que comete morticínio escancarado, além de provocar países vizinhos, estaria “se defendendo”, é disparate sem tamanho.
De acordo com o Common Dreams, um portal progressista norte-americano e fortemente antitrumpista, “os embarques de armas dos EUA para Israel aumentaram em agosto, coincidindo com a nomeação dela como candidata presidencial do Partido Democrata”.
Segundo o jornal israelense Haaretz, citando dados de aviação de código aberto, “agosto parece ser o segundo mês mais movimentado na Base Aérea de Nevatim desde o início da guerra, com dezenas de voos de aviões de transporte militar dos EUA, bem como de aviões de carga israelenses civis e militares, principalmente do Catar e da Base da Força Aérea de Dover em Delaware.”
A publicação acrescenta que desde outubro um total de 500 aviões de carga dos EUA pousaram em Israel transportando munições e equipamentos militares em grandes quantidades.
Para se contrapor aos apelos para apoiar o embargo de armas, Kamala alega que é a favor do “cessar-fogo”. Mas por que, enquanto houver palestinos para matar impunemente ou expulsar de sua terra ancestral, os supremacistas israelenses iriam moderar sua insanidade, quando Tio Sam fornece – e inclusive paga – as bombas do genocídio? Além de prover encobrimento na ONU e nos tribunais.
Ao se referir às vítimas palestinas, ela falou delas como se não houvessem sido mortas por supremacistas israelenses, com armas norte-americanas, mas como um inexplicável “sofrimento”.
Conforme a principal revista médica do mundo, The Lancet, a escala do genocídio em Gaza é ainda pior do que percebido à primeira vista: é que quando se somam as mortes indiretas – pela devastação, falta de remédios, fome, etc – o morticínio está na ordem dos 200 mil palestinos.
O regime Netanyahu-Gvir-Smotrich também metodicamente arrasou ao chão hospitais, escolas, abrigos, estações de tratamento de água, mesquitas, criando 40 milhões de toneladas de destroços; expulsou de seus lares 90% da população de 2,3 milhões de pessoas; e barrou a ajuda humanitária, inclusive bombardeando comboios da ONU, sob a confessada intenção de matar sob bombas, escombros e pela fome.
Para o articulista Norman Salomon, o tempo “está se esgotando” para Kamala se afastar das políticas de Biden de cumplicidade com o genocídio em Gaza. “As pesquisas mostram que um pivô em direção à decência moral aumentaria suas chances de derrotar Donald Trump”, ele salientou, criticando seu apoio ao “armamento incondicional de Israel”.
“Duas semanas atrás, os pesquisadores do YouGov divulgaram resultados no Arizona, Geórgia e Pensilvânia, três Estados indecisos agora no fio da navalha entre Harris e Trump. ‘Na Pensilvânia, 34% dos entrevistados disseram que estariam mais propensos a votar na candidata democrata se prometesse reter armas para Israel, em comparação com 7% que disseram que seriam menos prováveis. O resto disse que não faria diferença’, relatou o novo site de jornalismo Zeteo.
Os resultados nos outros dois Estados foram semelhantes, ele acrescentou. “No Arizona, 35% disseram que seriam mais prováveis, enquanto 5% seriam menos prováveis. E na Geórgia, 39% disseram que seriam mais prováveis, também em comparação com 5% que seriam menos prováveis.
Diante disso, não chega a ser surpreendente que, na respeitada revista Counterpunch, seu editor Jeffrey St. Clair, com sarcasmo haja resumido o programa de governo de Kamala: “austeridade com alegria” e “genocídio com um sorriso”. E, à guisa de conclusão, acrescentou: “Eu não sigo os protocolos de moda tão de perto, mas é permitido usar branco enquanto você faz um genocídio?”.
Fonte: Papiro