Inocente é executado nos EUA, mesmo após testemunha dizer que foi coagida a acusá-lo
Reconhecido pela presença do racismo, o estado norte-americano da Carolina do Sul executou com injeção letal na Instituição Correcional Broad River, em Columbia, na última sexta-feira (20) o inocente negro Freddie Owens, de 46 anos, sentenciado pelo suposto assassinato de uma balconista com um tiro na cabeça em 1997. A atrocidade ocorreu depois da Suprema Corte dos EUA ter se recusado a interromper a execução e o governador Henry MacMaster negar clemência.
Apesar dos protestos da comunidade e de Owens ter afirmado desde os 19 anos – e ao longo de quase três décadas – ter sido “injustamente condenado”, sua execução aconteceu dois dias após os advogados de Owens terem apresentado uma declaração sob juramento de Steven Golden, que anteriormente havia testemunhado contra Owens, comprovando sua inocência.
Steven explicou que havia sido coagido a incriminá-lo: “Achei que o verdadeiro atirador ou os seus associados poderiam me matar se eu os denunciasse à polícia. Ainda tenho medo disso. Mas o Freddie não estava lá”, esclareceu a testemunha.
Freddie Owens cumpria pena pelo assassinato de Irene Graves, uma balconista, durante um assalto na cidade de Greenville. De acordo com a Promotoria, ele teria atirado em Graves no momento em que ela declarou que não conseguia abrir o cofre da loja. Na época, seu suposto cúmplice, Steven Golden, corroborou a versão, mas as câmeras de segurança da loja não mostraram o tiroteio e os promotores nunca encontraram a hipotética arma usada no assassinato.
Steven Golden denunciou que testemunhou contra Owens porque a Promotoria prometeu um acordo em que ele não seria condenado à pena de morte ou prisão perpétua. Ao se declarar culpado de uma acusação de homicídio culposo voluntário, Golden acabou pegando uma pena de 28 anos de prisão.
“Estou me apresentando agora porque sei que a data de execução de Freddie é 20 de setembro e não quero que Freddie seja executado por algo que ele não fez. Isso pesou muito na minha mente e quero ter a consciência limpa”, declarou. O fato, reiterou, é que “Freddie não estava presente quando eu roubei o Speedway naquele dia”.
“Freddie Owens não matou a senhora Graves”, afirmou o Gabinete do Defensor Público Federal, frisando que “sua morte esta noite é uma tragédia”. “A infância do senhor Owens foi marcada por sofrimento em uma escala difícil de compreender. Ele passou a vida adulta na prisão por um crime que não cometeu. Os erros legais, acordos ocultos e evidências falsas que tornaram esta noite possível deveriam envergonhar a todos nós”.
Os promotores alegaram na semana passada que a decisão de Golden de mudar sua história não poderia ser suficiente para impedir a execução, já que agora admitiu ter mentido sob juramento.
A Carolina do Sul somente não executou presos quando ficou sem as drogas necessárias para aplicar injeções letais, em 2011. Nos anos seguintes, o Estado introduziu o uso da cadeira elétrica e da morte por pelotão de fuzilamento antes de aprovar uma “lei de proteção” para ocultar todas as informações sobre a obtenção das drogas e procedimentos usados na injeção letal.
Em vez de denunciar a ilegalidade, a mídia predominante nos EUA preferiu “informar” sobre a última refeição do injustiçado: dois cheeseburgers, batatas fritas, um bife de costela bem passado, seis asas de frango, dois refrigerantes de morango e uma fatia de torta de maçã. Sobre o terrorismo de Estado nenhuma palavra.
Fonte: Papiro