Greve na Boeing paralisa produção e ameaça economia dos EUA
Rejeição massiva de acordo desencadeia primeira greve na empresa em 16 anos. A Boeing emprega 150 mil pessoas nos EUA e contribui com US$ 79 bilhões para a economia norte-americana
Maquistas da Boeing marcham para seu sindicato para votar na oferta final do contrato da empresa (Divulgação International Association of Machinist)
Cerca de 33 mil trabalhadores da Boeing, membros do sindicato Associação Internacional de Maquinistas (IAM), deram início a uma greve na sexta-feira, após rejeitarem um contrato de quatro anos oferecido pela fabricante de aeronaves. Essa é a primeira greve enfrentada pela Boeing em 16 anos e interrompe a produção de aviões comerciais, atingindo diretamente a economia dos EUA e milhares de fornecedores da empresa.
A proposta da Boeing oferecia aumentos salariais de pelo menos 25% ao longo do contrato, além de garantir que o próximo modelo de jato comercial seria fabricado em uma unidade sindicalizada. Mesmo assim, a oferta foi recusada por 95% dos membros do sindicato, com 96% votando pela paralisação.
Segundo Jon Holden, presidente do maior local do IAM na Boeing, a greve reflete a frustração acumulada dos trabalhadores, que buscam maior segurança no emprego e compensações financeiras melhores após anos de concessões. “Trata-se de lutar pelo nosso futuro”, afirmou Holden.
Impacto econômico e reação da Boeing
A Boeing, que emprega 150 mil pessoas nos EUA e contribui com US$ 79 bilhões para a economia nacional, enfrenta um momento de fragilidade financeira. A paralisação pode prejudicar ainda mais suas operações, especialmente considerando que a empresa ainda não registrou lucro anual desde 2018, acumulando perdas de mais de US$ 33 bilhões.
Em resposta à greve, a Boeing manifestou vontade de retomar as negociações, reconhecendo que o acordo provisório não atendeu às expectativas dos trabalhadores. “Continuamos comprometidos em redefinir nosso relacionamento com nossos funcionários e com o sindicato”, declarou a empresa em comunicado.
Histórico de problemas na Boeing
A greve é o capítulo mais recente de uma série de crises enfrentadas pela Boeing nos últimos anos. Entre 2018 e 2019, dois acidentes fatais envolvendo o 737 Max, que resultaram em 346 mortes, desencadearam uma série de investigações e prejuízos financeiros. Desde então, a empresa enfrenta questionamentos sobre a segurança e qualidade de suas aeronaves, além de processos judiciais.
Além disso, a Boeing sofreu rebaixamentos em sua classificação de crédito e, recentemente, recebeu um alerta da agência Fitch, que destacou que a empresa tem “pouca margem para uma greve prolongada”, o que pode resultar em maiores perdas financeiras.
Futuro incerto e mobilização sindical
Embora a Boeing seja vital para a economia dos EUA, o clima de insatisfação entre os trabalhadores não mostra sinais de arrefecimento. Holden declarou que os membros do sindicato estão preparados para manter a greve o tempo que for necessário para conquistar um acordo mais justo.
A greve na Boeing é parte de um movimento mais amplo de mobilização sindical nos EUA, que tem crescido em resposta à alta inflação e condições de trabalho insatisfatórias. Nos últimos anos, quase um milhão de trabalhadores sindicalizados em diversos setores conseguiram aumentos salariais significativos.
“Estamos nos inspirando em outras lutas sindicais que tiveram vitórias importantes. Acreditamos que podemos conquistar o mesmo aqui”, afirmou Holden, demonstrando que a paralisação na Boeing pode ser apenas o início de uma nova fase de fortalecimento do movimento trabalhista no país.
(por Cezar Xavier)