Em Paris multidão ergue faixas contra Macron, em defesa dos direitos sociais e apoio à Palestina | Foto: AFP

Dezenas de milhares de pessoas tomaram as ruas de Paris e de mais de 60 cidades francesas neste sábado (21) em resposta à indicação pelo presidente Emmanuel Macron de seu novo gabinete, liderado pelo primeiro-ministro ultraconservador Michel Barnier, que se posicionou pela limitação da migração para a União Europeia (UE) e até propôs uma moratória de entrada de três a cinco anos para todos os migrantes.

Com faixas pedindo a destituição de Macron e em solidariedade ao povo palestino, os manifestantes acusaram o governo de ter dado uma guinada à direita, notadamente nos campos da segurança nacional, imigração, salarial, das pensões e aposentadorias.

Convocados por sindicatos, entidades estudantis, ecologistas e feministas, como o Coletivo de Direitos das Mulheres, e movimentos sociais como a Associação pela Tributação das Transações Financeiras para Ajuda aos Cidadãos (Attac), os franceses rechaçaram a aliança mais do que reacionária em que predominam os ministros do Juntos pela República, de Macron, com uma forte presença do partido conservador Os Republicanos.

Na oposição, o partido com mais destaque foi a França Insubmissa (LFI), com a presença de várias lideranças, como sua presidenta na Assembleia Nacional, Mathilde Panot.

“É um governo ilegítimo. Se a direita tivesse vencido, a direita teria governado”, afirmou o líder da França Insubmissa Jean-Luc Mélenchon, fundador da aliança Nova Frente Popular, que apesar de ter conquistado a maioria dos votos, não obteve o suficiente para formar o novo governo.

O novo governo tem 39 membros, principalmente do partido de Macron e do até então opositor partido LR (Les Républicains, de Nicolas Sarkozy) que regressa ao poder após 12 anos. Entre estes últimos está o seu líder no Senado, Bruno Retailleau, que assumirá o Ministério do Interior, reconhecido por sua postura preconceituosa e racista em relação aos imigrantes.

O novo ministro das Finanças é Antoine Armand, figura emergente que sinaliza para o corte nos investimentos públicos e nas áreas sociais em nome do equilíbrio fiscal, priorizando “administrar o próximo orçamento” para fazer frente à crise da dívida.

Sébastien Lecornu se mantém no Ministério da Defesa, garantindo os cofres escancarados para a “modernização” das forças armadas e a irrestrita ajuda militar aos nazistas ucranianos contra a Rússia.

Entre as nomeações está a da senadora Laurence Garnier, para a Secretaria de Estado de Consumo – inicialmente proposta para a da Família, em que se posicionou contra o aborto e o matrimônio igualitário.

Conforme a última pesquisa do Journal du Dimanche, nunca o índice de rejeição de Macron atingiu um patamar tão alto (75%), o maior desde a revolta dos Coletes Amarelos. Naquele momento, no final de 2018, a população se levantou contra o desgoverno e as reformas que causaram aumento no preço do combustível e dos impostos para os aposentados.

Três quartos dos entrevistados pelo IFOP acusam o presidente de ter um “ego desproporcional que arruinou tudo” e de tornar a França ingovernável ao dissolver o parlamento e convocar eleições antecipadas, que redundaram em um tremendo fiasco.

A líder da extrema direita, Marine Le Pen, reforçou que este será um governo de transição e que está vigilante para garantir uma mudança na política francesa. A fim de fazer com que este retrocesso seja viabilizado, sublinhou, vai cooperar nas questões orçamentárias essenciais [ou seja, sustentar a política de arrocho] e disse que inviabilizará eventuais vacilações, pois dispõe dos votos necessários para derrubar ações em contrário.

Fonte: Papiro