João Campos e Eduardo Paes com o presidente Lula. Fotos: Ricardo Stuckert

Em ao menos duas capitais, a eleição deste ano parece já estar decidida e pode até ser finalizada no primeiro turno com larga vantagem: Recife e Rio de Janeiro. Em ambas, os principais candidatos, João Campos (PSB) e Eduardo Paes (PSD), buscam a reeleição, são bem avaliados e têm o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nessas cidades, a tal “polarização nacional” parece ficar em segundo plano, deixando os candidatos bolsonaristas a léguas de distância da preferência do eleitorado. 

No caso do Recife, uma das mais recentes pesquisas da Quaest, divulgada no final de agosto, aponta que João Campos tem 80% das intenções de votos. Em segundo lugar, mas bem distante do atual prefeito, estão o bolsonarista e ex-ministro Gilson Machado (PL) — que diz ter apoio de Donald Trump — com 6%, e Daniel Coelho (PSD), 5%, nome apoiado pela governadora Raquel Lyra (PSDB).

Além da tradição da família na política local — ele é filho do ex-governador Eduardo Campos, morto em acidente aéreo durante a campanha presidencial de 2014, e bisneto do histórico socialista Miguel Arraes —, pesa favoravelmente ao jovem prefeito, de apenas 30 anos, a gestão que está fazendo, bem avaliada pela maioria da população. 

Segundo a mesma pesquisa Quaest, também é de 80% o índice dos recifenses que estão satisfeitos com o seu governo; apenas 16% acreditam ser regular e outros 3% julgam como sendo negativo. 

Outro trunfo dos mais importantes de Campos se chama Lula. No estado onde nasceu, o presidente tem a maioria do eleitorado, inclusive na capital. No segundo turno das eleições de 2022, Lula só perdeu para Bolsonaro em uma cidade de Pernambuco (Santa Cruz do Capibaribe). No estado, Lula teve 67% dos votos, contra 33% de Bolsonaro. No Recife, a preferência foi de 56% a 43%, respectivamente. 

O favoritismo do presidente na capital pode ser medido, ainda, pelo grau de aceitação popular ao nome por ele apoiado. Segundo pesquisa Datafolha de agosto, 36% dizem que votariam com certeza em um candidato apoiado por Lula, enquanto 32% dizem o contrário. 

Já no caso de Bolsonaro, a correlação é bastante negativa: dois terços dos eleitores, cerca de 64%, dizem que não votariam de jeito nenhum em um candidato apoiado por ele, contra 17% que votariam com certeza. 

Nesta semana, o senador pelo estado, Humberto Costa (PT), anunciou que em breve, Lula deverá estar presente em ato de campanha de Campos, o que pode turbinar ainda mais o favoritismo do jovem prefeito. 

Frente Popular

Outro ponto forte da chapa de Campos é a sustentação conferida por uma ampla gama de partidos que formam a coligação Frente Popular do Recife. Além do PSB, do vice-presidente Geraldo Alckmin, estão com ele a Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV), União Brasil, Republicanos, MDB, Solidariedade, Avante, DC, Agir e PMB.

A configuração da Frente Popular garantiu um apoio robusto e também um bom tempo de televisão para a propaganda eleitoral. O candidato conta quatro minutos e 25 segundos, quase o dobro de Daniel Coelho (PSD). E, segundo levantamento feito pelo site Poder 360 em julho, Campos é o prefeito de capital mais popular nas redes, com 2,9 milhões de seguidores, o que também impulsiona fortemente a candidatura.

Vale destacar, nessa gama de apoios, que o PCdoB, partido do seu candidato a vice, Victor Marques, tem forte tradição no estado. Para citar alguns exemplos, Luciana Santos — presidenta nacional do partido e ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação — e o deputado Renildo Calheiros foram prefeitos de Olinda por mais de um mandato e deputados federais. Luciana também foi vice-governadora de Paulo Câmara e secretária C&T. 

O partido também já teve o médico Luciano Siqueira como vice-prefeito do Recife por vários anos e, atualmente, conta com a escritora, vencedora do prêmio Jabuti de 2020, Cida Pedrosa, como vereadora na Câmara recifense, e com o deputado estadual João Paulo Costa, entre outros nomes pelo estado, onde atualmente tem mais de cem candidaturas. 

“João tem feito um grande trabalho como prefeito, não temos dúvida de que ele precisa seguir cuidando da nossa gente e fazendo do Recife um lugar cada vez melhor para se viver. E ele pode contar com o PCdoB, com a excelência do nosso time de candidatos a vereador e vereadora para fortalecer e ajudar nessa jornada”, disse Luciana Santos, durante a convenção que oficializou a candidatura de Campos.

Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, a situação do prefeito Eduardo Paes (PSD) também é bastante confortável. O fato de Jair Bolsonaro ter construído sua carreira política na cidade antes de ser presidente e da forte influência local de sua família, seu pupilo, Alexandre Ramagem (PL), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e atual deputado federal, não conseguiu herdar automaticamente a preferência da maioria dos eleitores da extrema direita.

Investigado pelo esquema de arapongagem que deu origem à “Abin paralela”, usada contra desafetos dos Bolsonaro, Ramagem tem 14% das intenções de voto, contra 58% de Paes, segundo pesquisa Real Time Big Data divulgada nesta terça-feira (3). O terceiro é o deputado Tarcísio Mota (PSOL), que soma 8%. 

Outra sondagem recente reforça o cenário: na semana passada, o instituto Quaest mostrou que Paes avançou 11% em relação ao levantamento anterior, tendo 60% da preferência dos cariocas, contra 9% de Ramagem e 5% de Tarcísio.

Prefeito pela terceira vez — seus dois primeiros mandatos foram entre 2009 e 2017 —, Paes conta, ainda, com elevado nível de aceitação no que diz respeito ao seu governo. De acordo com pesquisa Datafolha divulgada no final de agosto, sua gestão tem 45% de avaliação ótima ou boa e 16% de ruim ou péssima. Já a Quaest aponta para 51% o índice de satisfeitos, com 34% de regular e 13% de negativo. 

Embora tenha o apoio de Lula e mantenha relação de proximidade com o presidente, Paes tem buscado não azedar os ânimos dos eleitores mais à direita, uma vez que boa parte dos cariocas se identificam com esse campo e uma fatia considerável dos bolsonaristas indica voto nele. 

De acordo com pesquisa Quaest sobre o perfil ideológico dos eleitores do Rio de Janeiro, divulgada no final de agosto, 39% dizem não ter posicionamento, 34% se identificam como sendo de direita e 24% de esquerda. 

No caso dos bolsonaristas, a sondagem revelou que 49% dos que votaram no ex-presidente demonstram preferência por Paes, contra 22% de Ramagem. Dentre os eleitores de Lula, o atual prefeito soma 77% das intenções de voto, enquanto o deputado fica com 1%. 

A coligação de Paes — que tem como vice o ex-secretário da Casa Civil, Eduardo Cavalieri (PSD) — também reúne uma ampla gama de partidos de diferentes espectros políticos. Além do PSD, fazem parte da aliança o Podemos, PRD, DC, Agir, Solidariedade, Avante, PSB e a Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV). 

Paes tem tempo de tevê ligeiramente menor do que Ramagem, 3min26 contra 3min28, além de 28 inserções ante 29. Por outro lado, o prefeito é o líder em popularidade nas redes entre os postulantes à prefeitura. Segundo a Quaest, ele tem um Índice de Popularidade Digital (IPD) — que vai de zero a 100 — de quase 74 pontos, contra 61 de Ramagem e 43 de Tarcísio. 

Outro levantamento, feito pela consultoria Bytes a pedido do jornal Valor Econômico, apontou que Paes figura entre os prefeitos de capital com mais seguidores nas redes sociais. Ele é o segundo colocado, com mais de 1,7 milhão de seguidores, principalmente no X, número que corresponde a 15% do universo analisado, perdendo apenas para João Campos.

Embora não se coloque abertamente nessa posição, Paes é o nome capaz de derrotar a extrema direita numa das mais importantes cidades do país e berço político de Bolsonaro, sua principal liderança. Consolidar a derrota desse segmento, portanto, é passo fundamental para os rumos de 2026. 

Nota do PCdoB carioca divulgada em julho, quando decidiu pelo apoio a Paes, explicita o caráter estratégico dessa aliança. A candidatura de Paes, aponta, “aglutina as principais forças de sustentação do governo Lula no Rio de Janeiro”. E completa: “o grande desafio dos comunistas no pleito eleitoral de 2024 é derrotar o bolsonarismo e a extrema direita no Rio de Janeiro, abrindo assim caminho para uma nova vitória da frente ampla democrática em 2026”.