Premiê trabalhista Keir Starmer foi eleito para "iniciar a mudança", mas aderiu ao arrocho neoliberal | Foto: Justin Tallis/AFP

Com o inverno rigoroso se aproximando, o primeiro-ministro trabalhista Keir Starmer, que se elegeu prometendo rever a política de austeridade dos conservadores, em um ato de estelionato eleitoral e sem ter falado nisso durante a campanha, aprovou no parlamento inglês o corte do subsídio de inverno, que atualmente beneficia 11,4 milhões de idosos, e que será substituído por um “vale-cobertor bem fino”, que deverá atingir no máximo 1,4 milhão de idosos “mais carentes”.

O vale de aquecimento no inverno consistia em uma ajuda anual entre 200 e 300 libras esterlinas para a aquisição de óleo de calefação, para ninguém passar frio. Assim, 10 milhões de britânicos perdem o subsídio para pagar pelo aquecimento da casa no inverno que, aliás, foi instituído em 1997 pelo então ministro da economia (‘Chanceler do Tesouro’) Gordon Brown, trabalhista por sinal.

O corte do subsídio para o aquecimento foi aprovado por 348 a 228 na terça-feira; 52 deputados trabalhistas se abstiveram e apenas 1 votou contra.

Registre-se que a inflação da energia foi a principal causa da perda de poder aquisitivo da população em geral, depois que os europeus aderiram às sanções contra a Rússia e bloquearam o gás russo barato, em meio à guerra por procuração da Otan contra a Rússia na Ucrânia.

Sir Starmer alegou, cinicamente, que se tratou de uma “decisão difícil”, tomada por ter encontrado os cofres públicos “esvaziados pelos conservadores”.

A ministra da economia Rachel Reeves, disse que o corte economizaria £ 1,4 bilhão para o Tesouro este ano e alegou que há um “buraco negro orçamentário” de £ 22 bilhões.

O único parlamentar trabalhista a votar pela rejeição do corte, Jon Trickett, disse que o governo deveria “procurar aumentar as receitas através dos mais ricos da sociedade, não dos aposentados da classe trabalhadora”.

Ele disse que temia que isso levasse mais idosos a cair na pobreza durante o que ele previu que seria um inverno “extremamente difícil” para seus eleitores em West Yorkshire. “Depois de anos de lucro obsceno por parte das empresas de energia, elas estão aumentando as contas mais uma vez”, acrescentou.

O ex-lider trabalhista Jeremy Corbyn, que se reelegeu como independente depois de ter legenda negada pelo partido, denunciou a opção do premiê pela austeridade. Ele afirmou que “ninguém será enganado pelas tentativas de fingir arrependimento por decisões cruéis que não precisam tomar.”

“Cortar o subsídio de combustível de inverno não é uma escolha difícil”, disse Jeremy Corbyn. “É a escolha errada – e não seremos enganados”.

“[Starmer] obteve permissão dos conservadores para reutilizar seus slogans de marca registrada?”, ironizou Corbyn, em um artigo de opinião no Tribune. Sob o título “A austeridade é a escolha do Partido Trabalhista”, Corbyn denunciou que “é surpreendente ouvir ministros do governo tentando jogar areia nos olhos do público. O governo sabe que há uma gama de opções disponíveis para eles. Eles poderiam introduzir impostos sobre a riqueza para arrecadar mais de £ 10 bilhões. Eles poderiam parar de desperdiçar dinheiro público em contratos privados.”

Eles – continuou Corbyn – poderiam lançar uma redistribuição fundamental de poder, trazendo água e energia para a propriedade pública total. “Em vez disso, eles optaram por tirar recursos de pessoas a quem foi prometido que as coisas mudariam. Há muito dinheiro, está apenas nas mãos erradas”.

Fonte: Papiro