Emissão de gases por incêndios em 3 meses na Amazônia equivale a 1 ano da Noruega
Nos meses de junho a agosto, as queimadas na Amazônia resultaram em uma emissão de gases do efeito estufa 60% superior ao que se registrou no mesmo período de 2023, com o lançamento de 31,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO²) no ar, conforme pesquisa feita pelo Observatório do Clima. A quantidade equivale ao que foi emitido pela Noruega em um ano (32,5 milhões de toneladas).
Ainda de acordo com o levantamento, dos 2,4 milhões de hectares incendiados no período de junho a agosto, 700 mil correspondiam a florestas, cuja queima emitiu 12,7 milhões de toneladas de CO² equivalente.
Segundo pesquisadores envolvidos com o estudo, o pior ainda está por vir na medição de setembro, devido à intensificação das queimadas em meio ao clima seco resultante da pior estiagem vivida pelo país em 75 anos. Conforme o Cemaden, 58% do território nacional é afetado pela seca e em cerca de um terço do país, o cenário é de seca severa.
Saúde afetada
Além dos graves efeitos para a fauna e a flora em vários biomas brasileiros, a fumaça decorrente dos incêndios prejudica sensivelmente a saúde da população. Do ponto de vista mais imediato, os impactos podem ser verificados no número de internações devido a problemas respiratórios provocados pela fumaça.
No período de 1º de janeiro a 14 de setembro, foram registrados mais de 3,5 mil casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) somente no estado do Amazonas, cuja piora está associada à poluição contida no ar. Ao todo, houve 49 óbitos. Crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias pré-existentes são as mais vulneráveis a doenças desse tipo.
No longo prazo, a situação também é preocupante, inclusive para casos de câncer nas próximas décadas. “Se a gente não prevenir essas questões hoje, a gente corre risco de ter um aumento dos tipos câncer relacionados ao sistema respiratório em um futuro próximo”, alertou o epidemiologista Ubirani Otero, chefe da Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer do Instituto Nacional de Câncer (Inca), em entrevista à Agência Brasil.
Aliança criminosa
As queimadas que afligem grande parte do território nacional levou o governo federal a rever sua atuação a fim de intensificar medidas para acabar com os focos, punir responsáveis pelos incêndios intencionais e prevenir novas ocorrências.
“A disposição do governo federal é de não ficar fazendo jogo de empurra. Nós queremos trabalhar em conjunto. Estamos trabalhando dentro das áreas estaduais, dentro das terras indígenas, dentro de propriedades privadas e em cooperação com o Corpo de Bombeiros”, declarou a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudança do Clima, no programa Bom Dia Ministra, do Canal Gov, nesta terça-feira (17).
Com relação à possibilidade de haver criminosos incendiando áreas verdes de maneira coordenada pelo país, Marina salientou haver “uma aliança criminosa entre ideologias políticas que querem negar a questão da mudança do clima”.
Além disso, avaliou que atualmente as penas previstas para crimes ambientes como este são demasiadamente brandas. “Porque a pena de dois a quatro anos de prisão é leve e quando a pena é leve, às vezes ela é transformada em algum tipo de pena alternativa e ainda há atitude de alguns juízes que relaxam completamente essa pena”, ponderou.
A ministra pontuou, ainda, que a investigação sobre esse tipo de crime é complexa, considerando a rapidez de propagação do fogo e os vários focos espalhados pelo país. Mas, reforçou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou em contato com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, “para que haja suporte legal para que essa investigação possa acontecer com mais velocidade e temos toda uma articulação que vem sendo feita pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski”.
Até o momento, a Polícia Federal já instaurou 52 inquéritos para apurar os crimes.
Com agências